O fim da história colonial: o reset está perto, mas como?

Jochen Mitschka – 20 de outubro de 2022 -[Gentilmente traduzido e enviado por Dakini]

Um ponto de vista de Jochen Mitschka.

O colonialismo ainda não foi superado. Como já apontei com bastante frequência em posts anteriores, os países coloniais ainda estão tentando manter as ex-colônias dependentes, dominar e impedir seu desenvolvimento com ajuda aparente. No entanto, que essa fase será superada pelo desenvolvimento da multipolaridade é indicado pelo fato dos países da OPEP+ se posicionaram unanimemente contra a política de sanções e a guerra econômica como aliados de fato da Rússia. A votação na ONU, na qual a ação militar da Rússia é condenada, não pode disfarçar isso (os EUA impediram uma votação secreta). Portanto, as chances são grandes que o esperado colapso do sistema financeiro dominado pelo Ocidente, como previsto indiretamente pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), não traga o resultado desejado pelos oligarcas ocidentais.

Oriente Médio polarizado, África subdesenvolvida.

Neste ponto, não quero entrar na luta vitoriosa contra o nacionalismo árabe pelos países coloniais, que em breve pode estar chegando ao fim, mas sim no impedimento de um continente ao desenvolvimento, a África.

A maioria deve ter uma ideia do que é o livro “Confissões de um assassino econômico’ comprova, nomeadamente, a forma como as grandes potências ocidentais, sobretudo os EUA, mergulham os países em desenvolvimento em dívidas, tornando-os nfinitamente dependentes, e impedem efetivamente que a partir dos seus próprios recursos de matérias-primas seja gerado valor.

Em contraste, a China e o Banco de Desenvolvimento dos BRICS+ até agora não vincularam condições à reestruturação da dívida e nem as pioraram, caso ocorressem problemas com tal dívida, do contrário melhoraram as condições. Mas eu já escrevi o suficiente sobre isso. A UNCTAD está agora confirmando com paráfrases e listas diplomáticas o que os “teóricos da conspiração” vêm dizendo há muito tempo. A grande analista Dagmar Henn certa vez explicou o relatório em artigos de uma forma que até o leitor mais desinformado pode entendê-lo. Portanto, gostaria agora de fazer uso de seu artigo (1).

Ela ressalta que o relatório observa como as medidas tomadas pelos países desenvolvidos durante a crise do Corona, que também foi imposta aos países em desenvolvimento, tiveram um impacto pior do que a crise bancária em setembro de 2008, quando após vários colapsos de bancos, o comércio por quase três meses havia parado. Agora, como Pepe Escobar já suspeitou, a tentativa de manter os países do Sul e do Leste global submissos, ao assumirem dívidas para comprar vacinas, fracassou. Mas os efeitos das medidas atingiram esses países com muito mais força do que os países industrializados. O relatório da UNCTAD afirma:

“Conforme descrito no relatório do ano passado, a pandemia causou maiores danos econômicos nos países em desenvolvimento do que a crise do mercado financeiro.”

O que isso quer dizer provavelmente não é a “pandemia”, mas as medidas governamentais durante a crise do Corona. Dagmar Henn lembra que o peso da dívida cresceu tanto porque o estabelecimento do sistema petrodólar e a fase de juros altos nos EUA, que visava combater a inflação ali, fizeram o dólar disparar e as moedas locais não aguentaram.

A autora explica que já a crise bancária conseguiu empurrar um problema dos EUA para a América Latina. Como resultado, os países tornaram-se dependentes do Banco Mundial e do FMI por décadas e, portanto, também de suas condições e exigências. (5)

O que aconteceu naquela época, continua Dagmar Henn, hoje está sendo gerado por uma combinação de medidas pandêmicas e aumento dos preços das commodities. Ela ressalta que o relatório detecta uma inflação de dois dígitos em julho em 69 países, apenas a Rússia tem se mantido relativamente estável, onde até a Alemanha chegou a 10% e, diga-se ainda que a China deve ser excluída.

Henn então cita o relatório e traduz o texto diplomaticamente disfarçado, dizendo que as corporações dominantes aproveitaram a oportunidade para aumentar massivamente seus preços. O que também pôde ser observado no decorrer da campanha de vacinação. Segundo a UNCTAD, os aumentos drásticos dos preços da energia se devem principalmente à especulação.

Com outra citação, ela explica que os aumentos de juros pelos bancos centrais intensificaram a recessão que já havia começado, o que significa que os aumentos salariais, que na verdade deveriam compensar a inflação, eram em grande parte inexequíveis. Então, novamente, os trabalhadores arcarão com o peso da consolidação.

A autora lamenta ainda a falta de investimento, que não só leva à degeneração da infra-estrutura, como também sobrecarrega a economia nacional. Os 100 bilhões para armamentos e, como ela diz, os “pacotes de resgate” para amortecer a explosão dos custos de energia”, são gastos monetários que não geram nenhum valor real e, portanto, também contribuem para o produto interno com um valor igual ao gasto, em caso positivo, mas com muito menos, em caso desfavorável, enquanto os investimentos reais são sempre refletidos com um fator de mais de 1.” (1)

As promessas feitas durante a crise de 2008 para controlar melhor os bancos não foram cumpridas. Os controles não foram seriamente intensificados, os bancos sombra não foram eliminados ou a alta alavancagem, ou seja, as transações feitas com muito crédito e pouco patrimônio para fins especulativos, não foram proibidas. Além disso, não houve desagregação dos bancos, o que deveria ter reduzido o risco para seus clientes.

