Nash Landesnan – 21 de janeiro de 2022 – (Traduzido por @QuantumBird)January 22, 2022
A seguir, uma entrevista exclusiva com o deputado russo da Duma, Yevgeny Fyodorov, um legislador nacionalista conservador de alto escalão do Partido Rússia Unida do presidente Vladimir Putin. Foi presidente do Comitê de Política Econômica da Duma Estatal e membro do Conselho Consultivo do Presidente da Federação Russa. Abaixo discutimos a guerra com a Ucrânia, princípios de soberania e geopolítica, a batalha energética em curso, a opção nuclear e o restabelecimento da esfera soviética, tudo dentro do contexto da ambição dos EUA e da contra-estratégia russa.
INTRODUÇÃO:
No topo da lista de prioridades unipolares está a iminente “ameaça” russa de fornecer aos consumidores europeus aquecimento e gás de cozinha acessíveis e confiáveis em termos de contrato de longo prazo estáveis em meio ao auge do inverno. Somente os Estados Unidos e seus “aliados”/[subordinados/colaboradores] podem deter essa ameaça, suplantando o gás russo barato, canalizado de distâncias relativamente curtas, com gás natural líquido dos EUA, muito mais caro e tecnicamente complexo, enviado do outro lado do Atlântico, capitalizando a “revolução” do xisto americano, enquanto eliminam a influência russa na Europa – matando dois coelhos com uma cajadada só. [Entretanto, pelo menos vinte e nove terminais de entrada de regaseificação multibilionários tenham sido construídos por toda a Europa sob pressão dos EUA para importar seus suprimentos, um novo oleoduto russo ameaça tornar esses custos irrecuperáveis].
O oleoduto russo “representaria uma ameaça existencial à segurança energética europeia”, afirma um projeto de lei de sanções dos EUA, implicando que a própria noção de segurança energética fora dos auspícios dos EUA/UE é, por si, uma ameaça. Washington está tentando bloquear esse desenvolvimento, usando vários meios que agora incluem a ameaça de guerra sob qualquer pretexto.
Nos tempos soviéticos, até 80% das importações de gás russo da Europa atravessavam a Ucrânia – mas ultimamente esses fluxos diminuíram a um fio, devido à guerra por procuração de Washington em Donbass, a expansão da OTAN, a tendência de Kiev de “sugar” gás russo e não pagar suas contas, bem como outros fatores. Não é de admirar que Moscou esteja atuando para estabelecer rotas alternativas, evitando a instabilidade gerada por terceiros.
Este ano, os preços do gás na Europa dispararam para recordes, adicionando combustível às ambições russas de contornar seu vizinho hostil com seu mais recente projeto, o recém-concluído gasoduto de 11 bilhões de dólares, NordStream-2, correndo sob o mar Báltico direto para a Alemanha, evitando crucialmente o trânsito terrestre via estados sujeitos ao controle externo.
O NordStream-2 poderia ser um grande benefício geopolítico tanto para a Rússia quanto para a Alemanha, ajudando esta última a alcançar a independência energética necessária para tomar medidas para traçar um curso independente e/ou remover as tropas de ocupação dos EUA de seu território, ainda presentes sob o guarda-chuva da OTAN, desde Segunda Guerra Mundial.
Apesar da recente conclusão do gasoduto, a Comissão Europeia adiou (indefinidamente) a certificação necessária para que a Rússia comece a bombear o gás. Se Moscou irá em frente e o fará de qualquer maneira, permanece no ar.
O que está claro é que a contra-estratégia dos EUA é uma colcha de retalhos de ameaças, histeria e extorsão. Como Richard Morningstar, ex-diplomata dos EUA e diretor fundador do Centro de Energia Global do Atlantic Council, disse sem rodeios:
“Acho que o Nord Stream 2 é realmente uma má ideia…”.
O oleoduto também mina um esquema de globalização radical, inter-relacionado e de longo desenvolvimento – um mercado interno de gás da UE estabelecido sob a Carta Europeia de Energia, projetado para desmantelar a Gazprom, impedindo a Rússia de possuir ou controlar seus ativos de energia a jusante.
