Somente 22 nações nunca foram invadidas pela Grã-Bretanha

Lady Bhārani

O Império Britânico, conhecido também como o império onde “o Sol nunca se põe”, foi o maior em extensão de terras descontínuas do planeta. Entre o final do século XVI, com as suas primeiras colônias ultramarinas e entrepostos comerciais até o seu declínio, após a Segunda Grande Guerra, o império chegou a dominar cerca de 450 milhões de súditos, ou o alardeado ¼ da população mundial de então.

Com a nova reconfiguração geopolítica após a derrota do nazifascismo, houve um movimento mais acelerado de descolonização das potências europeias e, assim, a maioria dos territórios imperiais britânicos tornou-se independente. E é aqui que entra a primeira importante agenda a ser cumprida pela jovem Rainha Elizabeth II, recém entronizada em 1952: sedimentar a incipiente Commonwealth de Nações – instituição através da qual o falecido Império Britânico continuou a respirar, mesmo que por contínuas transformações.

Fato foi que, após a independência, muitas ex-colônias britânicas aderiram à Commonwealth/Comunidade das Nações, uma associação de 53 Estados independentes. Destes, quinze países contam com o mesmíssimo chefe de Estado, que por longevos 70 anos foi a Sua Majestade Elizabeth II.

Segundo a Wikipedia, a soberana reinou em 32 Estados durante a sua vida, como “a primeira monarca da Casa de Windsor*. [Ela também foi] a Governadora Suprema da Igreja da Inglaterra, e Comandante Suprema das Forças Armadas do Reino Unido. Em alguns outros Estados soberanos, detinha o título de Defensora da Fé.”

Bom, à luz dessa breve contextualização, pensemos: qual singularidade histórica países tão diferentes como Andorra, Bielorrússia, Bolívia, Guatemala, Liechtenstein, Mônaco, Mongólia, Paraguai, Suécia, Uzbequistão e a Cidade do Vaticano compartilham entre si?

Estes e outros 11 países integram a seleta lista de apenas 22 nações que, por uma razão ou outra, nunca foram invadidas e/ou exploradas diretamente pelo Império Britânico.

Apenas 22 países nunca foram invadidos pela Grã-Bretanha ao longo da História. Fonte Todos os Países que invadimos: e os outros poucos que nunca chegamos a, de Stuart Laycock (2012).

Tendo isso em mente, aqui vai um levantamento histórico oportuno feito por um autor chamado Batiushka sobre como e quando a aventura imperialista britânica começou. É bom lembrarmos que, ao mesmo tempo em que o rei Henrique VIII se proclamava “Chefe da Igreja” e era excomungado pelo Papa:

“o Parlamento de Londres havia aprovado um Ato Imperial, que proibia apelos a Roma sobre assuntos da Igreja e proclamava que: “Este reino da Inglaterra é um Império (grifo de Batiushka), e assim foi aceito no mundo, governado por um Chefe Supremo e Rei tendo a dignidade e propriedade régia da Coroa Imperial da mesma, a quem um corpo político compacto de todos os tipos e graus de pessoas divididos em termos e por nomes de Espiritualidade e Temporalidade, seja obrigado e deva levar junto a Deus uma obediência natural e humilde”.

E, ao redor do Canal da Mancha, ao que parece, foi assim que tudo começou…

Embora os britânicos não tenham sido os primeiros na corrida colonialista e imperialista – ainda em 1415 Portugal já iniciava sua atividade colonial na África com a conquista de Ceuta, no Marroco – a Irlanda tornava-se a primeira colônia britânica, em 1556. Mas a coisa nem de longe parou por aí.

De acordo com o livro All the Countries We’ve Ever Invaded: And the Few We Never Got Round To/Todos os Países que invadimos: e os outros poucos que nunca chegamos a, de Stuart Laycock, das 193 nações que integram a ONU, o império britânico invadiu ou lutou contra 171 delas, cerca de 90%.

Fica fácil entender, portanto, porque tantas pessoas estão comemorando a morte da rainha Elizabeth II, cujo velório luxuoso foi pago pelo contribuinte inglês.

A seguir, cito apenas alguns dos conflitos de participação ativa do imperialismo britânico durante o reinado da falecida – a respeito dos quais a rainha estendeu um silêncio inquebrantável e aquiescente. Para informações sobre os demais períodos históricos, vale conferir a história militar do Reino Unido neste ótimo site.