Curiosamente, ela observa, o relatório indiretamente sugere que o que é “politicamente inaceitável”, ou seja, controlar preços e margens, é na verdade a política realmente necessária para controlar a situação.

Em seguida, o artigo critica as altas de juros iniciadas pelos bancos centrais dos países industrializados, com consequências dramáticas para os países do Sul. Ela cita o relatório: “Essas recomendações de política, juntamente com pedidos de medidas de austeridade para aliviar as preocupações dos investidores por meio de ajuste fiscal, lembram muito as recomendações políticas predominantes do início da década de 1980, e elas se mostraram desastrosas, particularmente para os países em desenvolvimento, em termos de crescimento econômico, desigualdade e pobreza.” (1)

Dagmar Henn fica ainda mais direta e afirma que os aumentos de juros nos principais países do Ocidente garantem que a inflação ali combatida seja simplesmente exportada para os países mais pobres. O que, como foi aprendido na história de 2008, está trazendo de volta e com mais força o controle dos países coloniais em cima de seus colonizados, através de empréstimos e das condições associadas a eles. Para um sistema econômico baseado na exploração, seria a última salvação, diz ela.

No entanto, como observa a autora, o que também enfatizei repetidamente nesta série de podcasts, a situação hoje é diferente de quarenta anos atrás. Hoje existem alternativas ao FMI, Banco Mundial e afins. E é precisamente por isso que esta perigosa disputa geopolítica está ocorrendo.

Além disso, continua o relatório, a crise difere da situação dos anos 1970, pois a participação dos custos de energia nos preços dos produtos caiu e a inflação dos bens duráveis permanece abaixo da de alimentos e energia. Mas o grau de organização da força de trabalho caiu, tornando novamente improvável que os aumentos salariais compensem a inflação. Além disso, tanto os estados quanto as próprias pessoas estão significativamente mais endividadas. As dívidas dos países em desenvolvimento são principalmente em moeda estrangeira e não de longo prazo e, portanto, particularmente arriscadas.

Em vários países do Sul, o ônus do serviço da dívida é de 30 a 40% da receita do governo, no caso da Somália é de 90%, o que é uma das razões para a fome renovada. As políticas neoliberais reduziram a parcela salarial em todo o mundo. Nos países em desenvolvimento, isso era obviamente mais fatível do que nos níveis já baixos dos países em desenvolvimento.

Isso resultou em ganhos que agora de alguma forma precisam ser investidos de forma lucrativa. Nesse ponto, cabe destacar a constante demanda por privatizações. O que nada mais é do que a tentativa de converter em valores reais os imensos lucros dos grandes donos de números de uma conta. Mas o relatório da UNCTAD e Dagmar Henn veem outra implicação importante: O fluxo de lucros “excessivos” em projetos especulativos.

Bancos sombra, especulação e monopólios

Dagmar Henn explica que as promessas feitas durante a crise do mercado financeiro não foram cumpridas. Nunca houve mais especulação do que hoje. E nunca isso foi tão perigoso para a economia global.

O relatório da UNCTAD mais uma vez apontou que a diferença em relação a 1980 também está no sistema bancário paralelo que surgiu. São prestadores de serviços financeiros que criam dinheiro por meio de empréstimos, mas não são controlados pelos bancos centrais. Estes incluem fundos mútuos, corretores de títulos e empresas holding. Além disso, de acordo com Henn, os credores hipotecários cujo colapso desencadeou a crise de 2008 agora fazem parte do sistema bancário paralelo.

A autora então cita dados do relatório mostrando um crescimento impressionante nos investimentos bancários paralelos. Eles representam quase metade de todos os investimentos em dólares americanos. Segundo a autora, lembre-se que após a crise financeira de 2008, os requisitos de capital para os bancos deveriam ser aumentados. Esse fato é contornado através de bancos sombra e especuladores.

Gostaria de acrescentar que, na Alemanha, as pequenas instituições de crédito locais, caixas econômicas e cooperativas bancárias, em sua maioria, saíram relativamente ilesos da crise do mercado financeiro e, como resultado, a Alemanha saiu da crise menos sobrecarregada. Mas foram precisamente aqueles que nunca estiveram endividados que foram particularmente atingidos pelos requisitos conhecidos como Basileia II e Basileia III. Mas tentar destruir pequenos credores regionais é outra história.

De volta ao artigo, que explica depois que as tentativas de capacitar os bancos a fazer negócios por conta própria não foram bem sucedidas. A palavra mágica é “alavanca”. Alavancagem é a relação entre o capital próprio e o capital externo usada em uma transação específica. Explicação simples no anexo. (2)

O problema começa quando o especulador está errado. Enquanto cem euros podem ser convertidos em cem mil euros em caso de lucro, os credores teriam porém em caso de perda, somente 100 euros como garantia.

Henn então questiona se tais ganhos têm algo a ver com a economia real, já que a produção real não se multiplica mil vezes da noite para o dia. No entanto, é claro que as perdas, se acontecerem, podem causar o colapso de todo o sistema em um efeito dominó, o que também aconteceu em 2008.