Grandes estados de trânsito terrestre como a Ucrânia ajudam a garantir que a Rússia “obedeça às regras”. Mas depois de se retirar do tratado mencionado, em 2009, a Rússia fechou acordos bilaterais de gás com estados como Hungria e Bielorrússia, enfurecendo Washington e Bruxelas. Agora o NordStream-2 simbolizaria a derradeira afronta à arquitetura do mercado interno de energia, pois envolve a nação mais poderosa da Europa, a Alemanha, sem estados de trânsito intermediários.
[ Berlim foi deixada no frio desde que cedeu à pressão para eliminar gradualmente sua capacidade nuclear e cessar a produção doméstica de carvão ].
A questão pertinente é: de quais suprimentos externos Berlim passará a depender? O futuro da Europa pode depender da resposta.
A ex-chanceler alemã Angela Merkel apoiou o gasoduto, seu ministro das Relações Exteriores, Sigmar Gabriel, junto com o chanceler federal austríaco, Christian Kern, reclamaram : “O projeto de lei dos EUA [regime de sanções] é surpreendentemente sincero sobre o que realmente está em jogo, nomeadamente a venda de gás natural liquefeito americano e o fim do fornecimento de gás natural russo ao mercado europeu. Não podemos aceitar a ameaça de sanções extraterritoriais ilegais… envolvendo a Rússia, como NordStream-2, [que] afetam as relações euro-americanas de uma maneira nova e muito negativa”.
Enquanto isso, os detratores insistem que um gasoduto evitando a Ucrânia daria à Rússia mais influência sobre seu vizinho mais fraco, apesar do distanciamento implícito, um pensamento duplo que requer pouca ou nenhuma explicação.
No entanto, um membro teimoso da Duma da Rússia explica o que realmente está acontecendo, do ponto de vista de Moscou, e o que está realmente em jogo nesta saga em desenvolvimento.
ENTREVISTA :
P: Como a política da UE afeta o consumo de energia dos estados europeus?
R: A alternativa ao nosso gás natural é, obviamente, importar o GNL dos EUA, que é muito mais caro. As partes interessadas cruciais em nosso gás canalizado são a Europa e especialmente a Alemanha. A questão-chave surge do fato de que a UE quer o controle absoluto sobre o gasoduto NordStream-2. Eles querem controlar tudo. O princípio da competição das nações está envolvido. A Rússia também está interessada no controle total desses suprimentos de gás; ajuda a Rússia a cumprir as suas obrigações. Não reconhecemos nenhum terceiro para jogar este jogo como um controlador externo ao longo do pipeline.
Daí a posição dos alemães: eles apoiam o NordStream 2 porque ele garante seu equilíbrio de gás e entendem que, caso contrário, faltará gás. O NordStream-2 é uma espécie de “varinha mágica” para a Rússia porque ajuda a Alemanha a obter um fornecimento estável de gás e assinar contratos de longo prazo. Caso contrário, eles precisarão manter as temperaturas em suas residências muito baixas. Se a UE se recusar a certificar o NordStream-2, a Europa congelará. Seria como atirar na própria perna.
A posição da Europa é esta: nos dê todas as rotas de transporte e campos de gás – mas isso contradiz o princípio russo de soberania estatal. Então a Rússia não vai concordar com isso. Nossa posição é simples: nós fornecemos gás, você pode pegar ou não. Não vamos resolver seus problemas domésticos.
P: Quais são os impedimentos para o fluxo de gás através do recém concluído gasoduto NordStream-2?
R: O bloqueio do NordStream-2 é resultado da pressão dos americanos. Aí precisamos entender o bom senso. Qual é o interesse dos americanos? É um interesse muito básico. Não há lucro econômico no GNL fornecido pelos EUA. O interesse dos EUA é que eles geralmente são contra a independência econômica alemã. Sim, temos tropas militares americanas na Alemanha, a Alemanha está sendo controlada pelos EUA. Caso a Alemanha se torne muito independente, simplesmente jogará fora o controle americano. É assim que a história funciona. Claro, é por isso que os americanos são contra o NS2. Não apenas por causa da competição com seu GNL, mas também por causa da política anti-alemã dos EUA. Eles não gostam que a Alemanha ganhe um novo nível de independência econômica; tal nível que permitiria à Alemanha livrar-se do controle americano.
