Quantum Bird – 14 de agosto de 2024
De acordo com S. Glazyev, em seu ensaio seminal “Sanções e Soberania”, didaticamente discutido nas excelentes entrevistas aqui e aqui, a oportunidade do século consistiria na possibilidade de liberar-se definitivamente do assédio imperialista do Ocidente Coletivo através da construção de uma ordem mundial multipolar baseada no exercício da soberania e em arranjos multilaterais ganha-ganha. A jornada rumo à multipolaridade é complexa e impõe algumas tarefas árduas, como a formulação de arquitetura e instrumentos financeiros adequados ao crescimento econômico e à redistribuição de renda, idealmente imunes ao do dólar – principal arma no arsenal do Hegemon. Impõe também a necessidade de formular novos fóruns e entidades multilaterais, sem os vícios daquelas existentes, que foram largamente desenhadas e impostas pelo Hegemon, em benefício próprio, após a Segunda Grande Guerra.
Adicionalmente, a operação no ambiente da multipolaridade pressupõe ainda que cada país busque a capacidade de articular seus próprios interesses de uma perspectiva soberana, mas sem ignorar ou ofender os interesses dos países parceiros. E isto inclui, obviamente, o respeito absoluto à política doméstica alheia.
Dito isto, relembramos que desde a inauguração do governo atual brasileiro temos apontado como o Brasil tem seguido uma política externa errática, que oscila entre uma suposta ambiguidade estratégica obsoleta e uma representação, ao estilo câmara de eco, de certos interesses do ocidente coletivo. O nosso foco no governo atual se justifica porque foi sob os primeiros mandatos de Lula, no começo da década de 2000, que o Brasil se tornou um membro fundador dos BRICS e um dos propulsores do G20. E é exatamente este ponto que motiva nossa primeira pergunta.
Existe, ou já existiu, interesse sincero do Brasil nos BRICS e na multipolaridade?
A dúvida tem fundamento, pois, a despeito de toda retórica e propaganda empolgada sobre os BRICS e a multipolaridade, que o mandatário brasileiro exerce ao redor do mundo, para audiência internacional, as atitudes brasileiras vis a vis seus parceiros do Sul Global parecem sugerir que não. Simplesmente, o engajamento brasileiro parece insincero, e seguramente é inconsequente.
O histórico de evidências tornou-se exuberante demais para ignorar. A lista é longa, mas alguns episódios se destacam. Primeiro tivemos o posicionamento bizarro das autoridades brasileiras em relação à Operação Militar Especial Russa na Ucrânia, na qual Lula emulou Montezuma. Em seguida, outra bizarrice, decorada com tons de covardia, sobre o genocídio em curso dos palestinos da Faixa de Gaza por Israel. E mais recentemente, temos acompanhado a instância deplorável, e irresponsável, do governo brasileiro sobre as eleições na Venezuela, em uma intromissão gráfica na política doméstica daquele país, que só tem servido para legitimar a posição imperialista dos EUA e seus vassalos europeus e debilitar ulteriormente a estatura da diplomacia brasileira.
Aliás, ainda sobre a crise em curso de resolução na Venezuela, acabamos de saber que existem discussões nos círculos do governo, lideradas pelo assessor para assuntos internacionais da presidência, Celso Amorim, para condicionar o reconhecimento do governo venezuelano pelo Brasil à realização de novas eleições naquele país. Independentemente da formalização ou não dessa proposta, o esforço para evitar a resolução doméstica da crise e o desejo brasileiro de promover uma mudança de regime na Venezuela, em congruência com os interesses dos EUA, estão agora completamente expostos. Ademais, ao se preocupar com índices de popularidade, corroborando indiretamente as narrativas da mídia hegemônica sobre a Venezuela, Lula perde a oportunidade de elevar a sua estatura e educar politicamente a população brasileira, além de alienar ainda mais a militância remanescente de esquerda.
Neste ponto, convém colocar uma pergunta adicional. Será que a liderança brasileira na América Latina não passa de um mito fabricado nos corredores do Itamaraty?