O principal negócio dos bancos-sombra, continua o artigo, são sobretudo os investimentos de muito curto prazo (às vezes medidos em segundos, nas chamadas negociações de alta frequência) com uma alavancagem muito forte. Eles também investem menos em ações e mais em títulos de opções e derivativos. Após a crise econômica mundial de 1929, tais instrumentos foram banidos por muito tempo; na Alemanha, por exemplo, as opções só reapareceram na década de 1980. Mas enquanto esse mercado especulativo foi efetivamente fechado depois de 1929 e nos EUA, por exemplo, os bancos foram estritamente proibidos de participar de empresas ou fazer operações de bolsa em seu próprio nome até o início dos anos 1970, tais regras deixaram de ser aplicáveis a partir de 2008, explica Dagmar Henn.

Como resultado, a dívida que acabou nos bancos foi assumida pelos estados e, desde então, a criação de dinheiro tem sido executada a toda velocidade através dos bancos centrais comprando títulos do governo. Em outras palavras: o problema que ficou evidente com a crise do mercado financeiro em 2008 nunca foi resolvido, apenas adiado ao recorrer à créditos.

O artigo então explica que as recomendações políticas da UNCTAD estão em completa contradição com as crenças neoliberais, como também foram implementadas na lei de habilitação econômica da SMEI da Comissão da UE. (3)

Se lermos com atenção, veremos parte disso sendo implementada na Rússia, que, entre outras coisas, conseguiu neutralizar os efeitos das sanções ocidentais, mas é claro que aqui é demonizada como “autoritarismo”. É apenas uma prova de que na Rússia os oligarcas estão sob o controle do Estado. Mas voltando ao artigo.

O “freio do preço do gás” não tem nada a ver com as medidas necessárias. Porque o primeiro passo necessário seria, como a UNCTAD colocou tão bem, “reduzir a negociação especulativa nos principais mercados‘, ou seja, dissolver os mercados spot de gás e eletricidade introduzidos pela UE  e voltar a contratos de longo prazo. O que é exigido da Rússia, deve-se acrescentar.

O que está planejado na Alemanha, no entanto, significa apenas deixar intocados os preços especulativos dessas bolsas para subsidiá-los a um nível mais suportável para os consumidores com dinheiro do Estado (ainda quatro vezes o preço do ano passado). O que, em última análise, significa nada mais do que esse dinheiro acabar nas mãos de especuladores nos mercados spot.

O relatório então explica que o andamento das coisas torna improvável que um “mundo melhor” seja alcançado até 2030. Dagmar Henn então pergunta até que ponto tal objetivo já existiu, considerando as consequências, por exemplo, que a “política climática” realmente tem para os países em desenvolvimento. Como o modelo do Sri Lanka mostrou, o cumprimento dessas diretrizes leva diretamente à catástrofe. A proibição de fertilizantes artificiais levou logicamente à fome, e a mudança para energias renováveis causou o colapso do fornecimento de energia; ao mesmo tempo, a dívida aumentou massivamente. Assim como as proibições ao desenvolvimento de depósitos de matérias-primas fósseis, este caso mostra que a “proteção climática” é uma tentativa de prolongar artificialmente as dependências.

Portanto, aqui também está a confirmação da política colonial, como ouvimos na semana passada usando o exemplo da política anti-gasoduto da UE contra a África.

O relatório fornece uma visão muito clara da situação econômica em muitos lugares. Assim é descrito o comportamento das grandes corporações globais após 2008, e ela cita:

“Graças ao seu poder de mercado, eles geraram renda com mais frequência criando escassez do que produzindo bens ou serviços. A proliferação de tal comportamento (…) tem sido acompanhada por evasão fiscal sistemática, incluindo a canalização de lucros através de paraísos fiscais offshore, o crescimento concomitante de fluxos financeiros ilícitos e o uso generalizado de aquisições alavancadas e recompras de ações. Em muitos casos, isso levou a uma desconexão entre grandes corporações nadando em dinheiro e pequenas empresas sem dinheiro, e uma tendência simultânea para mercados ainda mais concentrados.”

Henn aponta, então, que nos países em desenvolvimento isso foi exacerbado pela liberalização prescrita pelo FMI e o consequente entrave ao desenvolvimento industrial, de modo que aumentou a dependência das exportações de matérias-primas como fonte de divisas. O que não acho ter sido totalmente involuntário.

A quantidade de dinheiro nas mãos de grandes corporações e bancos paralelos, continua o artigo, aumentou enormemente durante o Corona. Ao longo de 2020, os principais bancos centrais injetaram um total de US$ 9 trilhões nos mercados financeiros; “aproximadamente nove vezes a quantidade injetada no final de 2008 até o final de 2009.”

Henn explica então: de 2008 a 2009 foi o resgate bancário I. A “crise do euro” foi então o resgate bancário II, porque os déficits governamentais dos países devedores foram o resultado de novos resgates bancários (na Irlanda, por exemplo, outra subsidiária do Deutsche Bank ). Como resultado, o resgate bancário III já estava em andamento durante o Corona, com os valores aumentando de rodada em rodada, e os “pacotes de resgate” que estão sendo montados na Europa para baixar os preços do gás e que acabam nos bolsos dos especuladores provavelmente podem ser vistos como o resgate bancário IV. Pois o verdadeiro alvo desses pacotes não são as famílias, mas os fornecedores de energia, que estão endividados com incontáveis bilhões de opções e entrariam em colapso, então seus bancos… você conhece o jogo, só será repetido mais uma vez.

Henn explica que é normal nas sociedades capitalistas que o dinheiro flua para onde o maior lucro é obtido. Os monopólios ou cartéis de alta tecnologia e farmacêuticos oferecem mais porque prometem os melhores lucros por meio de seu poder (que é o pré-requisito para poder evitar impostos permanentemente) e da extrema diferença entre o valor material de seus produtos e seu preço.

