Por que a decisão do governo britânico de enviar urânio empobrecido para a Ucrânia deve ser condenada?

Natasha Hawa – 21 de junho de 2023

O governo britânico falhou em reexaminar a História e reconhecer os danos causados aos países e seus povos pelo uso de urânio empobrecido.

Em março deste ano, o governo britânico anunciou que forneceria à Ucrânia munições perfurantes que contêm urânio empobrecido. Este anúncio foi condenado pela Campanha para o Desarmamento Nuclear no Reino Unido. O grupo afirmou que o urânio empobrecido emite três quartos da radioatividade do urânio natural e acredita-se que o uso desses projéteis leva a um aumento nas taxas de certos tipos de câncer. O Reino Unido já comprometeu-se com £ 2,3 bilhões de libras para a Ucrânia em 2023 e forneceu a mesma quantia ao país em 2022. Além do apoio financeiro, o Reino Unido também forneceu à Ucrânia foguetes, sistemas de defesa, veículos blindados, armas, munições e treinamento.

O urânio empobrecido é um tipo de urânio com menor teor do isótopo físsil. É muito denso e muito mais pesado que os projéteis de aço do mesmo tamanho. O material é, portanto, muito forte e pode penetrar em equipamentos como armaduras pesadas.

O urânio empobrecido foi usado com frequência pelos aliados da OTAN em vários conflitos no passado. Por exemplo, o Reino Unido usou urânio empobrecido no Iraque e na Iugoslávia. Segundo a ONU, os EUA usaram aproximadamente 300 toneladas de urânio empobrecido no Iraque. O grupo de paz holandês PAX indicou que os EUA dispararam urânio empobrecido contra civis e tropas no Iraque. O grupo destacou que mais de 3.000 moradores locais no Iraque foram contaminados por urânio empobrecido, com um custo estimado de aproximadamente US$ 30 milhões para limpar a contaminação. Além disso, médicos e cientistas proeminentes no Iraque apontaram que o uso de urânio empobrecido e outras poluições militares causaram um aumento acentuado de nascimentos com defeitos congênitos, casos de câncer e outras doenças.

Da mesma forma, na Iugoslávia, que experimentou uma campanha de bombardeio de 78 dias pelas forças da OTAN, a aliança militar foi responsável por lançar cerca de 420.000 bombas equivalentes a 22.000 toneladas, 15 das quais incluíam urânio empobrecido. Nas décadas seguintes à campanha, 30.000 pessoas sofreram de câncer, enquanto 10.000 pessoas morreram.

Além disso, há efeitos de longo prazo no meio ambiente decorrentes do uso dessas bombas. Segundo alguns estudos, estima-se que 13 toneladas de urânio empobrecido foram depositadas na região de Kosovo. Há também estimativas de que 176 toneladas de urânio empobrecido foram usadas na ocupação americana do Iraque desde 2003. O urânio empobrecido no solo pode ser incorporado em vegetais, carne e leite de animais e também pode contaminar humanos através da cadeia alimentar. Além disso, o urânio empobrecido também afeta o sistema nervoso central dos animais e pode causar problemas reprodutivos.

Desse modo, ao longo da história, podemos ver que o fornecimento de bombas de urânio empobrecido pode representar uma ameaça significativa para os civis e para o meio ambiente em geral. Em termos do urânio empobrecido fornecido à Ucrânia, o governo russo afirmou que a destruição da munição de urânio empobrecido fez com que uma nuvem radioativa se aproximasse da Europa. Segundo os russos, o aumento da radioatividade foi detectado na Polônia. Alega-se que a Rússia atingiu um depósito de munição de urânio empobrecido em Khmelnytskyi no mês passado [em maio – nota da tradutora], levando a um aumento significativo nos níveis de radiação na região. Uma enorme nuvem de cogumelo foi vista subindo do céu como resultado.

Dados os perigos de tais armas, por que os britânicos forneceram urânio empobrecido à Ucrânia? Claramente, representa uma ameaça para as populações humanas e ambientes mais amplos. Se o Reino Unido realmente se importasse com a população da Ucrânia, eles estariam tentando resolver o conflito diplomaticamente. Em vez disso, eles optaram por agravar ainda mais a situação e, sem dúvida, causar sofrimento a longo prazo, enviando armas tão perigosas para a Ucrânia e, portanto, prolongando a guerra lá, com a esperança final de que a Ucrânia seja capaz de derrotar a Rússia e a mudança de regime ocorra na Rússia.

O presidente Putin da Rússia alertou o Reino Unido para não enviar urânio empobrecido para a Ucrânia, acusando a Grã-Bretanha de implantar armas com um componente nuclear. O órgão de vigilância nuclear das Nações Unidas também pediu cautela ao manusear armas de urânio empobrecido devido aos possíveis perigos de exposição a ele. No entanto, o governo britânico respondeu afirmando que o urânio empobrecido é um componente padrão e não tem nada a ver com armas nucleares. Claramente, o governo britânico falhou em reexaminar a História e reconhecer os danos causados aos países e seus povos pelo uso de urânio empobrecido.

Talvez o Reino Unido deva olhar para países como China e Turquia, que expressaram seu desejo de acabar com o atual conflito com a Ucrânia. A China, por exemplo, emitiu um plano de doze pontos para a resolução da crise na Ucrânia. Os elementos desse plano incluem cessar as hostilidades, retomar as negociações de paz, proteger os civis e manter as usinas nucleares seguras. Certamente, esta deve ser uma prioridade para qualquer pessoa de mente razoável: será o fim do sofrimento, do conflito e da redução da ameaça de uma possível guerra nuclear?

Fonte: https://english.almayadeen.net/articles/blog/why-should-the-decision-of-the-british-government-to-send-de


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