Quantum Bird – 30 setembro 2024
English version available at Chronicles Global South:
https://globalsouth.co/2024/10/01/sequelae-of-colonialism-the-pathological-obsession-with-being-accepted-by-the-west/
Frequentemente relembramos a nossa audiência que a colonização não acontece no território. Este pode apenas ser fisicamente ocupado. A colonização acontece de fato nas mentes dos nativos.
Indo diretamente ao ponto, aqui está um exemplo de uma mente colonizada, da variedade “idiota útil” :
Aparentemente, o recém-eleito presidente iraniano e seu gabinete de reformistas pró-ocidentais decidiram ignorar as instruções do Líder Supremo de proceder com a retaliação do assassinato de Ismail Haniyeh, adiando indefinidamente a resposta iraniana, pois o ocidente coletivo havia prometido um cessar-fogo em Gaza. Haniyeh era o chefe do gabinete político do Hamas, e foi morto em uma operação israelense em Teerã em 31 de julho, apenas algumas horas depois de comparecer à posse de Masoud Pezeshkian.
Pouco importa que desde o assassinato de Haniyeh, Israel sistematicamente ampliou a escala de sua agressão à Gaza, ao Líbano e outros países da região. Pouco importa que a inação iraniana permitiu a Israel reunir a força política, militar e moral para atacar brutalmente o Líbano, massacrando centenas de civis, para assassinar a liderança do Hezbollah, incluindo o próprio Hassan Nasrallah.
Conseguem perceber a severidade da patologia? Ou a magnitude do dano cerebral na mente do colonizado?
Onde estava Pezeshkian durante as negociações e assinatura do Acordo Nuclear Iraniano (JCPOA) e a sua revogação arbitrária e unilateral pelos EUA, seguida de uma escalada brutal do regime de sanções, com o objetivo de destruir a economia iraniana? Ou será que ele não soube dos inúmeros assassinatos de cientistas, políticos e comandantes militares, além das sucessivas tentativas de revoluções coloridas em seu país? No contexto mais amplo, todos testemunharam o procedimento desonesto do ocidente coletivo com a Rússia nos Acordos de Minsk, com a China em uma série de outras contendas e o roubo continuado de recursos econômicos venezuelanos. Em 2024, pode-se listar os exemplos da desonestidade do ocidente coletivo ad infinitum.
A situação tornou-se sensível ao ponto de que, para evitar uma descredibilização adicional, as autoridades iranianas condenaram veementemente os ataques, mas evitaram prometer vingança pelo assassinato de Nasrallah e Abbas Nilforoushan, o vice-comandante de operações do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC).
A verdade é que enquanto o Irã reluta agir decisivamente para restabelecer as equações de dissuasão, a fim de evitar um confronto direto com os EUA, os mesmos EUA estão criando as condições para privar o Irã de seus aliados na região. Ou seja, a relutância em responder à altura para evitar a guerra está, de fato, precipitando a guerra.
Enquanto escrevo, protestos de populares pedindo a renúncia de Pezeshkian estão crescendo, assim como a agitação no parlamento sobre necessidade de revisar a doutrina de armas nucleares. Israel, por outro lado, parece enxergar uma janela de oportunidades para decapitar também o regime iraniano e seus aliados. Ou seja, o equilíbrio foi quebrado, enquanto um lado reluta prudentemente, o outro delira em frenesi genocida. Não há como acabar bem.
Pode ser também que tenhamos superestimado as capacidades do Irã e da Resistência. Não é parada mole enfrentar uma potência nuclear como Israel que tem na retaguarda o apoio do sionismo (quer dizer dos banqueiros multibilionários) e de todo o império. Esse negócio de afirmar que no passado o Hezbollah venceu Israel em solo pode ser apenas ufanismo imprevidente. Se for assim, teremos a infelicidade de ver apenas, mais uma vez, os mais fracos serem humilhados e agredidos pelos mais fortes.