Os lucros extras desses monopólios em particular, que são todos baseados em “propriedade intelectual“, ou seja, em nomes de marcas, patentes, etc., são completamente dependentes de conseguirem aplicá-los. Nos países onde dominam a economia, ou seja, os países centrais do Ocidente, isso não é um problema. Mas no resto do mundo existem apenas dois fatores que podem garantir isso: ou o poder econômico esmagador ou o poder militar.

O Ocidente está perdendo ambos. E o relatório da UNCTAD prova que todas as medidas que deveriam combater a crise, na verdade, pioraram ainda mais esse problema. A falta de investimentos reais e a mudança cada vez mais extrema para esses monopólios, por assim dizer, tiraram chão da produção real.

Por favor, leia no apêndice o que Dagmar Henn explica sobre monopólios, fome e falências estatais e qual é sua conclusão. Vale a pena, mas iria além do formato aqui.

A praga da inflação

Em um artigo no greenleft.org, John Ross mais uma vez deixa claro que os EUA, e não a crise da Ucrânia, são responsáveis pelo tsunami inflacionário que atualmente aflige o mundo.

A causa, segundo a explicação, foi em princípio o aumento desenfreado de dinheiro por meio de empréstimos do governo dos EUA. O déficit orçamentário dos EUA subiu para 26% do produto interno bruto (PIB) e o aumento anual da oferta monetária dos EUA atingiu 27% – ambos os níveis mais altos da história em tempos de paz dos EUA.

Os gastos militares dos EUA, equivalentes a 3,7% do seu PIB, poderiam ser reduzidos sem diminuir o padrão de vida do país. Os EUA, continua o artigo, gastam uma porcentagem maior de seu PIB em saúde do que qualquer outra economia do mundo, mas a expectativa de vida lá é de apenas 77 anos, em comparação com uma média de 83 anos em outros países de alta renda.

Mas o governo não está pensando em reduzir os gastos com armas ou reformar o sistema de saúde. Um corte nos gastos militares dos EUA forçaria um abrandamento de suas políticas militares agressivas no exterior. Uma racionalização do sistema de saúde dos Estados Unidos significaria uma transição para um sistema de saúde público, praticado com mais sucesso em outros países, mas corroeria os lucros das grandes empresas privadas de saúde.

Mas se nada for feito contra esses interesses, então a única alternativa aos cortes de gastos é diminuir o padrão de vida dos trabalhadores, e é preciso acrescentar, exportar a inflação para países mais fracos. Isso é exatamente o que acontece durante a inflação.

Conclusão

Todos os desdobramentos indicam que o momento é de “grande redefinição‘. O colapso do sistema financeiro internacional e um recomeço são iminentes, mas podem não ser tão bem sucedidos quanto os oligarcas ocidentais esperam. Os Estados em desenvolvimento estão se tornando cada vez mais autônomos e não seguem mais as instruções de Washington, e a economia tornou-se muito forte e as alavancas dos países produtores de matérias-primas muito eficazes. Infelizmente, é de se temer que a Alemanha, como vassalo incondicional dos EUA, não dê o salto para um novo sistema financeiro independente de Washington, mas a maior parte do mundo sim.

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  1. https://www.freidenker.org/?p=14408
  2. Dagmar Henn explica de forma mais simples: “Digamos que eu tenha cem euros, faça um empréstimo de outros novecentos euros por esses cem euros, a uma taxa de juros regular, estou particularmente bem informado e compre, digamos, ações da BioNTech um dia antes da UE anunciar um acordo de vacina no valor de centenas de milhões, revendo essas ações no dia seguinte e embolso a diferença menos os juros do empréstimo. Se eu comprar opções sobre essas ações com o dinheiro em vez das próprias ações, ou seja, o direito de comprá-las posteriormente pelo preço de hoje, o valor que estou movimentando continuará aumentando, porque pelo mesmo valor posso deixar que as ações subam de dez a cem vezes. Se eu comprar opções (estes são os chamados “futuros”), minha alavancagem aumenta imensamente.” (1)
  3. “Os políticos devem considerar seriamente cursos de ação alternativos para reduzir a inflação de maneiras socialmente desejáveis, incluindo controles estratégicos de preços de mercado, melhores regras para reduzir o comércio especulativo em mercados-chave, apoio à renda direcionado a grupos vulneráveis e desalavancagem”. (1)
  4. https://www.greenleft.org.au/content/global-inflationary-tsunami-made-us-not-ukraine
  5. “Nos EUA, em 1980, a inflação era de até 15%, e o Fed (Sistema de Reserva Federal dos EUA) para impedir essa inflação elevou as taxas de juros nos país a até 20% (uma política monetária que hoje realmente queira controlar a inflação teria que bater a taxa de juros da época). Isso levou a uma recessão e alto desemprego. Mas as consequências para a América Latina foram muito mais sérias, pois as taxas de juros dos EUA também elevaram as taxas lá. E o que nos EUA foi o início da descida da força de trabalho (em termos reais os salários nunca mais atingiram os valores antes desta fase) levou a que ali se manifestasse a miséria.” (1)

Apêndice:

Dagmar Henn: Monopólios, Fome e Falências Nacionais

“Pelo menos metade da inflação, que está subindo quase em todo o mundo, é, segundo a UNCTAD, resultado de monopólios. Isso desencadeia uma emergência que deve forçá-los a voltar ao controle do FMI. Mas o jogo com falências nacionais e miséria pode falhar desta vez.” (1)

Dagmar Henn, então, justifica sua afirmação dizendo que as previsões de crescimento para o próximo ano apresentadas pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) estão abaixo daquelas feitas pelo BCE, por exemplo, mas se você olhar para as consequências reais da política de sanções, pelo menos para a Europa, se apresentam irrealisticamente favoráveis, porque subestimam a queda de produção real. É claro que isso também se deve ao fato de que ela não pode nomear as consequências devastadoras da política climática no setor de energia. A previsão de inflação também não deve estar correta – mas é claro que ainda não pode incluir os últimos “pacotes de resgate”, que deveriam “ter que” causar um novo aumento inflacionário.

