Uma guinada a cada 500 anos

Batiushka para o Blog Saker – 14 de setembro de 2022

Introdução: A Velha Rainha

Lembro-me de ter conhecido há cerca de quarenta anos uma senhora inglesa idosa, esposa de um fazendeiro, chamada Mrs Dove, que estivera presente quando estudante no funeral da rainha Vitória. “Quando a velha rainha morreu há tantos anos”, ela relembrou com nostalgia, “tudo estava coberto de preto e todos estavam vestidos de preto.” Agora a tataraneta de Vitória, a nova ‘velha rainha’, está morta, – a notícia anunciada sob um arco-íris sobre o Castelo de Windsor. Esta é a cidade cujo nome o avô da rainha, George V, adotou como nome de família, em vez de Saxe-Coburg e Gotha. O nome Windsor foi adotado oficialmente em 17 de julho de 1917, logo após a ‘Revolução’ Russa de 1917 orquestrada pelos britânicos, um ano antes do dia anterior ao assassinato do czar e sua família em Ekaterinburg, nas próprias fronteiras da Europa e da Ásia. O czar russo foi traído por seu primo sósia, o rei George V.

O que quer que você diga sobre a rainha Elizabeth II, ela pessoalmente tinha modéstia, dignidade, presença; ela realmente acreditava em algo, ela tinha tudo o que seus descendentes parecem não ter. Talvez seu fim tenha sido apressado pelo comportamento de seu filho, o príncipe Andrew, seu neto, o príncipe Harry, e os imbecis que habitam a Rua Downing nº 10 [é o local da residência e escritório oficiais dos primeiros-ministros britânicos, em Londres – nota da tradutora], o último dos quais ela teve que nomear a primeira-ministra apenas dois dias antes de morrer. Por que viver mais? Ela devia estar farta de tudo isso.

Este é o fim, o final do Império Protestante da Grã-Bretanha (1522-2022) [1], cujo colapso começou exatamente três gerações atrás, em 1947, na Índia. Talvez o declínio siga rapidamente agora sob o detestável rei Charles III/Carlos III (chamado em russo Karl III) [2], que se encontra sem a rainha Diana, a única que poderia tê-lo salvado. Espere que o desmembramento do Reino Unido seja rápido.

A rainha Elizabeth II, de 96 anos, morreu na Escócia, no castelo de Vitória em Balmoral, uma relíquia do século 19 e seu Império Britânico. Seu sotaque germânico curioso e cortante – nenhum inglês fala assim – traiu as origens estrangeiras da rainha como o último dos governantes moldados pelo protestantismo alemão, importado pela classe comercial e financeira da cidade de Londres pouco mais de 300 anos antes. No entanto, não é só ela, são os outros líderes do mundo ocidental, relíquias do século 20, que estão morrendo também. São gerontocratas. Nos EUA, Biden, nascido na primeira metade do século 20 e prestes a completar 80 anos, deveria mesmo estar em um asilo. É cruel continuar o desfilando na frente da mídia assim e pedindo para ele se lembrar das coisas. Quanto ao Papa Francisco, de 85 anos, mal consegue andar e diz que também pode partir cedo, como seu antecessor, ainda vivo aos 95 anos, uma relíquia obrigada a servir na Juventude Hitlerista [referência ao papa Bento XVI, que renunciou em fevereiro de 2013 – nota da tradutora].

Enquanto isso, no Front Oriental

Após o desastre humilhante no Afeganistão em agosto de 2021, quando os americanos foram expulsos e a OTAN foi derrotada, o século asiático chegou. Enquanto a rainha Elizabeth II estava morrendo, altos representantes de 68 países se reuniam no Fórum Econômico Oriental (EEF: Eastern Economic Forum – nota da tradutora) em Vladivostok, na costa do Pacífico da Rússia, um centro do novo mundo multipolar. Eles estavam lá para ouvir a visão econômica e política de Moscou para o Ásia-Pacífico após a queda do obsoleto Império Ocidental unipolar. O presidente Putin declarou: ‘A nova ordem mundial é baseada nos princípios fundamentais de justiça e igualdade, bem como no reconhecimento do direito de cada Estado e povo ao seu próprio caminho soberano de desenvolvimento. Poderosos centros políticos e econômicos estão sendo formados aqui mesmo na região do Ásia-Pacífico, atuando como uma força motriz neste processo irreversível’.

O futuro russo é marcado pelo desenvolvimento do Ártico russo e da Rota do Mar do Norte através do Ártico. Na Rota do Mar do Norte, a ênfase está na construção de uma frota poderosa e moderna de quebra-gelos, alguns movidos a energia nuclear. Há um plano de longo prazo até 2035 para criar infraestrutura para navegação marítima segura e uma transformação na navegação e construção naval do Ártico que está em andamento nos últimos anos. Uma segunda área de desenvolvimento para a Rússia é o Corredor Internacional de Transporte Norte-Sul com um de seus principais portos em Chabahar, no Irã. Agora, pela primeira vez, a Índia estará diretamente conectada à Ásia Central. Uma linha de navegação iraniana com 300 navios que se conectam a Mumbai está participando do desenvolvimento deste Corredor de Transporte. A criação de tal corredor de transporte também está levando à integração dos sistemas nacionais de trânsito em vários países.

