Quantum Bird – 10 de abril 2025
Existe um tipo de relação afetiva abusiva, na qual o parceiro abusador e mentalmente comprometido, seja o homem ou a mulher, após tentar impor sua vontade – e falhar — via bullying e gaslight, declara o fim condicional da relação. Trata-se de um blefe cujo objetivo é trazer a vítima rebelde do bullying à submissão. O abusador acredita que sua vítima está envolvida demais para aceitar uma separação e se adaptará com o requisitado para mantê-la. Mas e se a vítima estiver apenas esperando a próxima briga e declaração de término para convenientemente aceitar, empacotar seus panos e partir sem carregar a culpa pela separação?
A China e vários outros países do Sul Global acabaram de indicar que estão mais do que predispostos a aceitar convenientemente o término das relações com os EUA. Veja isto:
Em meio à escalada das tensões comerciais entre a China e os Estados Unidos, alguns exportadores chineses estão tomando a medida drástica de abandonar embarques no meio da viagem e entregar contêineres às companhias de navegação para evitar custos tarifários exorbitantes.
Pessoas do setor apelidaram a medida de “preparação para a Longa Marcha”, uma metáfora sombria para o que muitos veem como uma retração prolongada e punitiva no comércio transpacífico.
Um funcionário de uma empresa exportadora listada na China, que pediu anonimato, disse que seu volume de contêineres com destino aos EUA caiu de 40 para 50 contêineres por dia para apenas três a seis, como resultado das novas tarifas sobre importações chinesas impostas pelo segundo governo Trump.
[…]
“Suspendemos todos os planos de embarque das Filipinas, Vietnã, Indonésia e Malásia”, disse o funcionário. “Todos os pedidos de fábrica estão suspensos. Tudo o que não foi carregado será descartado e a carga que já está no mar está sendo recalculada.”
Os EUA queriam apenas um pouco mais, mas terminaram tendo o pacote completo. Quem nos EUA e suas satrapias desindustrializadas vai prover estes produtos? E tem mais:
Os preços dos títulos do Tesouro dos EUA despencaram, e os rendimentos dispararam acentuadamente nos últimos dias, à medida que aumentam os temores sobre os impactos de longo prazo da escalada da guerra comercial do presidente Donald Trump em todo o mundo.
O rendimento do título do Tesouro dos EUA de 10 anos subiu cerca de 12% desde segunda-feira, subindo brevemente acima de 4,5% na manhã de quarta-feira. O rendimento do título do Tesouro dos EUA de cinco anos subiu 13% no mesmo período, atingindo 4%.
Títulos são empréstimos que os investidores fazem a uma entidade, como uma empresa ou governo, geralmente em troca de pagamentos de juros em um cronograma definido, com o investimento inicial sendo devolvido também no vencimento.
Os rendimentos e os preços dos títulos se movem inversamente, com os rendimentos subindo e os preços caindo em tempos difíceis, refletindo o aumento do risco para os investidores.
Os títulos dos EUA são tradicionalmente considerados um dos ativos de refúgio mais seguros, já que a probabilidade de um pagamento não efetuado pelo governo dos EUA é vista como incrivelmente improvável. Investidores correndo para vendê-los são incomuns e geralmente vistos como um sinal de crise no mercado.
O último parágrafo da citação acima é eufemista. O que de fato está ocorrendo é um distanciamento do dólar. Todos que podem – a EU e o Reino Unido não podem – estão aproveitando a ocasião.
Quando alarmes soaram alto no FED e na Casa Branca, Trump imediatamente agiu para apagar o incêndio. No início da tarde da última terça-feira, 08/04/2025, o presidente Trump declarou uma pausa parcial por meio de sua plataforma Truth Social. Respondendo a repórteres na quarta-feira, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que as tarifas básicas de 10% permanecerão em vigor, mas que tarifas mais altas contra vários países estão suspensas. Ele também reiterou que a mensagem do governo é: “Não retaliem e serão recompensados” (sic!). A exceção à pausa é a China, que inicialmente reagiu anunciando tarifas de importação de 34% sobre produtos americanos na sexta-feira passada. Diante da taxa de 104% de Trump na quarta-feira, a China aumentou essa taxa para 84% e impôs restrições a 18 empresas americanas. Trump então escreveu nas redes sociais na quarta-feira que “com base na falta de respeito que a China demonstrou aos mercados mundiais, estou, por meio deste, aumentando a tarifa cobrada da China pelos Estados Unidos da América para 125%, com efeito imediato”.
Ou, seja, Trump aparentemente tentou apagar o incêndio que ele mesmo iniciou atirando álcool nas chamas. Mais demagogia, ignorância e arrogância. Enquanto escrevo, atores variados continuam se desfazendo em massa de títulos do Tesouro dos EUA.
Logicamente, há muito mais em jogo. Enquanto uma tempestade econômica estilo 2008 em esteroides se forma rapidamente no horizonte, os amigos multibilionários de Trump continuam relatando nas redes sociais como ampliaram suas fortunas imensamente desfrutando da informação privilegiada que recebem em tempo real da Casa Branca. Esse é Trump, alavancando a estatura econômica dos EUA, a globalização forçada da economia mundial e os poderes emergenciais da presidência – ordens executivas – para trazer lucro para os “associados”. Tudo isto enquanto finaliza os últimos resquícios de credibilidade dos EUA.
Quem precisa de se relacionar com um parceiro deste tipo?
Atualização 11/04: China acaba de aumentar suas taxas de importação de produtos dos EUA para 145%. O banho de sangue no mercado de títulos do Tesouro dos EUA continua. Todo mundo comprando ouro e se afastando do dólar. A carnificina vai continuar até Trump estabelecer uma política fiscal e comercial previsível. Ou seja, nunca.
O EUA que se f****, afinal foram, são e serão juntamente com Israel a dença fatal do mundo em que vivemos.
O dólar e tudo que seja ianque já há muito tempo não merece qualquer tipo de credibilidade.