Atualmente, a inflação entre os mercados emergentes é mais alta na Turquia, com mais de 70% e na Argentina, com mais de 60%, seguida pela Nigéria, com 18%. Aqui, também, são os preços das commodities que estão impulsionando a inflação. O índice de preços de commodities do FMI, que representa uma média global de todas as commodities, subiu de 120 para 190 em 2020 e 2022. Para alimentação, houve um aumento de 90 para 130 ao longo desses dois anos.

No entanto, disse Henn, como os ganhos se traduzem em termos reais depende da moeda em que essas compras são feitas – agora a zona do euro está experimentando o que os países em desenvolvimento vivem o tempo todo. Enquanto o preço do petróleo chega a cair algumas vezes (inclusive por conta do declínio da produção industrial), ele continua subindo em termos reais porque as mercadorias são negociadas em dólares e o próprio dólar subiu significativamente em relação ao euro.

O relatório da UNCTAD espera que a pobreza aumente drasticamente em todo o mundo, estimando que o número de pessoas consideradas “pobres” aumentará em 263 milhões. Isso, deve-se acrescentar, enquanto a China vem erradicando a pobreza com sucesso nas últimas décadas. Até porque o Estado, semelhante à Rússia, permite a riqueza, mas a controla e garante que a população se beneficie dela.

Mas voltando ao artigo de Dagmar Henn. Ela escreve que os lucros do monopólio são um dos principais motores da inflação. Ela explica de maneira acessível a todos leitores, que em todos esses mercados onde existem monopólios dominantes, aproveitou-se a oportunidade para simplesmente aumentar os preços. Isso não afeta apenas os EUA ou outros países centrais ocidentais, mas também os países em desenvolvimento, que sofrem ainda mais com isso.

As soluções propostas pela UNCTAD parecem completamente ilusórias, diz Henn. Uma política antitruste que praticamente significa quebrar esses monopólios, maior investimento público, maior renda do trabalho, re-envolvimento dos bancos centrais na política econômica e um novo Bretton Woods simplesmente não são politicamente viáveis no Ocidente. Muito pelo contrário. A tendência no Ocidente é uma ênfase crescente na especulação. E na direção oposta, o que é observável na China e na Rússia, e em breve em outros países do BRICS.

O relatório da UNCTAD afirma que a especulação não comercial no mercado de opções de preço do petróleo está entre 70 e 80%. Isso deixa claro que a “volatilidade avassaladora” dos preços do petróleo se baseia nessa “especulação excessiva”. Mas, na mesma medida, fundos de hedge, bancos de investimento e fundos de pensão aumentaram os preços do trigo, promovendo a fome no mundo.

Henn diz que isso prova que a especulação como motivo de muitos problemas não é mais um boato ou uma teoria da conspiração. Hoje, essas especulações têm um impacto tão forte nos preços quanto mudanças reais na oferta ou na demanda. O relatório contém mais evidências que ela cita.

Além disso, de acordo com Henn, 90% do comércio de grãos está nas mãos de alguns poucos atacadistas e, claro, eles tem interesse em reter seus enormes estoques quando os preços sobem para esperar o preço mais alto possível.

Determinante, no entanto, são aqueles que querem se beneficiar dos problemas dos outros. Assim deve ser entendida a seguinte declaração do relatório da UNCTAD:

“Em abril de 2022 sete em cada dez compradores de contratos futuros de trigo eram firmas de investimento, fundos mútuos, outras instituições financeiras e empresas comerciais que não queriam se assegurar, mas se beneficiar do aumento de preços.”

Em seguida, Dagmar Henn explica que os mercados artificiais de gás e eletricidade estabelecidos pela UE sofrem do mesmo problema. Não só a especulação nesses mercados está levando os preços para muito além da oferta já escassa (também artificialmente, devido a decisões políticas), como também não há mais nenhuma possibilidade direta de controle de preços, uma vez que os fornecedores estão agora na sua maioria privatizados.

As consequências dos desdobramentos para a economia da UE, especialmente na Alemanha, juntamente com os aumentos das taxas de juros pelo Fed (sistema de banco central dos EUA), levam a uma queda constante da taxa de câmbio do euro. Isso torna as importações de energia especialmente mais caras, o que é uma forma de os Estados Unidos repassarem sua própria inflação. Mas as desvantagens para a Europa não são nem de longe tão devastadoras quanto as consequências para os países cujas dívidas são denominadas em moedas estrangeiras e, novamente, principalmente em dólares.

Os dois produtos cujos preços estão subindo de forma particularmente acentuada, alimentos e fontes de energia, são ao mesmo tempo aqueles que simplesmente não podem ser evitados. Surgiu uma situação, diz Henn, em que os países mais pobres têm que comprar os bens cujos preços estão subindo vertiginosamente, mesmo a crédito. Ao mesmo tempo, a taxa de câmbio do dólar está subindo e com ela o peso da dívida. Segundo a UNCTAD, o resultado pode ser uma onda de falências estatais. O que o relatório da UNCTAD não ousa dizer é que esse é exatamente o padrão dos anos 1980, quando a América Latina estava sendo recolonizada.