Dentro de uma semana terá lugar o Summit/Cúpula de Samarcanda [atualizando, a referida Cúpula tem início amanhã, quinta-feira, de 15 a 16 de setembro de 2022, no Uzbequistão – nota da tradutora] da multipolar Organização de Cooperação de Xangai (SCO: Shanghai Cooperation Organisation – nota da tradutora). Além dos atuais membros plenos – Rússia, China, Índia, Paquistão, Cazaquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão, Quirguistão e agora Irã – nada menos que onze países desejam ingressar, incluindo Afeganistão e Turquia, fazendo potencialmente vinte ao todo. A Cúpula da SCO é examinar a cooperação econômica com o objetivo de resolver questões de saúde, energia, segurança alimentar e redução da pobreza. A Índia também deseja um século asiático, para o qual é necessária uma estreita cooperação entre Índia, China e Rússia. Por enquanto, a Índia não é competitiva e precisa se diversificar para obter melhor acesso à Eurásia, graças à ajuda logística da Rússia. A Rússia também desempenhará um papel vital no Oceano Índico, com a necessidade de uma cooperação estreita entre os “Três Grandes”, Rússia, Índia e China.

Devemos lembrar que só a Ásia tem mais de 25% do PIB mundial e 50% da população mundial. A Ásia não é mais uma série de países submetidos à colonização da Europa e dos EUA, mas o agente da mudança planetária. O século asiático está aqui. Há também um movimento global de adesão ao grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), incluindo Arábia Saudita, Irã, Afeganistão e Argentina. Tudo isso significa que a Maioria Global não é mais os EUA/CA/Reino Unido/UE/AUS/NZ e algumas colônias dos EUA como Japão, Coreia do Sul e Taiwan. É Afro-Eurásia-América Latina, 87,5% do mundo. Alguém vai ter que encontrar um novo nome para esta sopa de letrinhas, EEF, SCO, BRICS, talvez algo como G2022 ou simplesmente ‘A Aliança’? Todo o comércio nele será em moedas bilaterais, não em dólar. O centro passou do Atlântico para o Pacífico, o Atlântico está se tornando um remanso. Esta é uma Nova Era.

Enquanto isso, no Front Ocidental

O Fórum Econômico do Leste mostrou como a maioria das nações asiáticas é ‘amigável’ ou ‘neutra’ em relação à Operação Militar Especial Russa (SMO: Special Military Operation – nota da tradutora) na Ucrânia. Elas sabem que as Forças Armadas russas e o Estado russo buscavam há oito anos a paz e a proteção para os de língua e cultura russas na Ucrânia. A Operação lhes foi imposta pela incrível beligerância e arrogância do Ocidente. Recentemente, as Forças Armadas de Kiev, apoiadas pelos EUA e lideradas por mercenários, lançaram uma contraofensiva ao sul e leste da Ucrânia em direção a Kherson e sofreram muitas baixas com pouco sucesso. Kiev vem tentando compensar essa contraofensiva, onde perdeu duas brigadas motorizadas e mais de 300 tanques, veículos blindados e artilharia, com ataques ao noroeste de Kharkov. Mas aqui também Kiev vem sofrendo perdas tão pesadas que tiveram que enviar reservas. As forças aliadas prenderam o Exército de Kiev e seus mercenários em campo aberto. Não acredite na propaganda absurda de que a Rússia está perdendo.

De acordo com um documento assinado pelo comandante das Forças Armadas da Ucrânia, general Zaluzhny, no início de julho de 2022, 76.640 soldados ucranianos haviam sido mortos (dez semanas depois, deve ser quase 100.000). Com os feridos graves geralmente em uma proporção de 1 para 1, isso significa que até 200.000 soldados de Kiev podem ter sido colocados fora de ação permanentemente. E isso não inclui desertores, capturados e desaparecidos em ação, que poderiam fazer outros 50.000. Isso confirma relatórios anteriores de que o total de baixas em Kiev, aquelas permanentemente fora dos combates, são horríveis 250.000. De qualquer forma, os hospitais ucranianos estão transbordando, como amigos da Ucrânia no Telegram e no Whatsapp me dizem todos os dias. De fato, muitos feridos tiveram que ser enviados para hospitais na Polônia, que também estão lotados, pelo menos no leste da Polônia.

Por outro lado, todos os Aliados parecem ter perdido cerca de 10.000 mortos, a maioria deles das milícias de Donbass. Isso pode significar até 25.000 fora da luta permanentemente. Isso é um décimo das baixas de Kiev. Com perdas tão grandes em Kiev, muitos estão sugerindo que Zelensky e seus marionetistas em Washington e Londres são de fato culpados de crimes de guerra. Ninguém em sã consciência manda suas tropas para o abate assim. Hitler provou isso. A maioria dos analistas e observadores considera que o conflito pode terminar no final do próximo ano ou pode ser desacelerado até o início de 2024. Até então, as Forças Armadas Aliadas poderiam ter libertado as nove províncias do leste da Ucrânia e desmilitarizado as nove províncias da Ucrânia Central. Isso deixaria as sete províncias da Ucrânia Ocidental, as verdadeiras “fronteiras” (o significado da palavra “Ucrânia”), 20% do total, para serem devolvidas a outros países, com cinco províncias indo para a Polônia, uma (Chernovtsy) para a Romênia e uma (Zakarpat’e) para a Hungria.