É claro que os EUA não gostariam que os países europeus, particularmente a Alemanha, se tornassem mais poderosos. Assim, o interesse geopolítico dos EUA consiste em que a Alemanha não seja capaz de resolver seus problemas de fornecimento de gás além da influência dos EUA, sem a influência da Ucrânia, Polônia etc. Como resultado, os americanos se opuseram ao NordStream-2 desde o início. É obvio. Porque uma coisa é controlar alguns países e manipulá-los, e outra é absolutamente diferente quando a Alemanha terá um suprimento regular de gás e será independente dos EUA. É a posição dos EUA, é clara e compreensível.
A posição da Alemanha: precisa de um fornecimento de gás confiável e independência. A posição da Rússia: ganhar dinheiro pelo seu fornecimento de gás. Nos próximos anos, a Alemanha se tornará cada vez mais soberana/independente e um dia as tropas americanas serão retiradas de seu território. Tenho certeza de que um dia a Alemanha levantará a questão da retirada das tropas de ocupação americanas de suas terras. Você sabe, essas tropas foram simplesmente renomeadas de tropas de ocupação para tropas da OTAN. É do interesse do povo alemão e em algum momento os alemães farão isso. A Rússia definitivamente os ajudará, não de maneira militar, mas criando as bases geopolíticas para nações livres.
E agora outra questão: a situação na União Europeia. Regulamentos/tratados/cartas/pacotes de energia europeus foram adotados não pela Alemanha, mas pela UE, que é muito influenciada pelos EUA. Eles criaram os chamados pacotes de energia … Se os países da UE tivessem assinado contratos de longo prazo, não haveria qualquer aumento de preço. Eles poderiam ter concordado em US$ 300 por metro cúbico por muitos anos à frente. Mas sem esses contratos o preço disparou para US$ 1.000, prejudicando a Alemanha e outros países europeus.
P: Como a questão da soberania entra em vigor?
R: Qual é a principal motivação de qualquer nação? Soberania e liberdade. E se há alguma tropa de ocupação em suas terras, é tudo menos liberdade. É por isso que qualquer nação exigirá que os exércitos de ocupação deixem seu país, mesmo que no momento eles não falem sobre isso abertamente por causa da propaganda. A Alemanha caminha nessa direção. É um processo normal. Um mundo unipolar não é normal nem legal no contexto histórico. Ou existe um Império, como o Império Romano, o de Alexandre, o Grande, ou o mundo é multipolar. Não há outra opção.
O mundo unipolar de hoje é volátil. E os americanos entendem isso. Eles têm duas opções: ou criar um império colonial (mas não são poderosos o suficiente para fazê-lo) ou aceitar/abraçar o modelo de mundo multipolar. Eles são guiados pelas regras da competição entre as nações segundo as quais todos são inimigos de todos. É assim que as pessoas vivem no mundo. Todas as guerras foram causadas por isso. A lógica é: você é o mais poderoso e o resto é suprimido por você. Todos são suprimidos por você, não apenas grandes inimigos como a Rússia, mas aliados também. Eles são aliados porque as tropas americanas estão em seu território, mas não porque amam a América.
P: Por que os EUA ainda insistem no trânsito de gás pela Ucrânia?
R: Outra jogada é o jogo com a Ucrânia, onde ainda falamos sobre manter o abastecimento de gás transitando por ela. Ninguém (na Rússia) se recusa a transitar pela Ucrânia. Mas as conversas e desejos são sobre o lucro substancial que a Ucrânia obterá com o trânsito de nosso gás em seus territórios. Os americanos continuarão insistindo que a Rússia deve financiar sua própria guerra com a Ucrânia, até que o NS2 comece a funcionar; até que a Rússia consiga excluir a Ucrânia do financiamento de suas ações militares com dinheiro russo [via taxas de trânsito no valor de bilhões de dólares por ano].
Francamente falando, há uma parte específica da Ucrânia que se recusou a seguir as ordens do recém-emergido poder em Kiev, que ocupou o poder em 2014. O novo gasoduto submarino (NS2) não deve envolver um terceiro como o que temos que lidar com no caso da Ucrânia. Nosso gasoduto submarino é mais conveniente para a Europa. É claro que quando o gasoduto da Ucrânia foi construído em meados do século passado, não havia tecnologias de gasodutos submarinos. Agora, esta nova tecnologia surgiu graças ao progresso científico.
