Por que o ódio profundo, visceral e louco a Putin?

Larry Johnson – 29 de novembro de 2022.


Estou falando muito sério ao fazer esta pergunta. Nasci no alvorecer da Guerra Fria e me tornei adolescente nos anos sessenta. Nunca ouvi o nível de ódio expresso em relação a qualquer líder mundial, incluindo Pol Pot [político e revolucionário cambojano – nota da tradutora], comparável ao veneno vomitado em Vladimir Putin.

Eu poderia entender o ódio feroz a Putin se ele tivesse assassinado milhões de seus cidadãos (como Pol Pot) ou de outros países. Ou se ele estivesse por trás da derrubada de governos democraticamente eleitos usando seu antigo grupo, a KGB. Eu não estaria fazendo essa pergunta se Putin tivesse encarcerado os uigures em campos de concentração e os tornado trabalhadores escravos.

Se vamos usar o padrão de “mau comportamento” como medida para saber se um líder mundial é bom ou mau, acho que há um argumento convincente de que Xi Jinping da China, por exemplo, é um personagem mais debilitado do que Putin em termos de suas ações tanto nacional quanto internacionalmente. No entanto, os membros do G-20 não tiveram escrúpulos em tirar uma foto com Xi, mas tiveram que se agarrar desmaiado ao sofá com a perspectiva de serem fotografados ao lado de Putin.

Eu nunca vi nada desse tipo. É infantil, estúpido e perigoso. Deixe-me explicar. A guerra terrestre na Ucrânia voltou-se decisivamente contra a Ucrânia. A combinação de falta de eletricidade, suprimentos limitados de armas do Ocidente, falta de capacidade de produzir novos suprimentos dentro da Ucrânia, falta de bases de treinamento militar seguras, escassez de mão de obra e o início das temperaturas geladas do inverno colocam os militares ucranianos em uma situação difícil. Com base nos relatórios de hoje, os ucranianos agora enfrentam a decisão de retirar-se apressadamente de Bakhmut ou permanecer no local e serem mortos ou capturados. Esta será uma derrota consequente para a Ucrânia. Então, com quem a Ucrânia (ou os Estados Unidos ou o Reino Unido) negocia?

Putin está muito ciente dos insultos e desdém lançados contra ele por seus colegas nos Estados Unidos e na Europa. Ele não tem pressa em abrir negociações com Washington ou com a Europa. Ainda nesta semana, a Rússia cancelou unilateralmente as negociações sobre armas nucleares com os Estados Unidos:

A Rússia acusou os Estados Unidos na terça-feira [29/11/22] de comportamento anti-russo tóxico que, segundo a mesma, a levou a desistir das negociações sobre armas nucleares com autoridades americanas no Cairo nesta semana.

Em comentários fortes, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, também acusou os Estados Unidos de tentar manipular o novo tratado nuclear START a seu favor, embora ela tenha dito que a Rússia ainda está comprometida com ele.

Recomendo o último vídeo de Andrei Martyanov, que aborda esse assunto:

Também recomendo a vocês o mais recente de Phil Giraldi — A Visão de um Mundo Multipolar de Vladimir Putin.

Mesmo no auge da Guerra Fria, nenhum presidente dos EUA – de Truman a George H.W. Bush – entreteve o tipo de criticismo amargo e maledicência que Biden, sua equipe e membros-chave do Congresso expressam ao presidente Putin. O lado dos EUA está operando sob a ilusão de que Putin e a Rússia precisam dos Estados Unidos. Cara, meu Deus!, como a Rússia pode sobreviver sem McDonald’s ou Dunkin Donuts? Bem, adivinhe? A Rússia descobriu que não precisa de nada dos Estados Unidos.

Mas os Estados Unidos com certeza precisam da Rússia. A posição da Rússia como um dos maiores produtores de fertilizantes e urânio a torna essencial para os Estados Unidos. E a Rússia está a caminho de controlar os ricos recursos da Ucrânia. Publiquei a lista a seguir em um post anterior, mas vale a pena repetir.