A Nova Ucrânia, ou como quer que seja chamada, pode muito bem se tornar um Protetorado Russo, assim como a Bielorrússia depois de Lukashenko (que já está em vigor exatamente isso), e também o Cazaquistão, que precisa da Rússia, mesmo que apenas por razões militares e econômicas. Acreditamos que os três Estados Bálticos em colapso e fortemente despovoados também terminarão da mesma maneira, uma vez que suas elites marionetes americanas se forem. Seria de se esperar que a Sérvia, a Bósnia-Herzegovina sérvia, o Kosovo sérvio, o Montenegro e a Macedônia do Norte, embora permaneçam totalmente independentes, também se aliem vagamente à Federação Russa, mesmo que apenas por razões energéticas. E diríamos o mesmo da Moldávia ortodoxa, Bulgária, Romênia, Grécia e Chipre, e talvez também da Hungria católica. Tal aliança em uma Confederação muito frouxa é o que Stalin não conseguiu fazer em 1945. Em tal contexto, prevemos o colapso da tirania da UE.

Conclusão: O Futuro Eurasiano

O tempo está se esgotando para o Ocidente Coletivo como uma Potência Mundial Unida. É formado por uma elite parasita e os povos, zumbificados, ludibriados e traídos pela propaganda mentirosa dessa elite (lembre-se que Goebbels também era ocidental). Todas as suas organizações de fachada, a ONU, a UE, o G7, o G20, a NATO, o WEF, o FMI, o Banco Mundial, etc., falharam. Hoje, os EUA estão amargamente divididos, alguns diriam, estão à beira de uma Guerra Civil. A Austrália tornou-se a mina da China. A maioria da UE e do Reino Unido à bancarrota parecem Estados falidos. O Japão também está falido. Taiwan está inevitavelmente retornando à China. A Coreia será reunificada.

O único futuro para a Europa Ocidental está em uma aliança com seu parceiro natural, a Ásia, ou melhor, a Eurásia, o que significa que a Europa engula o sapo, humildemente, e passe pela Rússia, aceitando sua liderança e respeitando sua cultura. Depois de reintegrar-se com a Ásia, da qual se isolou artificialmente na história, e sair de seu isolamento arrogante e obstinado, a Europa terá que se integrar à Afro-Eurásia. Este é o sentido das três gerações de imigração para a Europa Ocidental da Ásia e da África. Para a Europa, trata-se de reintegrar o mundo e perceber que agora está em pé de igualdade com ele.

Que época para se estar vivo! Lembro-me muito bem da queda do Muro de Berlim em 1989 e de tudo o que se seguiu na Romênia, na Europa Oriental e na União Soviética logo depois. Esse foi um ponto de guinada, 50 anos depois de 1939, como acontece a cada 50 anos. No entanto, essa foi apenas a primeira parte de uma mudança muito maior, que está acontecendo agora. Pois o que estamos vivendo agora através da Ucrânia é uma guinada que acontece uma vez a cada 500 anos. E a morte da rainha Elizabeth II é o próprio símbolo dessa enorme mudança no ar, à medida que nos afastamos com esperança dos erros ocidentais do passado em direção aos próximos 500 anos.

14 de setembro de 2022

Notas:

[1]. É verdade que se dermos uma data para a Reforma Inglesa, então 1533 seria mais exato. Foi quando o Papa de Roma excomungou Henrique VIII, que se autoproclamou “Chefe da Igreja”. No entanto, usamos a data de 1522, porque foi quando Ana Bolena chegou à corte inglesa como dama de companhia da rainha espanhola Catarina de Aragão, sem filhos. Esse foi o começo de tudo. Em 1533, Henrique, que estava apaixonado por Ana há anos, casou-se secretamente com ela e ela deu à luz uma filha no mesmo ano.

Enquanto isso, o Parlamento de Londres havia aprovado um Ato Imperial, que proibia apelos a Roma sobre assuntos da Igreja e proclamava que: “Este reino da Inglaterra é um Império (grifo nosso), e assim foi aceito no mundo, governado por um Chefe Supremo e Rei tendo a dignidade e propriedade régia da Coroa Imperial da mesma, a quem um corpo político compacto de todos os tipos e graus de pessoas divididos em termos e por nomes de Espiritualidade e Temporalidade, seja obrigado e deve levar junto a Deus uma obediência natural e humilde”.

[2]. Na tradição russa, Karl, a forma alemã do nome Charles, é usada. O nome Karl é tirado de Carlos Magno, em alemão, Karl der Grosse, que deu origem à palavra eslava para rei (kral, kral’, kráľ, król, korol’).


Fonte: https://thesaker.is/a-turning-point-once-every-500-years

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