Larry Johnson – 18 de setembro de 2022
Estou certo de que a maioria dos americanos não tem ideia do que aconteceu esta semana na reunião da Organização de Cooperação de Xangai (também conhecida como SCO). É um toque de clarim, uma declaração desafiadora, que os países, que representam mais da metade da população mundial, não vão mais ceder aos Estados Unidos. Os participantes incluíram Rússia, China, Índia, Turquia, Irã, Paquistão, Egito e Arábia Saudita.
Os discursos do russo Vladimir Putin e do chinês Xi Jinping são especialmente dignos de nota. Ambos os países alertaram os Estados Unidos de que os eles e a OTAN serão tratados como patrocinadores do terrorismo porque fornecem armas à Ucrânia que estão sendo usadas para atacar alvos civis. Você pode me acusar de exagero porque nem Putin nem Xi mencionam os Estados Unidos ou a OTAN pelo nome. Mas as ações dos aliados da OTAN na Ucrânia são vistas tanto pela Rússia quanto pela China como atos de terrorismo. Estou reimprimindo as partes mais importantes de cada discurso abaixo.
A Rússia e a China também alertaram o Ocidente de que o Irã não será mais tratado como um estado pária. O Irã foi recebido enfaticamente por Putin e Xi como membro da SCO. No futuro, isso significa que o Irã fará negócios com todos os membros da SCO sob a rubrica de uma nova ordem financeira organizada pela Rússia, China, Índia e Brasil.
Tenho certeza de que isso é uma notícia chocante para os aliados ocidentais. Eles desfrutaram do luxo do domínio do dólar americano como moeda de reserva internacional. Era a Regra de Ouro em ação – aqueles com o ouro fazem as regras. Os Estados Unidos enfrentam um dilema porque insistem em impor sanções internacionais a qualquer nação ou líder que se recuse a seguir a linha de Washington, mas os efeitos negativos dessas sanções estão devastando as economias europeias e prejudicarão os Estados Unidos também.
China e Rússia agora percebem e afirmam que os Estados Unidos não são mais um parceiro confiável. Eles vêem os Estados Unidos como uma criança petulante que, no passado, coagiu outros fazendo birras e lançando operações militares no estrangeiro, mal concebidas e tolas.
Ainda mais importante, mas não dito, os líderes da SCO percebem que Washington não tem liderança. Biden é um palhaço demente. Putin demonstrou isso em sua entrevista coletiva. Ele não tinha um pódio para se apoiar. Ele não tinha uma folha de dicas de jornalistas que o instruísse a quem chamar. E ele falou de forma inteligente de improviso. Preste atenção no que ele diz:
O discurso do presidente Xi apresenta em detalhes o futuro da SCO :
Nestas novas condições, a SCO, como importante força construtiva nos assuntos internacionais e regionais, deve manter-se bem posicionada diante das mudanças nas dinâmicas internacionais, seguir a tendência dos tempos, fortalecer a solidariedade e a cooperação e construir uma comunidade com um futuro compartilhado em torno da SCO.
Primeiro, precisamos aumentar o apoio mútuo. Devemos fortalecer os intercâmbios de alto nível e a comunicação estratégica, aprofundar o entendimento mútuo e a confiança política e apoiar uns aos outros em nossos esforços para defender os interesses de segurança e desenvolvimento. Devemos nos precaver contra as tentativas de forças externas de instigar a “revolução colorida”, opor-nos conjuntamente à interferência nos assuntos internos de outros países sob qualquer pretexto e manter nosso futuro firmemente em nossas próprias mãos.
Em segundo lugar, precisamos expandir a cooperação em segurança. Um provérbio no Uzbequistão diz que “Com paz, um país desfruta de prosperidade, assim como com chuva, a terra pode florescer”. A Iniciativa de Segurança Global apresentada pela China visa abordar o déficit de paz e os desafios de segurança global. Exorta todos os países a permanecerem fiéis à visão de segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável e a construir uma arquitetura de segurança equilibrada, eficaz e sustentável. Congratulamo-nos com todas as partes interessadas para se envolver na implementação desta iniciativa.
Devemos continuar a realizar exercícios conjuntos de antiterrorismo, reprimir duramente o terrorismo, o separatismo e o extremismo, o tráfico de drogas, bem como os crimes organizados cibernéticos e transnacionais; e devemos enfrentar efetivamente os desafios em segurança de dados, biossegurança, segurança no espaço sideral e outros domínios de segurança não tradicionais. A China está pronta para treinar 2.000 policiais para os estados-membros da SCO nos próximos cinco anos e estabelecer uma base China-SCO para treinar pessoal de combate ao terrorismo, a fim de aumentar a capacitação para a aplicação da lei nos estados-membros da SCO.
Terceiro, precisamos aprofundar a cooperação prática. Proporcionar uma vida melhor para as pessoas de todos os países da região é nosso objetivo comum. A Iniciativa de Desenvolvimento Global lançada pela China visa concentrar a atenção global no desenvolvimento, promover a parceria de desenvolvimento global e alcançar um desenvolvimento global mais robusto, mais verde e mais equilibrado. A China está pronta para trabalhar com todas as outras partes interessadas para buscar esta iniciativa em nossa região para apoiar o desenvolvimento sustentável dos países regionais.
