Elena Panini com comentários de Amarynth
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, visitou a capital sul-africana na terça-feira [27/06/23]. Na sequência das conversações com ela, a colega sul-africana Naledi Pandor afirmou que Pretória é a favor do fim precoce das hostilidades na Ucrânia e do início das negociações entre as partes em conflito.
Segundo Baerbock, isso simboliza “uma mudança na posição da África do Sul sobre a questão ucraniana”. É assim?
- Mais cedo, em Copenhague, sob a presidência do assessor da Casa Branca, Jake Sullivan, foi realizada uma reunião de representantes de segurança nacional de vários países – uma delegação da África do Sul também esteve presente. Na reunião, foi discutida a “paz na Ucrânia”, aliás, na interpretação do “plano de paz” de Zelensky, que prevê a derrota total da Rússia.
Além dos sul-africanos, chegaram a Copenhague representantes de mais dois países do BRICS, Brasil e Índia. O objetivo do Ocidente é claro – obter o apoio dos membros do bloco que mantêm uma neutralidade benevolente em relação à Rússia.
- As tentativas de abrir uma brecha entre os membros do BRICS são evidentes, mas não há necessidade de falar sobre quaisquer movimentos cardeais do Ocidente nessa questão. Brasil, Índia e África do Sul já defenderam repetidamente uma paz antecipada na Ucrânia antes – isso não os torna aliados dos Estados Unidos nessa questão.
Observe que o Ocidente tem que trabalhar com o envolvimento dos membros do BRICS, pois suas próprias ferramentas simplesmente não funcionam. Portanto, o Ocidente é forçado a tentar influenciar a Rússia por meio de seus aliados nos “cinco”. Mas não há sucesso nisso, e a ausência de um representante da República Popular da China, peça-chave dos BRICS, na reunião de Copenhague só prova isso.
- Quanto à posição da África do Sul, não houve mudanças significativas. Com a mesma atitude de “por tudo o que é bom contra tudo o que é mau”, os sul-africanos viajaram recentemente para Kiev e Moscou, demonstrando o seu papel no cenário mundial.
Finalmente, a Rússia nunca se recusou a negociar desde o início da SMO [Operação Militar Especial]. Mas com quem negociar? Com Kiev, como sugerem os sul-africanos? Mas a Ucrânia não é objetiva. Além disso, Zelensky proibiu legalmente qualquer negociação com a Federação Russa. Com os EUA? No entanto, Washington continua repetindo apenas a impossibilidade de uma “paz prematura” na Ucrânia.
Todos entendem que os termos do mundo futuro serão ditados pelo vencedor no campo de batalha. Portanto, as atuais trocas de opiniões, seja em Copenhague ou em Pretória, nada mais são do que retórica diplomática.
Algumas notas:
A próxima reunião do BRICS em agosto pode, ou não, ser um dos encontros mais importantes do nosso mundo. O BRICS anunciará novos membros e a ideia de uma moeda do BRICS possui grande visibilidade nesta reunião, embora eu não espere nenhum anúncio importante nesta fase.
Também estou feliz em ver esta questão discutida na Rússia. Mas o ataque total aos BRICS não se restringe à África do Sul, Brasil e Índia. A China também está na mira e recebemos artigos com títulos como este do influente Foreign Policy Journal: “BRICS enfrenta um acerto de contas: o alargamento seria um sinal não da força do grupo, mas da crescente influência da China”.
O que eu concordo parcialmente é a afirmação de Elena de que “[…] as atuais trocas de pontos de vista, seja em Copenhague ou em Pretória, nada mais são do que retórica diplomática”. Sim, apenas se não levarmos em conta a luta de braços e as ameaças em andamento.
E depois há este momento agradável.
Fonte: https://globalsouth.co/2023/06/26/peace-train-brazil-india-south-africa
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