Em outra notícia, temos a indicação de um embaixador brasileiro (diplomata de primeira classe) para Taipé, em Taiwan, e a omissão da vinculação daquela missão diplomática à embaixada brasileira em Tóquio. As nuances do desenvolvimento não passaram despercebidas, e podem ser interpretadas como a elevação do status da missão diplomática ao mesmo nível daquela em Pequim, o que indicaria a percepção de Taiwan, pelas autoridades brasileiras, como uma entidade política independente. Ou seja, um potencial desgaste diplomático com um parceiro dos BRICS, que por acaso é a maior potência econômica do mundo e um dos maiores parceiros comerciais brasileiros. Além disso, se confirmado, seria um novo caso de emulação pelo governo brasileiro de outra característica da política externa estadunidense.
Considerando tudo exposto anteriormente, seria prematuro concluir que o Brasil está lentamente abdicando de seu engajamento nos BRICS e na multipolaridade, enquanto reafirma seu status quo colonial no campo do ocidente coletivo?
Fiz essa pergunta a um caríssimo amigo, amplamente conhecido e lido globalmente. Sua resposta:
Prepare-se para KAMALULA !
Atualização 14/08/2024: Acabamos de saber que o México se retirou do grupo de “mediação” sobre a Venezuela, que a partir de agora é formado apenas por Brasil e Colômbia. A contagem regressiva para saber quem será deixado segurando a sacola… façam suas apostas.
[…] By Quantum Bird […]
Versão em inglês, traduzido por Internationalist 360
Este texto foi divulgado pelo Brasil 247 como sendo de autoria do Pepe Escobar:
https://www.brasil247.com/blog/o-brasil-se-organiza-para-manter-seu-status-quo
Acho que vale um toque lá…
Aparentemente foi retirado do ar, a url leva a uma página genérica. Confirma?
Seja como for, muito obrigado. Não seria a primeira vez que fazem isso…
Sim, tiraram do ar. Também dei um toque nos comentários do artigo lá. Pusta comida de bola! E tinha um monte de comentário elogiando ou criticando a ‘posição’ do Pepe Escobar no artigo 🤣🤣🤣🤣
Lula fundador dos BRICS está irreconhecível neste terceiro tempo.
Joga para plateia sem nenhuma noção do que seja soberania. De tabela Amorim deixa a desejar. Dá um desânimo…
Temo que Lula tenha sido cooptado enquanto se hospedava em Curitiba. Talvez pela Janja que poderia ser agente da CIA & afins? Dá para especular muito neste cenário.
O artigo “Então esse é o custo da liberdade de Lula?” (https://sakerlatam.blog/entao-esse-e-o-custo-da-liberdade-de-lula/) aponta com precisão isso.
Outra coisa, não vemos nada de concreto neste governo Lula que concorra para aproximar nosso povo brasileiro à Rússia e China, líderes mundiais futuros (se não já) econômica e tecnologicamente. Onde está um simples meio de pagamento como cartão de crédito etc. que permitiria um russo vir gastar aqui ou nós brasileiros visitar a Rússia sem precisar levar papel-moeda no bolso? Cadê o voo direto do Brasil à Rússia? Teríamos muitos rublos entrando pelo turismo. Cadê o Banco do Brasil? Trabalhando para seus acionistas estrangeiro russófobos?
Felizmente Dilma está de saída do banco BRICS e esperamos finalmente alguém de fora implemente soluções neste sentido.
Por enquanto ficamos com o prazer de nossas elites ignorantes que é só mesmo ir à Disney.
QB veja com carinho o que disse Eduardo Marinho na posição exata do vídeo da ‘live’, que vi “ao vivo” pela TVT, sobre Lula e a Venezuela, penso que Eduardo foi fulcral e justo da forma como viu Lula: alguém que veio do meio da miséria, e por isso é solidário com o povo, mas que nada pode fazer diante de uma estrutura totalmente traidora dos interesses do povo.