P: Quais são as implicações econômicas dessa batalha energética?
R: Vejamos esta questão do ponto de vista da ciência, da história e da geopolítica. O que é o dólar americano? O dólar americano é uma moeda mundial. Vejamos alguns números: o faturamento do dólar americano no mundo é de 40%, o faturamento do euro é de 40%, enquanto o faturamento do rublo é de apenas 0,18%. Assim, o volume de negócios do rublo é 400 vezes menor que o do dólar ou do euro. O rublo não existe em escala global.
Os americanos construíram seu consumo às custas do dólar mundial. As estimativas mostram que os americanos consomem 4 vezes mais do que produzem em seu território. A situação na Rússia é exatamente o oposto. A Rússia produz 4 vezes mais do PIB global do que consome. Como resultado, a Rússia contribui para a economia mundial, enquanto os EUA são um verme\parasita [enfase do tradutor]. Estes são apenas números\dados, nada pessoal. Então, o dólar é de grande importância para os americanos.
O dólar exige jurisdição mundial – lei anglo-saxônica – porque a moeda não tem valor se não for suportada pelo sistema jurídico. Daí vem o mecanismo da jurisdição mundial, o mundo unipolar como autoridade vertical. Segundo Putin, “um centro de poder significa um centro de tomada de decisão”. Qual é o interesse da Rússia? Para restaurar o rublo, o que permitirá à Rússia controlar imediatamente 6% do volume de negócios da moeda mundial. E gostaria de lembrar que atualmente controlamos apenas 0,18%. No longo prazo, levando em conta que a Rússia possui 1\3 dos recursos mundiais, esperamos que esse número atinja 1\3 do faturamento mundial. Queremos ter o direito de imprimir moeda.
P: As questões acima mencionadas implicam um pivô para a Ásia?
R: Existe uma política de redução da dependência dos países da UE do gás russo. Estamos prontos para vender nosso gás aos países da UE. Mas vemos que a legislação da UE cria danos à Europa, por exemplo. Agora, o preço do gás natural saltou para US$ 900 por 1.000 metros cúbicos. Mas esses são problemas internos; eles devem ser capazes de estabelecer sua legislação de modo que não prejudique sua economia. No que diz respeito às relações China-Rússia e fornecimento de gás natural à China, a oferta continuará a crescer.
Trata-se de rentabilidade geopolítica e econômica. Existem algumas questões que levam a isso. Rússia e China têm um objetivo comum: estabelecer a soberania. Reitero um número para os economistas: na economia mundial, o dólar e o euro representam 80% da economia mundial. O rublo russo compreende um vigésimo de 1% das reservas globais. Centenas de vezes menos. Naturalmente isso é injusto e ilegal. E continuaremos a política que resultará na situação em que o rublo russo igualará a economia da Rússia e a capacidade de exportação de recursos. E a China será nossa aliada.
P: Qual é a posição geral dos estados europeus, não obstante a legislação do mercado interno da UE?
R: Quem é o inimigo do mundo unipolar americano? O inimigo de qualquer mundo unipolar, incluindo o americano, são estados\países nacionais milenares, como Alemanha, França, etc… porque esses países não querem receber ordens. A França é independente há mais de 1000 anos.
Eles não precisam de chefes em Bruxelas, muito menos em Washington. Portanto, a política dos EUA é subjugá-los. Os EUA têm tentado atingir este objetivo, em primeiro lugar, ajudando na criação da UE e pelas guerras do Mediterrâneo que levaram milhões de refugiados a romper os regimes nacionais francês, alemão etc.. Esse é o objetivo. Por que os EUA bombardearam a Líbia, a Síria? Por que eles estavam envolvidos no golpe de estado no Egito? É claro que eles queriam destruir estados nacionais milenares, o que leva à destruição econômica.
P: O que você acha das leis de desrussificação na Ucrânia?
R: É uma ferramenta ocupacional destinada a limitar e proibir o idioma russo na Ucrânia. O caráter e a característica básica da nação russa é que é um povo cultural com grande história. E a língua russa é um fator muito importante na consolidação e união de várias nações menores.
