O Presidente Trump desembarcou do helicóptero, no Fórum Económico Mundial, em Davos. Aqui, precedido pelos músicos das trompetes da orquestra de Friburgo, anunciou que “o mundo está a testemunhar o renascimento de uma América forte e próspera”, graças à redução dos impostos e às reformas realizadas pela sua administração, baseadas no princípio da “America First”, isto é, de colocar a América em primeiro lugar.
Isto “não significa apenas a América: quando os Estados Unidos crescem, o mundo inteiro cresce”. Mas, acrescentou, “não podemos ter um comércio livre e aberto se alguns países explorarem o sistema à custa dos outros”. A referência é clara, sobretudo, para a China e para a Rússia, acusadas de “distorcer os mercados globais” através de “subsídios industriais e um planeamento económico generalizado, com orientação do Estado”.
Surge, assim, o nó da questão. Os Estados Unidos ainda são o principal poder económico do mundo, especialmente graças aos capitais com que dominam o mercado financeiro global, às multinacionais com as quais exploram os recursos de todos os continentes, às patentes tecnológicas que possuem, ao papel rápido e astucioso dos seus grupos de comunicação mediática, que influenciam as opiniões e os gostos das pessoas a uma escala planetária. No entanto, a sua supremacia económica (incluindo a do dólar), está a ser cada vez mais ameaçada pela emergência de novas figuras estatais e sociais.
Em primeiro lugar, a China: erguida pelo produto nacional bruto ao segundo lugar do ranking mundial, depois dos EUA, ela é a “fábrica do mundo” onde também produzem muitos grandes grupos dos EUA. Por conseguinte, tornou-se o principal exportador mundial de mercadorias. Por sua vez, faz investimentos crescentes tanto nos EUA como na União Europeia, na África, na Ásia e na América Latina (acima de tudo em infraestruturas).
O projecto mais ambicioso, lançado pela China em 2013 e comparticipado pela Rússia, é o de uma nova Rota da Seda: uma rede terrestre (rodoviária e ferroviária) e marítima, que liga a China à Europa através da Ásia Central e Ocidental e através da Rússia. Se fosse feito de acordo com a idéia original, o projecto, que não inclui componentes militares, remodelaria a arquitetura geopolítica de toda a Eurásia, criando uma nova rede de relações económicas e políticas entre os Estados desse continente.
A globalização que os Estados Unidos têm promovido, confiantes de poder dominá-la, volta-se agora contra eles. Os impostos aduaneiros até 50% sobre máquinas de lavar e sobre painéis solares, estabelecidos pela Administração do Trump para prejudicar as exportações da China e da Coreia do Sul, não são sinal de força, mas de fraqueza. Ao perder terreno no plano da globalização económica, os Estados Unidos concentram-se na globalização militar: “Estamos a fazer investimentos históricos nos recursos militares americanos – anunciou Trump em Davos – porque não podemos ter prosperidade sem segurança”.
Os EUA já possuem bases e outras instalações militares em mais de 70 países, especialmente, à volta da Rússia e da China. Os países onde estão distribuídas tropas dos EUA são mais de 170.
Nesta estratégia, estão, lado a lado, com as potências europeias da NATO, as quais, apesar de terem conflitos de interesses com os EUA, alinham-se sob a liderança americana, quando se trata de defender a ordem económica e política dominada pelo Ocidente. Este é o cenário em que está inserida a escalada cada vez mais perigosa dos EUA/NATO, na Europa, contra a Rússia, que é apresentada, como sendo o inimigo que nos ameaça do Oriente. Debater o estado da União Europeia e do euro, independentemente de tudo isto, como se faz na actual campanha eleitoral, significa jogar na frente dos eleitores, um jogo com cartas fraudulentas.
‘Il manifesto’, 30 de Janeiro de 2018
Todos os vídeos ‘A Arte da Guerra’ de Manlio Dinucci:
https://www.pandoratv.it/category/opinioni/manlio-dinucci-opinioni/
NO WAR NO NATO
Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos
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