Brasil vs Venezuela: uma questão de (falta de) lealdade

Quantum Bird – 16 de agosto de 2024

De todos os aspectos que definem a estatura ética e moral de um político e seu legado, talvez a Lealdade seja aquele mais determinante, pois, em geral, é a capacidade de exercer lealdade que faz um político confiável e o torna útil nas horas mais difíceis. A Lealdade se manifesta em diversos níveis: ao eleitorado, aos parceiros de caminhada e aos companheiros de campo ideológico, ou seja, aqueles que não barganham apoio para extrair vantagens em momentos de dificuldade.

Ontem, o presidente Lula disse que o Brasil não reconhecerá a vitória de Nicolás Maduro, indicando, em seguida, a necessidade de novas eleições na Venezuela. A decisão veio antes da conclusão dos processos de julgamento dos recursos em curso nas cortes venezuelanas. Nossa leitura geopolítica do posicionamento brasileiro já foi expressa aqui e aqui. Hoje gostaríamos de comentar este desenvolvimento de uma perspectiva um pouco diferente.

Não existem registros de ataques à Lula, ou Dilma Rousseff, por Hugo Chaves ou Nicolás Maduro. Muito pelo contrário. Chaves e Maduro sempre estiveram na vanguarda da defesa da soberania e democracia na América Latina. De fato. Maduro foi o mais vocal defensor de Dilma Rousseff na América do Sul, e denunciou sem descanso o golpe de estado branco que levou ao seu impedimento como presidente do Brasil em 2016. Maduro também sempre denunciou a prisão ilegal de Lula pela Lava-Jato.

Basicamente, não temos registros de Maduro pedindo a Lula, ou Dilma, provas de sua inocência antes de apoiá-los nos inúmeros casos de acusações fraudulentas, lawfare e sabotagem internacional que sempre miraram o Brasil nas administrações do Partido dos Trabalhadores. Tampouco, Chaves ou Maduro interviram na política doméstica brasileira para viabilizar os interesses do imperialismo na região.

Acreditamos que todo militante genuinamente de esquerda — eleitor ou não de Lula — bem como todo brasileiro decente deve — ou pelo menos deveria — estar envergonhado com a deslealdade gráfica demonstrada pelo mandatário brasileiro. Tememos que para estes, as palavras de Lula já não importem mais nada.

Será que o tipo de “liderança na região” que classe dirigente brasileira aspira — Lula e Celso Amorim inclusos – é análoga àquela que o capitão-do-mato exercia no canavial?

6 Comments

  1. Fisher Tiger said:

    Vou me atentar a última frase pra ligar ao comentário. Beto Almeida, em entrevista ao 247, explicou o caso da Nicarágua. O embaixador brasileiro no país, ao que tudo indica é bolsonarista, saiu do país por conta própria, não foi expulso. Depois plantou a notícia na Folha que foi e levou o governo a expulsar a embaixadora da Nicarágua no Brasil. O Itamaraty nem se deu o trabalho de entrar em contato com o governo nicaraguense para confirmar o que ocorreu de fato. Expulsamos a embaixadora da Nicarágua via notícia plantada em jornal golpista.
    A sucessão de decisões que vão de encontro com a agenda contra hegemônica por parte do governo petucano coloca o Brasil num limbo. E a história costuma cobrar caro tais vacilos.
    https://www.youtube.com/watch?v=QjbrEcMtRks

    20 August, 2024
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  2. […] Quantum BirdOf all the aspects that define the ethical and moral stature of a politician and his or her legacy, Loyalty is perhaps the most decisive because, in general, it is the ability to exercise loyalty that makes a politician trustworthy and useful in the most difficult of times. Loyalty manifests itself on several levels: to the electorate, to one’s partners on the road and to one’s companions in the ideological camp, i.e. those who don’t bargain for support in order to extract advantages in times of difficulty. […]

    19 August, 2024
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  3. José Gomes said:

    Calma, gente, há muita coisa que não sabemos. Lula é um conciliador, é verdade, e também é nosso salvador, porque se não fosse ele seria o fascista de novo. Ninguém espere de Lula ser um revolucionário como Lênin (Nem há a menor condição de revolução no Brasil -Metade do povo é fascista e apoia fascista, a outra metade não sabe de nada-). Não sabemos o que o império disse para Lula, nem sabemos o que Amorim conversou com Maduro, a mando de Lula. E se o combinado for: “vamos fingir que não reconhecemos você como eleito, Maduro, mas em compensação trabalharemos para que não haja nenhuma intervenção externa, militar, golpista, armada sobre a Venezuela”. Isso é possível, estamos tratando com um império delinquente acostumado a derrubar governos, ainda mais um governo sem apoio legislativo como o de Lula. Olhem o poder do fascismo: agora estão agindo para derrubar o STF. Não é tão simples como pensamos.

    17 August, 2024
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  4. António Costa Neto said:

    Em alguns comentários meus anteriores à atuação política do Brasil enquanto “suposta” nação latino-americana soberana que deveria defender interesses próprios face aos interesses da Europa e dos EUA, que ele se portava como uma colónia de europeus no continente americano e, portanto a comparação com o” capitão-do-mato” mencionada nesta análise do comportamento da diplomacia do Itamarity é a mais apropriada para o caso. Poderei arriscar que Lula, como vulgarmente se diria em jargão popular: “deixou-se agarrar pelos tom…es”.

    16 August, 2024
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  5. Antonio Francisco Martins said:

    Aos 70 anos, tenho sentido muita raiva de mim mesmo por ter defendido esse senhor durante toda minha vida, filiado que sou ao diretorio municipal do PT de Cuiabá. Sinto-me ultajado por ter votado 6 vezes nesse traidor demagogo. Como pude ser tão otário?

    16 August, 2024
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  6. Marco said:

    Vergonha é a palavra mais correta, infelizmente, para expressar o momento histórico que hoje atravessamos. Juntas podemos colocar, tristeza, depressão, lamento, etc., etc., etc.

    16 August, 2024
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