Dagmar Henn defende que podemos chamar isso de um jogo de pôquer particularmente maligno. E neste contexto, os pacotes de sanções fariam sentido porque encorajam o desenvolvimento de tal crise de inadimplência estatal nos países em desenvolvimento, alguns dos quais já teriam recorrido aos Direitos Especiais de Saque do FMI.

A política climática, a inflação e os pacotes de sanções formam um pacote que juntos representam uma tentativa de empurrar grandes partes do mundo de volta à dependência econômica completa e impedir que se desenvolvam de forma independente.

Isso seria uma catástrofe para os países envolvidos. As pessoas que estão morrendo de fome, em algum lugar da África ou da Ásia, naturalmente não aparecem com tanto destaque na mídia ocidental como os ucranianos. Mas se essa tentativa obter sucesso, disse Henn, custará milhões de vidas.

Henn traduz o que significa o relatório da UNCTAD sobre a evolução dos preços do petróleo: Se os EUA tivessem feito o que queriam e a China e a Índia tivessem aderido às sanções, os preços do petróleo teriam subido ainda mais e as consequências para os países em desenvolvimento dependentes de importações seriam ainda mais graves.

Por fim, a conclusão da autora, que irradia esperança, pelo menos do ponto de vista dos países em desenvolvimento:

“Felizmente, há uma clara oposição a todos esses desdobramentos, que definitivamente podem ser vistos como um ataque geral ao Sul global. O sucesso desse ataque econômico é o verdadeiro saque pelo qual o Ocidente está lutando atualmente em solo ucraniano. As sanções fazem parte desse assalto, e a Rússia e a China estão provando ser os adversários que podem impedir seu sucesso. Não se trata apenas da sobrevivência da Rússia como entidade estatal, ou de não permitir que os recursos russos caiam sob o controle da oligarquia ocidental, trata-se da sobrevivência dos incontáveis milhões que morreriam em uma gigantesca reencenação da crise latino-americana da década de 1980. E, em última análise, sobre libertar a humanidade do poder dessa oligarquia ocidental, que agora está sufocando qualquer tentativa de desenvolvimento, não apenas nos países do Sul, mas também no próprio Ocidente.”

Resposta aos comentários: Pipeline

Comentários sobre o último podcast me mostraram que a parte do artigo sobre o gasoduto africano dava a impressão de que se tratava somente do gasoduto. Não é, obviamente, assim! O gasoduto é apenas o pré-requisito para que as fontes de energia sejam exploradas. No entanto, a UE quer que seja interrompido completamente.

A Namíbia enfrenta um problema semelhante. Sob partes do vasto Parque Nacional de Etosha encontram-se depósitos de petróleo que, se explorados, poderiam catapultar o país para um dos maiores produtores de petróleo da África. Claro, muitos namibianos desejam que o parque nacional não seja tocado. Enquanto outros pressionam para que as fontes sejam exploradas, ressaltando que apenas parte da vasta área será afetada para usar os recursos e finalmente construir o projeto de habitação social há muito planejado para desmantelar a “habitação informal”, que não tem eletricidade nem água e nem esgoto.

No entanto, não pode ser uma decisão dos países colonizadores, em última instância, o que a Namíbia decide fazer. Deve ser o resultado de uma discussão social interna e, idealmente, de um consenso.

Resposta aos comentários: OPEP+

Um comentário sobre o cartel da OPEP+ afirmou que os próprios países em desenvolvimento eram culpados por não controlar sua superpopulação, que não havia culpa hereditária por parte dos países colonizadores e que a OPEP prejudicava particularmente os países pobres.

Bem, essas são as narrativas dos colonizadores. Infelizmente, a realidade é que eles ainda controlam as principais fontes de renda, como a extração de matérias-primas, suas finanças, por exemplo, gerenciadas ou controladas pela França. Especialmente no início, elites locais corruptas foram deliberadamente promovidas e a política desejada foi imposta por meio de assassinatos políticos e chantagem. Sankara e Gaddafi são apenas os nomes mais proeminentes.

Cada vez que um líder na África ameaçou unir o continente e seguir uma política de independência dos países colonizadores, não se economizou em assassinatos e guerras.

Devido às condições do FMI e do Banco Mundial, as fronteiras têm que ser abertas incondicionalmente, o que significa que a indústria local não tem chance de se afirmar contra os avassaladores concorrentes estrangeiros altamente tecnicizados. E depois que a OTAN bombardeou a Líbia, por exemplo, e o país mais rico da África está subitamente em ruínas e não consegue se reerguer, empréstimos amistosos com condições apropriadas naturalmente oferecem uma saída. Ao invés dos causadores do caos, os países ocidentais, pagarem pela reconstrução com reparações.

Não, não existe “dívida hereditária‘, mas simplesmente uma dívida não paga. O desenvolvimento industrial da França, por exemplo, nunca teria sido possível sem o urânio barato das colônias. E há uma dívida que ainda está sendo desconstruida hoje, a saber, a de extrair recursos o mais barato possível para refiná-los nos países industrializados, em vez de permitir que os países produtores de recursos desenvolvam suas próprias indústrias de refino. É exatamente assim que deve ser entendida a tentativa de impedir a exploração de poços de petróleo, a construção de gasodutos e refinarias na África.