I – No século XX:

  • Guerra da Coreia: 1950-53 – Ajudando os EUA com mais de 80 mil soldados que mataram mais de 4 milhões de coreanos.
  • Revolta dos Mau Mau, no Quênia: 1952 a 1960 – Em 1952, Winston Churchill propôs que as terras férteis do Quênia deveriam pertencer apenas a pessoas brancas, aprovando a remoção forçada dos residentes locais. Cerca de mais de 450 mil quenianos foram forçados a entrar em campos de concentração, nos quais aproximadamente 300 mil quenianos foram mortos.
  • Operação Ajax: 1953 – Em conjunto com a CIA, a inteligência britânica aplicou um coup d’état no Irã retirando o governo democraticamente eleito do Primeiro Ministro Mohammad Mossadegh que dois anos antes havia nacionalizado a indústria iraniana de petróleo – até então controlada pela empresa britânica Anglo-Persian Oil Company (APOC). O monarca constitucional Reza Pahlavi governou com forte apoio norte-americano até a Revolução de 1979.
  • Guerra contra a Independência do Chipre: 1955 a 1959
  • Crise do Canal de Suez: 1956 e 1957
  • Revolta de Brunei: 1962 a 1966
  • Emergência de Aden: 1963-1967
  • Confrontação entre a Malásia e a Indonésia: 1962 a 1966
  • Revolta do Dhofar: 1962 a 1975
  • Separação do Iêmen: 1963 a 1967
  • Diversas intervenções contra a Irlanda do Norte (‘The Troubles’/‘Os Problemas’): 1968 a 1998
  • Operação Banner na Irlanda do Norte: 1969 a 2007
  • Guerra das Malvinas: 1982
  • Primeira Guerra do Golfo: 1990 e 1991
  • Guerras da Iugoslávia – Guerra da Bósnia: 1995 a 1996
  • Guerras da Iugoslávia – Guerra de Kosovo: 1999

II – No Século XXI:

  • Guerra civil em Serra Leoa: 2000
  • Guerra ao Terror: 2001–presente
  • Guerra do Iraque: 2003 a 2009
  • Guerra do Afeganistão: 2001 a 2021
  • Guerra civil do Iraque: 2014 a 2017
  • Ofensiva de Mossul: 2015
  • Acusação fabricada de “armas químicas” em Damasco como pretexto ao intenso bombardeamento de instalações civis e militares sírias – 2017 e 2018
  • Caso Skripal – 2018 a 2021
  • Encenação do “envenenamento” de Alexey Navalny – 2020 e 2021
  • Diversas campanhas de desestabilização de várias nações como a Líbia, Nicarágua, Iugoslávia, Filipinas, etc.

Enquanto hoje milhares de pessoas pelo mundo choram o falecimento da rainha Elizabeth II, uma monarca declaradamente racista, apenas guarde para si o número 22. Vinte e duas nações somente, entre as 193 participantes da ONU, não conheceram a ganância corsária britânica.

Isso faz com que, a cada 06 dias, ao redor do mundo, uma nação celebre sua libertação do domínio nefasto do (neo)colonialismo da Grã-Bretanha.

Por que não nos contam que somente 22 nações nunca foram invadidas pela Grã-Bretanha ao longo da História?

Lista de países que obtiveram independência do Reino Unido
Tradução: Países invadidos pela Grã-Bretanha – A Grã-Bretanha invadiu militarmente todos, exceto 22 países, ao redor do mundo ao longo da História. Incursões por piratas, corsários ou exploradores armados britânicos também estão incluídas neste mapa. Ataques dos britânicos são retratados, mesmo que esses territórios ocupados fizessem parte de outros impérios ou permanecessem como nações independentes, por ex. Costa Rica, Equador e El Salvador

[*] Também segundo a Wikipedia, Casa ou Dinastia de Windsor é a casa real no trono no Reino Unido e de outros reinos da Commonwealth. Essa dinastia é de descendência paterna alemã, originalmente um ramo da Casa de Saxe-Coburgo-Gota, que devido ao sentimento anti-germânico estimulado pela Primeira Grande Guerra, decidiu adotar o nome Windsor, em 1917. Note, no entanto, que Elizabeth II, portanto, não é natural da Casa de Windsor.


Fontes:

A morte da Rainha Elizabeth II e porquê muita gente está feliz com isso! – Vídeo de João Carvalho

A Rainha e seu legado: a Grã-Bretanha do século 21 nunca teve um aspecto tão medieval – artigo de Jonathan Cook

Isabel II do Reino Unido. In Wikipedia

Military history of the United Kingdom

Political crimes committed by the UK/Crimes políticos cometidos pelo Reino Unido – Briefing de Maria Zakharova em 19 de abril de 2018 – Ministério das Relações Exteriores da Federação Russa

Uma guinada a cada 500 anos – artigo de Batiushka

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