PT — Manlio Dinucci — A Arte da Guerra — Os Euromísseis nucleares estão de regresso

Em 2014, a Administração Obama, sem qualquer prova,  acusava a Rússia de ter experimentado um míssil de cruzeiro (sigla 9M729) da categoria proibida pelo Tratado e, em 2015, anunciou que “perante a violação do Tratado INF pela Rússia, os Estados Unidos estão a considerar a inserção na Europa, de mísseis com base em terra”.

O testemunho passou, então, para a Administração Trump que, em 2019, decidiu a retirada dos Estados Unidos do Tratado INF, acusando a Rússia de tê-lo “violado deliberadamente”.

Após alguns testes de mísseis, a Lockheed Martin foi contratada para construir um míssil de cruzeiro derivado do Tomahawk e um míssil balístico derivado do SM-6 da Raytheon. Segundo o contrato, os dois mísseis estarão operacionais em 2023: portanto, prontos para serem instalados na Europa dentro de dois anos. O factor geográfico deve ser tido em consideração: enquanto um míssil balístico nuclear americano de médio alcance lançado da Europa pode atingir Moscovo após alguns minutos, um míssil semelhante lançado pela Rússia pode atingir as capitais europeias, mas não Washington. Invertendo o cenário, é como se a Rússia estivesse a instalar mísseis nucleares de médio alcance no México. Deve notar-se também que o SM-6, especifica a Raytheon, desempenha a função de “três mísseis num só”, a saber: função antiaérea, antimíssil e de ataque. Portanto, o míssil nuclear derivado do SM-6 poderá ser usado pelos navios “blindados” e pelas instalações terrestres dos Estados Unidos na Europa cujos tubos de lançamento, especifica a Lockheed Martin, podem lançar “mísseis para todas as missões”.

Numa declaração datada de 26 de Outubro de 2020, o Presidente Putin reafirma a validade do Tratado INF, definindo a retirada dos EUA como sendo um “grave erro” e o compromisso da Rússia de não instalar mísseis semelhantes até ao momento em que os EUA posicionem as suas forças perto do seu território. Por conseguinte, propõe aos países da NATO uma “moratória reciproca” e “medidas de verificação mútua”, ou seja, inspecções nas instalações recíprocas  de mísseis. A proposta russa foi ignorada pela NATO. O Secretário Geral, Jens Stoltenberg, em 10 de Novembro, reiterou que “num mundo tão incerto, as armas nucleares continuam a desempenhar um papel vital na preservação da paz”.

Não se ergueu nenhuma voz dos governos e dos parlamentos europeus, embora a Europa corra o risco de estar na vanguarda de um confronto nuclear semelhante ou mais perigoso do que o da Guerra Fria. Mas esta ameaça não está relacionada com o Covid, portanto, não é comentada.

A União Europeia, da qual 21 dos 27 membros fazem parte da NATO, já se fez ouvir quando, em 2018, rejeitou nas Nações Unidas,  a resolução apresentada pela Rússia sobre a “Preservação e observância do Tratado INF”, dando luz verde à instalação de novos mísseis nucleares dos USA na Europa.

Haverá alguma mudança quando Joe Biden for investido para a Casa Branca? Ou, depois do democrata Obama ter aberto o novo confronto nuclear com a Rússia e do republicano Trump o ter agravado, ao destruir o Tratado INF, o democrata Biden (antigo Vice Presidente de Obama) irá assinar a instalação dos novos mísseis nucleares americanos na Europa?

Manlio Dinucci

il manifesto, 17 de Novembro de 2020


Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

Email: luisavasconcellos2012@gmail.com

Webpage: NO WAR NO NATO

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