Resposta aos comentários: DOOMSDAY

No Ocidente, o uso das “bombas nucleares de Putin” continua a ser discutido, embora o Kremlin constantemente declare sua doutrina nuclear, ou seja, que as armas nucleares só são usadas quando a própria existência da Federação Russa está em risco. E, considerando como a maioria das guerras dos EUA foi justificada, lembremos contra-gosto que os EUA deram à Rússia “ajudas“, após a dissolução da União Soviética, para levar material físsil supérfluo de estoque antigo para os EUA. Este material tem a “impressão digital‘ do produtor.

Mas vejamos novamente como Pepe Escobar descreveu a situação atual em 13 de outubro, enquanto estudiosos ocidentais afirmam que a Rússia está prestes a perder a guerra.

Ele começa explicando como os gasodutos causam guerras, apontando que a guerra contra a Síria foi causada pela recusa de Assad em aprovar um gasoduto Qatar-Turquia e, em vez disso, assinar uma carta de intenções para um gasoduto Irã-Iraque-Síria.

O que se seguiu, explica o autor, foi uma campanha maligna e concertada “Assad tem que ir“: a guerra por procuração como caminho para a mudança de regime. Com a instrumentalização do ISIS – mais um capítulo da guerra do terror – o nível de toxicidade aumentou exponencialmente. A Rússia então bloqueou o ISIS, impossibilitando a mudança de regime em Damasco. O gasoduto favorecido pelo Império do Caos “bateu as botas“.

Agora, o império finalmente retaliou explodindo os gasodutos existentes – Nord Stream (NS) e Nord Steam 2 (NS2) – que transportam ou são projetados para transportar gás russo para um dos principais concorrentes econômicos do império: a UE. Mas a explosão não foi perfeita.

“Todos nós sabemos agora que a linha B do NS2 não foi explodida ou perfurada e está operacional. Reparar as outras três linhas – perfuradas – não seria problema: uma questão de dois meses, dizem os arquitetos navais. O aço no Nord Stream é mais espesso do que nos navios modernos. A Gazprom se ofereceu para consertá-los – desde que os europeus se comportem como adultos e aceitem normas de segurança rígidas.“(https://thesaker.is/the-thin-red-line-nato-cant-afford-to-lose-kabul-and-kiev/)

Mas é claro que você sabe que isso não vai acontecer. Nada disso é discutido na mídia OTAN. Isso significa que o Plano A dos suspeitos de sempre permanece: a criação de uma escassez de gás natural inventada que leva à desindustrialização da Europa, tudo parte do Great Reset, renomeado “A Grande Narrativa“.

Enquanto isso se discute no “Muppet Show da UE” o nono pacote de sanções contra a Rússia. Suécia se recusa a repassar à Rússia os resultados questionáveis da “investigação interna” da OTAN sobre quem explodiu os Nord Streams. Da mesma forma, deve-se acrescentar, como o governo federal alemão se recusa a fornecer informações aos membros do Bundestag.

Na Semana da Energia Russa, o presidente Putin resumiu os fatos nus e crus. A Europa responsabiliza a Rússia pela confiabilidade de seu fornecimento de energia, embora tenha recebido todas as quantidades que comprou sob contratos fixos. Escobar diz que está claro que os mentores dos ataques terroristas do Nord Stream são aqueles que se beneficiam deles.

Claro, Moscou apontou que reparar as linhas do Nord Stream “só faria sentido no caso de operação contínua e segura“. Enquanto isso, comprar gás no mercado spot significa uma perda de 300 bilhões de euros para a Europa, seus contribuintes e consumidores. O aumento dos preços da energia não se deve à Operação Militar Especial (SMO), mas às políticas do próprio Ocidente.

No entanto, como explica o autor, o show “os mortos podem dançar” deve continuar. Enquanto a UE se proíbe de comprar energia russa, a eurocracia de Bruxelas está aumentando sua dívida com o cassino financeiro. Os mestres imperiais estão morrendo de rir com essa forma de coletivismo – enquanto continuam se beneficiando do uso dos mercados financeiros para saquear e roubar nações inteiras.

Como ponto-chave, Escobar observa que os “psicos straussianos/neoconservadores” que controlam a política externa de Washington podem – e a ênfase está em “podem” – parar de armar Kiev e iniciar negociações com Moscou somente depois que seus principais concorrentes industriais na Europa estiverem falidos.

Mas mesmo isso, o autor coloca em perspectiva, não seria suficiente – porque um dos mais importantes mandatos “invisíveis” da OTAN é usar todos os meios disponíveis para capitalizar os recursos alimentares na “estepe pontico-cáspica”: Estamos falando de cerca de 1 milhão de km² de produção de alimentos da Bulgária à Rússia.

Judô em Kharkov

A ação militar agora se transformou rapidamente e sem anúncio oficial em uma “leve” CTO (Operação contra o terrorismo). A abordagem sóbria do novo Comandante-em-Chefe com carta branca do Kremlin, General Surovikin, também conhecido como “Armagedom‘, fala por si.

O autor é da opinião de que não há sinais de uma derrota russa ao longo da linha de frente de mais de 1000 km. A retirada de Kharkov pode até ser vista como uma obra-prima.

Pode-se ver a retirada como uma armadilha – em vez de uma demonstração explícita de “fraqueza” por parte de Moscou. Pois isso instigou as forças de Kiev – “na verdade seus capangas da OTAN“- a alegrar-se com a “fuga” russa e abandonar toda cautela arriscando tudo e até mesmo iniciando uma espiral do terror, desde o assassinato de Darya Dugina até a tentativa de destruição da ponte da Criméia.