A UCRÂNIA É:

1º na Europa em reservas comprovadas de minério de urânio recuperável;

2º lugar na Europa e 10º lugar no mundo em reservas de minério de titânio;

2º lugar no mundo em reservas exploradas de minério de manganês (2,3 bilhões de toneladas, ou 12% das reservas mundiais);

A 2ª maior reserva de minério de ferro do mundo (30 bilhões de toneladas);

2º lugar na Europa em reservas de minério de mercúrio;

3º lugar na Europa (13º lugar no mundo) em termos de reservas de gás de xisto (22 trilhões de metros cúbicos)

4º lugar no mundo em valor total de recursos naturais;

7º lugar no mundo em reservas de carvão (33,9 bilhões de toneladas)

A Ucrânia é um importante país agrícola:

1º na Europa em área arável;

3º lugar no mundo pela área de chernozem (25% do volume mundial);

1º lugar no mundo na exportação de girassol e óleo de girassol;

2º lugar no mundo na produção de cevada e 4º lugar na exportação de cevada;

3º maior produtor e 4º maior exportador de milho do mundo;

O 4º maior produtor de batata do mundo;

O 5º maior produtor de centeio do mundo;

5º lugar no mundo em produção de mel (75.000 toneladas);

8º lugar no mundo em exportação de trigo;

9º lugar no mundo na produção de ovos de galinha;

16º lugar no mundo em exportação de queijos.

A Ucrânia pode atender às necessidades alimentares de 600 milhões de pessoas.

A Ucrânia é um importante país industrialmente desenvolvido:

1º na Europa na produção de amônia;

2º e 4º maiores sistemas de gasodutos do mundo;

3ª maior da Europa e 8ª do mundo em capacidade instalada de usinas nucleares;

3º lugar na Europa e 11º no mundo em extensão da rede ferroviária (21.700 km);

3º lugar no mundo (depois dos EUA e da França) na produção de localizadores e equipamentos de navegação;

3º maior exportador de ferro do mundo;

4º maior exportador de turbinas para usinas nucleares do mundo;

4º maior fabricante mundial de lançadores de foguetes;

4º lugar no mundo em exportação de argila;

4º lugar no mundo em exportação de titânio;

8º lugar no mundo na exportação de minérios e concentrados;

9º lugar no mundo na exportação de produtos da indústria de defesa;

10º maior produtor de aço do mundo (32,4 milhões de toneladas).

O controle desses recursos aumentará a alavancagem econômica da Rússia e tornará mais necessário para os países ocidentais lidar com o governo de Vladimir Putin.

Então volto à minha pergunta original – Por que o ódio profundo por Vladimir Putin? Acho que há duas razões. Primeiro, ele se recusou a ser a cadela da prisão do Ocidente. Ele insistiu que os interesses nacionais russos teriam precedência sobre as demandas ocidentais e seguiu um caminho independente. Por exemplo, ele respondeu ao pedido da Síria para ajudar a reprimir a insurgência islâmica financiada pelo Ocidente sem pedir permissão a Washington ou Bruxelas.

Em segundo lugar, ele é sincero na promoção dos valores cristãos, incluindo a rejeição da agenda LBGTQ para normalizar a homossexualidade. Isso realmente afetou o Ocidente. É um pecado imperdoável. E Putin não se importa com o que o Ocidente pensa. Ele está empenhado em promover os valores familiares tradicionais e encorajar a reprodução heterossexual. Putin não é woke [identitário].

Em algum momento nos próximos seis meses, a Ucrânia não terá mais recursos e apoio para continuar a guerra. Conversar com Putin se tornará uma prioridade crítica. O Ocidente encontrará uma maneira de restabelecer relações normais com a Rússia? Mais importante, a Rússia vai querer se engajar com eles?

O que você acha?


Fonte: https://sonar21.com/why-the-deep-visceral-crazy-hatred-of-putin


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