Live do Conde, Eduardo Marinho fala de Lula e a Venezuela.
https://youtu.be/5DheviHA65w?t=2772
Seria cômico se não fosse trágico, os comentários que tentam depreciar o Dr. Lula, (36 títulos de doutor honoris causa pelo mundo), e aí chega alguns desconhecendo a ‘terra arrasada’ que herdou dois fascistas!
Entra no YouTube e cheque no canal lula, e confira a revolução que o Dr. Está foda!empreendendo.
Isso é somente 1 ano e 1/2 de governo.
O BLIC’S pode esperar o homem é ‘foda’!
Portanto, aos pessimistas de plantão, aguardem!
While I can speak and read Portugese, my writing skills are not at your level, so, I’ll reply in English.
Lula is acting like Modi from India and Erdogan from Turkey……always trying to sit on two chairs.
Brasilian trade with Russia and China is ar record levels of wheat, diesel, and chicken, amongst other things. What politicians say and do are always two different t things.
É preciso levar em conta os problemas domésticos que o presidente Lula tem que encarar.
O banco central, os juros altos, um congresso de maioria bolsonarista( e que podem voltar a qualquer momento se tiverem uma brecha) . Sem mencionar os esforços contínuos de políticos tentando desestabilizar e denegrir o judiciário.
O Brasil é BRICs, mas não na mesma altura da China, Iran e Russia.. Cada um com a estatura correspondente ao poder que tem.
O Brasil é esta jaboticaba . Do ponto de vista de um Civilizational State o Brasil não tem lugar entre os BRICs. e, se encontra neste meio , entre Rússia , China , Índia, Irã e etc. mais ou menos como a África do Sul , boiando como merda na água. Se bem que África do Sul tenha uma postura e cultura mais BRICs que zona verde e amarelo. Já imaginaram a distância entre um Lula, uma Dilma , um Temer ou um Bolsonaro diante de um Putin , Narenda Modi e o Xi? Já pararam para imaginar a diferença entre um Brasil, país sem memória passada e a civilização como a iraniana ? Que tal comparar os 50 séculos de história da civilização chinesa com os 5 séculos de nossa colônia tupiniquim. A distância é desproporcional ! E não só uma questão de números em livros de história. Não sei como fazem para dialogarem se é que exista algo semelhante a um diálogo entre representantes do Brasil com aqueles representantes destes estados civilizacionais . Mas nada disso seria um problema se o Brasil possuísse uma classe política honesta e pragmática, mas não, tudo vai com o jeitinho brasileiro, que é lembrado fora por duas coisas absolutamente insignificantes e mais uma que beira a comicidade. O Brasil é considerado o país do futebol e carnaval. Duas insignificâncias geopolíticas e para terminar, pela bunda de suas mulheres, que para a massa dos estrangeiros é algo disponível 24/7 às sanhas de qualquer gringo que passe por lá. Os países que movem o BRICs estão planejando o futuro de suas civilizações, o Brasil , com seu governo atual está preocupado em ser politicamente correto , em mandar sempre virtue-signalling para os patrões ocidentais do wokeism. Interessante é que a maior parte da população é conservadora e apoiaria bem uma Brasil mais BRICs, se entendessem um mínimo do que se trata . Todavia, a classe política, principalmente de esquerda é woke, e não se sente à vontade em casa em meio a planejamento e atuação civilizacionais. Somos bons em carnaval, futebol, e bunda – enfim sacanagem. Já imaginaram o termo “civilização brasileira” ? Não cola . Querendo ou não o Brasil é isso, um país que se pode definir bem em uma de seus pratos mais difíceis de explicar para um estrangeiro: a farofa.
Os Estados Unidos estão gastando (ou investindo) uns US$ 600 milhões na nova sede do Consulado no Rio de Janeiro. Uma nova base civil (CIA, DEA, USAID, NED…) nas Américas. O que será que será?
O Lula I e II enganava mais. Esse de hoje está dando nosso couro aos ianques pra se manter ‘livre’. É vergonhosa essa situação, Brasil sendo correia de transmissão dos interesses do império independente do governo.
Perfeito…