Quanto à opinião pública no sul global, já está estabelecido que o show matinal de mísseis do General Armageddon é uma resposta legal a um estado terrorista. Putin pode ter sacrificado uma peça no tabuleiro de xadrez por um tempo – Kharkov: Afinal, o mandato do SMO não é manter território, mas desmilitarizar a Ucrânia.

Moscou até venceu depois de Kharkov: “Todo o equipamento militar ucraniano que estava acumulado na área foi lançado na ofensiva apenas para que o exército russo se envolvesse, alegremente, na prática de tiro ininterrupta.

E então há o verdadeiro cerne da questão: Kharkov colocou em movimento uma série de jogadas que eventualmente permitiram a Putin colocar o ocidente em xeque-mate fazendo uso da “leve” CTO com mísseis e reduzi-o a um bando de galinhas sem cabeça.

Ao mesmo tempo, os suspeitos de costume iriam incansavelmente repetir sua nova narrativa nuclear. O ministro das Relações Exteriores Lavrov foi forçado a repetir ad nauseam que, de acordo com a doutrina nuclear russa, uma ofensiva só pode ser realizada em resposta a um ataque “que põe em perigo toda a existência da Federação Russa.”

O objetivo dos “assassinos psicopatas de Washington“, como Escobar chama a elite dos EUA, é provocar Moscou a usar armas nucleares táticas no campo de batalha. Essa foi também a razão do ataque terrorista apressado na ponte da Criméia, uma vez que os planos do serviço secreto britânico estavam circulando há meses. Mas isso tudo de nada valeu.

A “máquina de propaganda histérica straussiana/neoconservadora” culpa Putin desesperada e preventivamente: ele foi “acuado“, ele “perdeu“, ele está “desesperado‘, portanto vai partir para um ataque nuclear. Não é de admirar que o tiquetaquear do relógio do juízo final definido pelo Boletim dos Cientistas Atômicos em 1947 esteja a ponto de parar. Direto de “Doom’s doorstep”.

A vida à beira do colapso

Enquanto, como diz Escobar, “o império do caos, mentiras e pilhagem“ está petrificado pela terrível falha dupla de um ataque econômico/militar massivo, Moscou está se preparando sistematicamente para a próxima ofensiva militar. No momento está claro que o eixo anglo-americano não vai negociar. Nem tentou nos últimos 8 anos e não mudará seu rumo, mesmo quando estimulado por um coro angelical que vai de Elon Musk ao Papa Francisco.

Putin gastou eras de paciência taoista para evitar soluções militares. O terror na ponte da Crimeia pode ter sido um ponto de virada. Mas Putin não tirou completamente suas luvas de pelica. Os ataques aéreos diários do General Armageddon ainda podem ser tomados como um aviso – relativamente educado. Mesmo em seu recente discurso histórico, que continha uma acusação contundente ao Ocidente, Putin deixou claro que estava sempre aberto a negociações.

Mas agora Putin e o Conselho de Segurança da Rússia saberiam por quê os americanos simplesmente não conseguem negociar. A Ucrânia pode ser apenas um peão em seu tabuleiro, mas ainda é um dos centros geopolíticos mais importantes da Eurásia: quem a controla desfruta de maior profundidade estratégica.

Os russos estão bem cientes de que os suspeitos de costume estão obcecados em interromper o complexo processo de integração eurasiana, começando com a nova Rota da Seda da China. Não admira, segundo Escobar, que importantes instâncias de poder em Pequim estejam “insatisfeitas” com a guerra. Porque isso é muito ruim para os negócios entre a China e a Europa em vários corredores transeurasianos.

Putin e o Conselho de Segurança da Rússia também sabem que a OTAN abandonou o Afeganistão – um fracasso absolutamente miserável – para apostar tudo na Ucrânia. Portanto, perder tanto Cabul quanto Kiev seria o golpe final: deixar o século 21 eurasiano para a parceria estratégica Rússia-China-Irã.

A sabotagem – desde os gasodutos Nordstream até a ponte da Criméia revelam esse jogo desesperado. Os arsenais da OTAN estão praticamente vazios. O que resta é uma guerra de terror: a sirização, na verdade, a ISISização do campo de batalha. “Administrados pela estúpida OTAN, o terreno é ocupado por uma horda de buchas de canhão, salpicada de mercenários de pelo menos 34 nações“.

Assim, Moscou poderia ser forçada a ir aos extremos – como revelou o completamente desinibido Dmitry Medvedev: Agora é uma questão de eliminar um regime terrorista, desmantelar completamente seu aparato de segurança política e permitir o surgimento de outra entidade. E se a OTAN ainda bloquear isso, um confronto direto será inevitável.

A tênue linha vermelha da OTAN é que ela não pode se dar ao luxo de perder tanto Cabul quanto Kiev. Mas foram necessários dois atos de terrorismo – no Pipelineistão e na Crimeia – para traçar uma linha vermelha incandescente muito mais nítida: a Rússia não permitirá que o Império controle a Ucrânia, custe o que custar. Isso está inerentemente vinculado ao futuro da parceria da Grande Eurásia. “Bem-vindo à vida à beira do colapso.”

Eu gostaria de acrescentar: Aproveite cada dia.


Fonte: https://apolut.net/das-ende-der-kolonialgeschichte-der-reset-naht-aber-wie-von-jochen-mitschka/

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