Série Crônicas do Colapso no Ocidente – O modus operandi do império norte-americano: fomentação de terrorismo, golpes de Estado e bandeiras-falsas para atingir vários de seus objetivos geopolíticos

Lady Bharani – 13 de outubro de 2022


Iniciamos hoje uma série de discussões sobre os sinalizadores do colapso no Ocidente. Tais indicadores fazem-se cada vez mais presentes em nossas sociedades, nas esferas financeira, comercial, política, social e cultural. Uma boa fonte de consulta sobre esse assunto é a obra The Five Stages of Collapse (2013)/Os Cinco Estágios do Colapso (2015), de Dmitry Orlov.

Aqui Quantum Bird responde às minhas perguntas dentro deste escopo, de forma pontual, concisa e muito generosa. Sua análise articula muito bem alguns desses sinalizadores do colapso, nos oferecendo um quadro mais abrangente – e demasiado preocupante – do nosso atual contexto civilizatório.

Lady Bharani pergunta a Quantum Bird

Pergunta: Dmitry Orlov, em um artigo bem recente, apontou que os EUA ostentam uma forte propensão a se valerem de bandeiras falsas para atingir vários de seus objetivos geopolíticos. Basta relembrarmos o 11 de Setembro (2001), pontua Orlov, “onde 3 arranha-céus, o WTC[*] 1, 2 e 7, foram derrubados, acredite, usando-se 2 Boeings!”

Orlov prossegue, comentando sobre o uso americano de explosivos táticos e nucleares para fins políticos, rememorando Hiroshima (06/09/1945) e Nagasaki (09/09/1945) e sugerindo que o acidente de Fukushima (11/03/2011), no Japão, foi proposital para naufragar a indústria de energia nuclear japonesa.

Ao que tudo indica, os acontecimentos mais recentes nesse sentido foram as sabotagens na rede Nord Stream (26/09/2022). Você poderia discutir um pouco sobre isso?

Quantum Bird: Muito já foi escrito e dito a respeito desse acontecimento, portanto irei direto ao ponto.

1- A explosão das 3 linhas (duas no NS1 e uma no NS2) representam uma catástrofe sem precedentes para a economia alemã. Tudo somado, e considerando também a desativação massiva dos reatores nucleares e geradores a carvão e outros combustíveis fósseis, a Alemanha perdeu, nos últimos 10-15 anos, 40% ou mais de seus insumos energéticos. A população do país, e o consumo de energia cresceram muito neste período, e os níveis pré-pandemia de atividade econômica são insustentáveis na configuração energética atual.

Resumindo, estamos presenciando o colapso econômico da Alemanha.


2- Os EUA sempre fizeram uso abundante do terrorismo, tanto em casa como no exterior, como ferramenta política. Trata-se de uma abordagem bastante tacanha para atingir objetivos no curto prazo, às custas da estatura, legitimidade, credibilidade dos próprios EUA no médio e longo prazo. Essa abordagem nunca garantiu vitórias, ela apenas promove o caos em casa, ao empoderar psicopatas radicais e criminosos de guerra, e no exterior, onde fomenta uma oposição cada vez mais visceral a qualquer negócio com o império.

O caso dos gasodutos não é exceção. Os EUA não estão minimamente em posição de salvar a Alemanha do colapso econômico que já está se desenrolando. O caos político resultante tornará cada vez mais difícil dominar a Alemanha sem recorrer a golpes de Estado e ações militares diretas. Os EUA parecem ter calculado que as indústrias alemãs migrariam rapidamente para lá, e a colônia alemã transitaria para uma economia de serviços, compradora, não concorrente, dos produtos americanos. Isto parece mais com um pensamento desejoso do que com a realidade. Esse movimento pode até acontecer com pequenas indústrias, mas a indústria pesada não pode simplesmente realocar do dia para noite, mesmo porque o capital para fazê-lo não está disponível e se tornará ainda mais escasso uma vez que o sistema financeiro ruir.

O público alemão, que atualmente passa frio e outras necessidades, e se impõe uma vida cada vez mais espartana, por falta de energia e dinheiro, não me parece muito pronto para consumir produtos yankees refinados. Michael Hudson e Yves Smith escreveram excelentes ensaios sobre isto recentemente. Nós os traduzimos no Saker Latam.

3- Sendo assim, o único país que poderia salvar a Alemanha seria a Rússia. E depois de tudo que os alemães fizeram contra ela, na Ucrânia e em outros teatros, a única possibilidade de colaboração para reconstruir os gasodutos e restabelecer os contatos diplomáticos e a colaboração econômica seria com uma Alemanha fora da OTAN e da UE. Qual a probabilidade disso acontecer?

O mesmo vale para a China. Por que iriam os chineses investirem em infraestrutura na Alemanha, colônia dos EUA, via OTAN e UE? Para ser explodida como fizeram com os gasodutos? Rússia e China têm parceiros melhores para fazer negócios.

Esse foi o resultado imediato, o que pelo menos podemos antecipar agora, do ato terrorista ianque na UE. Não me parece um ganho estratégico, muito mais uma derrota estratégica, diria.

[*] WTC – The World Trade Center


Fontes:

1. The Five Stages of Collapse: Survivor’s Toolkit (2013)/Os Cinco Estágios do Colapso: Kit de Ferramentas para o Sobrevivente (2015), de Dmitry Orlov

2. Decoding “Putin Nuclear Threat”, por Dmitry Orlov – 05 de outubro de 2022 – traduzido pelo Saker LatinoAmérica: Decodificando a “Ameaça Nuclear de Putin” – 05 de outubro de 2022

3. Michael Hudson on the Euro Without Germany, por Michael Hudson – 30 de setembro de 2022 – traduzido pelo Saker Latinoamérica: Michael Hudson sobre o Euro sem a Alemanha – por Michael Hudson – 05 de outubro de 2022

4. The Inevitable Financial Crisis, por Yves Smith – 03 de outubro de 2022 – Naked Capitalism – traduzido pelo Saker LatinoAmérica: A crise financeira inevitável – 04 de outubro de 2022


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