PT — GUERRA NUCLEAR: 5.7 Armas químicas e biológicas

MANLIO DINUCCI

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GUERRA NUCLEAR

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De Hiroshima até hoje:

Quem e como nos conduzem à catástrofe

ÍNDICE


5.7  Armas químicas e biológicas

A guerra fria deixa como herança, além dos arsenais nucleares, grandes arsenais de armas químicas: os maiores são os da **Rússia (estimados em 40.000 toneladas) e dos Estados Unidos (estimados em 30.000 toneladas). Globalmente, os países que produziram tais armas (quer por tê-las introduzido, quer por tê-las produzido) são 17. A estes juntam-se, pelo menos, outros 10, que provavelmente as produziram.

No fim da guerra fria, em 1990, os Estados Unidos e a União Soviética estipulam um acordo pelo qual os arsenais químicos americanos e russos devem ser reduzidos a 50%  até ao final do decénio, mas a sua eliminação procede lentamente visto que leva anos e grandes investimentos para construir os incineradores. Assim, permanece um grande potencial destrutivo: segundo uma estimativa da Associação Química americana, o arsenal químico dos Estados Unidos, ainda que reduzido a metade, estaria em condições de matar cada habitante da Terra, pelo menos, 5.000 vezes; o russo, tecnologicamente menos sofisticado mas quantitativamente maior, seria capaz de fazer outro tanto.

Temendo que os países tecnologicamente menos avançados possam fabricar uma arma química rudimentar, mas sempre perigosa, a «bomba atómica dos pobres», os Estados Unidos e outras grandes potências promovem, em 1993, a Convenção da Destruição das Armas Químicas, que entra em vigor em 29 de Abril de 1970. É assinada por 168 países, 61 dos quais não a ratificam: entre estes, Israel, Ucrânia, Estónia, Lituânia, Cazaquistão, Indonésia, Tailândia, Malásia, Bolivia, Colômbia, Nigéria, Senegal. Outros países – entre os quais o Irão, Iraque, Paquistão e Coreia do Norte – nem mesmo o assinam. Deste modo, as armas químicas continuam a ser uma ameaça, mesmo depois da guerra fria.

Os agentes mais difusos da guerra química (CW) são o gás mostarda e o gás neurotóxico Tabun, Sarin, Soman e VX. O gás Mostarda, empregue pela primeira vez em 1917 pelo exército alemão, é um composto orgânico oleoso,dotado de propriedades vesiculares e tóxicas, que provoca fortes irritações dos olhos e da garganta, dores lancinantes, aparecimento de bolhas em todo o corpo e, nos casos mais graves, a morte por congestão pulmonar. O gás neurotóxico Tabun – inventado em 1936 pela indústria alemã I.G. Farben (a mesma que produz o Zyklon B, usado nas câmaras de gás dos campos de extermínio nazi), penetra no corpo através da pele e, agindo como inibidor irreversível da enzima que regula a descontracção muscular, conduz à morte por asfixia. Outro gás neurotóxico semelhante ao Tabun, mas ainda mais tóxico, é o gás Sarin em 1937, sempre na Alemanha. Um terceiro composto ainda mais letal que o Sarin é o Soman, inventado em 1944. O gás neurotóxico VX, produzido em 1961, nos Estados Unidos com o contributo de pesquisadores alemães, é dez vezes mais eficaz que o Soman: é um líquido oleoso que, depositando-se, conserva a sua acção tóxica durante cerca de três semanas, num clima quente e pouco ventoso, e cerca de quatro meses, num clima frio e sem vento.

A eficácia das armas químicas é notavelmente aumentada com a produção, iniciada nos EUA, em 1987, das armas binárias: trata-se de um projéctil de artilharia, bombas de aviação e ogivas usadas em mísseis, que contêm dois componentes químicos separados e, deste modo, relativamente inócuos, os quais, misturando-se durante a trajectória do projéctil, combinam-se, resultando uma mistura tóxica. Estas armas oferecem a vantagem de uma segurança e maleabilidade maior, nas operações bélicas.

No que diz respeito à defesa contra as armas químicas, os exércitos modernos  têm vários sistemas para revelar a presença de agentes CW: desde pequenos pedaços de papel aderentes aos uniformes, que mudam de cor logo que entram em contacto com agentes químicos, indicando o tipo do tóxico, até detectores sensíveis transportáveis. A protecção do pessoal militar é assegurada com vários tipos de máscaras, dotadas de uma reentrância para beber e de um transmissor da voz e fatos com duas camadas relativamente ligeiras que, embora sendo impermeáveis  aos agentes CW, permitem a transpiração. Todavia, num ambiente de temperatura superior a 26ºC, um soldado com máscara e fato de protecção deve limitar o período de esforço intenso a cerca de uma hora. A descontaminação, efectuada em aparelhos especiais móveis e grandes quantidades de água, requer 15 minutos para cada soldado.

Também é importante considerar que são objecto de estudo, há algum tempo, substâncias capazes de penetrar através de máscaras e fatos protectores. Logo que um soldado mostra efeitos de um gás neurotóxico, deve fazer-se de imediato uma administração de atropina com uma seringa especial que faz parte do seu equipamento; a atropina, com o seu efeito antiespasmódico, alivia os efeitos imediatos do gás neurotóxico mas, sendo um alcalóide venenoso extraído da beladona, produz efeitos debilitantes que requerem o uso de um outro fármaco. Tal operação é muito mais complexa, no caso do soldado estar ferido.

