Tucker Carlson “entrevista” Putin 

Quantum Bird – 11 fevereiro 2024

Semana passada, o jornalista e ex-âncora da Fox News, Tucker Carlson, foi a Moscou para entrevistar o Presidente Putin. A entrevista foi gravada no Kremlin e foi ao ar na página internet de Carlson e no X, de Elon Musk, um ou dois dias depois, em 8 de fevereiro. O conteúdo foi claramente editado, mas nada foi supostamente cortado. É difícil citar números precisos, mas pode-se dizer que a esta altura várias dezenas de milhões de pessoas já assistiram e compartilharam a entrevista de pouco mais de duas horas. E isto constitui uma derrota avassaladora do bloqueio midiático imposto na mídia corporativa ocidental contra Putin e a Rússia em geral. 

A entrevista em si acrescentou pouco ao público bem informado e atento aos desenvolvimentos geopolíticos dos últimos 30 anos – nosso caso aqui no Saker LatAm. Putin não disse nada que já não tenha sido dito inúmeras outras vezes anteriormente – já existem muitos resumos da entrevista em circulação e não farei um novo aqui. Mas, isto não significa que não tenha sido interessante. Muito interessante de fato. 

Tucker Carlson, que aparentemente estudou História na faculdade, mas nunca de fato concluiu o curso, teve a oportunidade de ter uma aula dedicada de trinta minutos, cobrindo 1000 anos da história da Rússia e sua relação com a Ucrânia.  Para quem não está familiarizado com o personagem, Carlson se notabilizou como âncora da Fox News fazendo monólogos para a câmera –  mesmo equipamentos avançados ainda não são capazes de argumentar de volta – e entrevistando com perguntas provocativas, ao estilo tabloide gourmet, personalidades públicas e políticos, sempre dentro do jogo estritamente monótono, repetitivo e distópico da rixa entre democratas e republicanos nos EUA.  No início da entrevista, Carlson concordou com Putin que a entrevista seria uma conversa séria e não um show. Suas expressões faciais nos minutos seguintes sugerem que ele teria preferido que tivesse sido um show. 

O que vimos ao longo de duas horas foi Carlson basicamente calado, incapaz de fazer qualquer pergunta significativa, ou mesmo discutir jornalisticamente qualquer aspecto da política externa estadunidense. A ignorância e superficialidade Carlson ficaram expostas. Ele simplesmente não estava preparado para entrevistar Putin e não tinha nada de fato para perguntar além das obviedades sobre negociações na Ucrânia, energia para Europa, OTAN etc. 

Por outro lado, o público em geral, e o estadunidense em particular, teve a oportunidade de comparar erudição elevada e a cognição aguçada de Putin, que citou números e nomes sem recorrer a uma única nota durante toda entrevista, com a falta total de cognição de Biden, a embriaguez risonha permanente de Harris e a ignorância vibrante de Trump, (Nikki) Haley etc. As conclusões são obvias e inevitáveis. De fato, considerando o já curto, e encolhendo, arco de atenção do cidadão médio ocidental, acredito que esse será o principal impacto da entrevista na audiência doméstica estadunidense.  

Assim, coloca-se a questão: para que serviu de fato essa entrevista?

Existem muitas teorias em circulação. Conforme a mais popular, Carlson teria ambições politicas e foi ao Kremlin como um emissário político de Trump. Carlson também seria um tipo de agente/enviado de facções da CIA, ou do Pentágono, e foi levar alguma mensagem secreta para Putin. Ou ainda ambos. Algo do tipo: “Caro Putin, não seja muito apressado na Ucrânia, continuaremos bloqueando no Congresso o envio de mais dinheiro e armas para Zelensky e nos livraremos de Biden na próxima eleição, para que Trump tenha a oportunidade de resolver o conflito e tirar os EUA triunfante de lá”. Bem, Obama uma vez disse algo similar a Medvedev, no fim do seu primeiro mandato…

Mas existiu também aquela tentativa desajeitada de Carlson de incluir Elon Musk na conversa, falando de IA. Estaria ele apenas tentando garantir que o X não censuraria seu conteúdo? 

Todos sabemos que sem a ajuda do Kremlin em 2016, Trump jamais teria superado o carisma avassalador, a competência absoluta e o legado extremamente edificante de Hillary Clinton (e seu marido, Bill Clinton). Sendo assim, tendo a acreditar que a entrevista, ou melhor, a visita de Carlson a Putin disfarçada de entrevista, foi sobre isso. O uso da Ucrânia nas eleições dos EUA. Bem, temo que nunca saberemos com precisão o que de fato aconteceu nos bastidores, mas a resposta parece estar sendo dada em Avdeevka.

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