Em quarto lugar, precisamos melhorar os intercâmbios culturais e interpessoais. As trocas promovem a integração entre as civilizações, o que, por sua vez, permite que as civilizações avancem. Devemos aprofundar a cooperação em áreas como educação, ciência e tecnologia, cultura, saúde, mídia, rádio e televisão, garantir o sucesso contínuo de programas de assinatura, como o campo de intercâmbio de jovens, o fórum de mulheres, o fórum de convivência interpessoal e amizade e o fórum sobre medicina tradicional, e apoiar o Comitê de Boa Vizinhança, Amizade e Cooperação da SCO e outras organizações não oficiais no desempenho de seus devidos papéis. A China construirá uma zona de demonstração de esportes de neve e gelo e sediará os fóruns da SCO sobre redução da pobreza e desenvolvimento sustentável e em cidades irmãs no próximo ano. Nos próximos três anos, a China realizará 2.000 operações de catarata gratuitas para os estados-membros da SCO e fornecerá 5.000 oportunidades de treinamento de recursos humanos para eles.
Quinto, precisamos defender o multilateralismo. A obsessão em formar um pequeno círculo só pode empurrar o mundo para a divisão e o confronto. Devemos permanecer firmes em salvaguardar o sistema internacional centrado na ONU e a ordem internacional baseada no direito internacional, praticar os valores comuns da humanidade e rejeitar o jogo de soma zero e a política do bloco. Devemos expandir os intercâmbios da SCO com outras organizações internacionais e regionais, como a ONU, para defender conjuntamente o verdadeiro multilateralismo, melhorar a governança global e garantir que a ordem internacional seja mais justa e equitativa. . . .
A China apoia o avanço da expansão da SCO de maneira ativa e prudente, e isso inclui passar pelo procedimento para admitir o Irã como estado-membro, lançar o procedimento para a adesão da Bielorrússia, admitir Bahrain, Maldivas, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Mianmar como parceiros de diálogo e concedendo aos países candidatos relevantes o estatuto jurídico que lhes é devido. Precisamos aproveitar a oportunidade para construir consenso, aprofundar a cooperação e criar juntos um futuro brilhante para o continente eurasiano.
Aqui, desejo expressar as felicitações da China à Índia por assumir a próxima presidência da SCO. Iremos, juntamente com outros estados-membros, apoiar a Índia durante a sua presidência.
O discurso de Putin é curto e direto ao ponto:
Partilho plenamente as declarações dos meus colegas e as suas avaliações positivas sobre o trabalho da Organização de Cooperação de Xangai e (SCO) o seu crescente prestígio nos assuntos internacionais. De fato, a SCO se tornou a maior organização regional do mundo.
No entanto, gostaria de repetir que a política e a economia globais estão prestes a sofrer mudanças fundamentais e irreversíveis. O crescente papel dos novos centros de poder está ganhando destaque, e a interação entre esses novos centros não se baseia em algumas regras que lhes são impostas por forças externas e que ninguém leu, mas nos princípios universalmente reconhecidos do Estado de direito internacional e a Carta da ONU, ou seja, segurança igual e indivisível e respeito pela soberania, valores e interesses nacionais de cada um.
É sobre esses princípios, desprovidos de todos os elementos de egoísmo, que se baseiam os esforços conjuntos dos estados-membros da SCO na política e na economia. Isso abre amplas perspectivas para a continuação da cooperação mutuamente benéfica na política, economia, cultura, humanitária e outras esferas.
A luta contra o terrorismo e o extremismo, o tráfico de droga, o crime organizado e as formações armadas ilegais continua a ser uma prioridade da nossa cooperação. Outras áreas-chave incluem a prestação de assistência na solução política e diplomática de conflitos ao longo de nossas fronteiras externas, inclusive no Afeganistão. . . .
Nesse contexto, a Rússia, sem dúvida, favorece a adesão mais rápida possível da República Islâmica do Irã à SCO, o que os documentos e o memorando que serão assinados hoje pretendem realizar. Estamos convencidos de que a participação plena do Irã será benéfica para a associação, pois esse país desempenha um papel importante na região da Eurásia e no mundo em geral.
Também apoiamos totalmente a decisão submetida à aprovação do Conselho de Chefes de Estado para iniciar o processo de admissão da República da Bielorrússia como membro da SCO. Deixe-me esclarecer que defendemos sempre que a Bielorrússia, que é o parceiro estratégico da Rússia e o aliado mais próximo, deveria participar plenamente da SCO. Isso, sem dúvida, melhorará nossa capacidade de promover a unidade na política, economia, segurança e assuntos humanitários.
No passado, os Estados Unidos controlavam a bola e ditavam as regras do jogo. Os países da SCO não vão mais deixar os Estados Unidos ditarem onde, quando e como o jogo é jogado. Eles estão trazendo sua própria bola e estabelecendo suas próprias regras. Peço desculpas antecipadamente pela metáfora pobre, mas isso é um pouco como o PGA Tour ficando chocado e indignado com o surgimento de um tour de golfe profissional alternativo, o LIV. Há um jogador novo e potencialmente mais poderoso no cenário mundial e os Estados Unidos podem ser relegados à galeria do amendoim e forçados a assistir.
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