Deste modo, compreende-se que só um exército moderno possui meios, em medida apreciável, para se proteger de um ataque químico. A população, privada de protecção e também de alguns meios, como máscaras e seringas de atropina, não treinada e portanto, facilmente tomada de pânico, pagaria o mais alto preço em vidas humanas, numa guerra química em larga escala.

Ainda mais complexa é a questão das armas biológicas devido ao segredo denso  que circunda este tipo de pesquisas. Os agentes da guerra biológica (BW) são bactérias e virus que, espalhados por via aérea ou através de transportadores (pulgas, moscas, carraças), têm a possibilidade de espalhar epidemias nos países inimigos. Entre estas, estão a bactéria Yersinia Pestis, a causa da peste bubónica (a muito temida «peste negra» da Idade média) e o virus Ebola, contagioso e letal, para o qual não se dispõe de nenhuma terapia.

Para ser eficaz, um agente de guerra biológica não só deve ser altamente contagioso e ter um tempo de incubação muito breve, mas deve ser dificilmente identificável pela população a atingir. Para mascarar melhor o ataque, pode ser usado um agente patogénico endémico na população alvo ou capaz de reproduzir uma infecção endémica. Com as técnicas disponíveis presentemente, também é possível produzir novos tipos de agentes BW para os quais as populações a atingir não teriam defesa,  não dispondo de vacinas específicas. Os exércitos modernos estão dotados de sensores  capazes de assinalar a presença de agentes patogénicos e dispõem  de sistemas de protecção e vacinas. Pelo contrário, a protecção da população civil é praticamente impossível, no caso de um ataque com armas biológicas: para produzir uma vacina  e vacinar uma população inteira, são precisos meses.

Há também, sérios indícios sobre a existência de pesquisas finalizadas sobre o desenvolvimento de uma arma biológica capaz de neutralizar o sistema imunitário humano. O mesmo resulta das actas do Congresso dos Estados Unidos. Em 1969, numa audiência de uma subcomissão da Comissão do Congresso encarregada das verbas militares para 1970, o Vice-Director da pesquisa e projecção do Departamento da Defesa, D. M. MacArthur, declarava: «Até hoje, todos os agentes biológicos são expressões de doenças que se verificam naturalmente e assim, são conhecidas pelos cientistas de todo o mundo. Elas estão facilmente disponíveis, da parte dos cientistas qualificados, para a pesquisa, quer ofensiva, quer defensiva. […] A biologia molecular constitui um campo onde se está a alcançar progressos muito rápidos e, biólogos eminentes, crêem que dentro de um período  de 5 a 10 anos, será possível produzir um agente biológico sintético, um agente que não existe na natureza e para o qual nenhuma imunidade natural poderá ser adquirida.[…] Entre os próximos 5 a 10 anos, provavelmente será possível produzir um novo microorganismo infeccioso que poderá ser diferente, em certos aspectos importantes, de qualquer outro organismo patogénico conhecido. O mais importante é que poderá ser refractário aos procedimentos imunológicos e terapêuticos sobre os quais nos baseamos  para nos podermos manter relativamente imunes às doenças infecciosas. […] Um programa de pesquisa para investigar a sua viabilidade poderia ser completado aproximadamente em 5 anos, com um custo total de 10 milhões de dólares». Obviamente, não se conhece os resultados desta pesquisa. No entanto, permanece o facto de que foi iniciada nos anos setenta com o objectivo de produzir um novo microorganismo infeccioso, não existente na natureza, «para a qual nenhuma imunidade natural poderia ser adquirida», por outras palavras, uma arma biológica capaz de produzir os mesmos efeitos que a SIDA (AIDS).

Certamente outros 13 países, aos quais se juntam, provavelmente, mais 7, diligenciaram ou estão a aprofundar a pesquisa de armas biológicas, apesar de estarem proibidas pela Convenção internacional, que entrou em vigor em 26 de Março de 1975, à qual aderiram 158 países, entre os quais, as maiores potências militares, excepto Israel. No entanto, a Convenção fica limitada ao papel, sobretudo devido à recusa americana de aceitar inspecções nos seus próprios laboratórios. Por conseguinte, existem condições para uma maior proliferação de armas biológicas, bem como de armas químicas. E visto que um país dotado de armas nucleares, pode responder com elas a um ataque químico ou biológico, acaba por criar-se, uma interacção cada vez mais perigosa entre estas três categorias de armas.

**{N.d.T. –  Em 27 de Setembro de 2017, Vladimir Putin assistiu por vídeo conferência à destruição das últimas armas químicas que permaneciam na Federação da Rússia.}

Em 28 de Outubro do mesmo ano, no Encontro em Valdai, Vladimir Putin afirma: 

Uma massa crítica de problemas está a aumentar o risco da segurança global. Como é sabido, em 2002, os Estados Unidos abandonaram o Tratado de Mísseis Antibalísticos. E, apesar de serem os iniciadores da Convenção sobre a Proibição de Armas Químicas e de Segurança Internacional, eles iniciaram esse acordo, mas não cumprem os seus compromissos. Permanecem, ainda hoje, como o único e maior detentor dessa forma de armas de destruição em massa. Os EUA também protelaram o prazo para a eliminação das suas armas químicas de 2007 para 2023. Não parece adequado para uma nação que afirma ser a defensora da não proliferação e do controlo de armas.}

A seguir :

Capítulo 6 

A NOVA OFENSIVA USA/NATO  

6.1  11 de Setembro: maxi-ataque terrorista em mundovisão

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

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