No território da Ucrânia, como a própria Ucrânia não é um estado legal da posição do Direito Internacional. Assim, na Ucrânia fora dos partidos extranacionais. Em primeiro lugar, os EUA e seus aliados realizam a política para impedir o processo de restabelecimento da pátria unida conjunta dentro de suas fronteiras de 1945. Por sua vez, o processo de restabelecimento em muitas partes da ex-União Soviética está sendo realizado por todas as partes interessadas.
Deste fato emerge o conflito dentro da Ucrânia. Este conflito só poderia ser resolvido pelo estabelecimento de um único estado unido da Ucrânia e da Rússia. Caso contrário, nunca será resolvido e durará para sempre. Na verdade, o reencontro (da Ucrânia e da Rússia) definitivamente acontecerá um dia, é minha forte convicção. Todos os principais especialistas sérios entendem isso. A situação (entre a Rússia e a Ucrânia) ainda não está regulamentada de acordo com os procedimentos que orientam a liquidação da União Soviética. Isso é o mais importante para entender. Para dizer em palavras grosseiras, a situação com a Ucrânia e a Crimeia foi prolongada e adiada até hoje. Estas são as raízes dos conflitos e discussões com a Ucrânia sobre a Crimeia e Donbass e Lugansk, e com a Moldávia, Transdniestria, Geórgia, Abkhazia, etc.
P: Como a Rússia vê as ações subversivas em estados próximos como a Bielorrússia, por exemplo?
R: Como uma tentativa de intrusão de um terceiro no território de uma entidade estatal internacionalmente reconhecida, uma pátria comum dentro das fronteiras de 1945. Na verdade, reagiremos à intrusão em qualquer outro país, não apenas na Bielorrússia. A Rússia usará ferramentas de escudo e defesa. As ferramentas de defesa que temos incluem armas nucleares, para proteger nossas fronteiras e mantê-las seguras. Em outras palavras, se a América entrar no território da Bielorrússia, nossos mísseis nucleares serão direcionados para Londres, Washington, Nova York e outras cidades .Os EUA continuarão a manipular a Ucrânia e a Bielorrússia para se oporem à Rússia. Eles utilizarão a questão das fronteiras estaduais não regulamentadas [veja hoje: Cazaquistão] entre esses países como uma alavanca contra seu concorrente e oponente, a Rússia.
P: Você acha que as bases de mísseis dos Estados Unidos na Eurásia são direcionadas para a Rússia?
R: Não ignoramos a realidade de que os EUA instalaram bases de mísseis em toda a Eurásia. E o Departamento de Estado [dos EUA] estava dizendo que eles vão formar novas bases nucleares militares lá, inclusive em países asiáticos. Por favor, entenda que esta é uma história muito simples. A Rússia planeja usar suas armas nucleares não contra os países onde foi lançada contra a Rússia, mas contra as cidades mentoras onde as decisões foram tomadas. Para ser exato, é Washington, Nova York, Los Angeles, Chicago e outras cidades americanas. Por favor, entenda completamente, no caso de armas nucleares americanas serem lançadas, por exemplo. Taiwan, ou Polônia, a resposta atingirá Nova York ou Washington.
P: Por favor, elabore os pacotes de longo prazo do mercado interno de gás/tratado de energia da UE.
R : Claro. A política europeia era rejeitar contratos de longo prazo. Essa política era para iniciar uma guerra competitiva em que, como diziam, o preço seria reduzido em função da concorrência. E aqui reside o seu erro de julgamento. A concorrência só funciona se houver excesso de oferta.
Mas levando em consideração o impulso econômico pós-Covid da China e da Ásia [entre outros fatores], não houve excesso de oferta. Como resultado, a UE falhou. [preços mais altos, no entanto, aumentaram a demanda por importações de GNL dos EUA, talvez implicando que o plano da Rússia saiu pela culatra, jogando nas mãos da América]. Aqueles que assinaram contratos de longo prazo não sofreram nada. Algumas empresas francesas, por exemplo, não perderam nada. Eles até se beneficiaram disso. Portanto, este aumento de preços é culpa da UE. O que a Rússia quer é apenas ganhar dinheiro com seus produtos. A Rússia pensa assim: se não vendermos gás na Europa, podemos vendê-lo na China.
P: Qual é a situação em torno das negociações dos EUA com a Alemanha em relação à energia russa?
R: Veja: Quem é mais importante: o fornecedor ou o consumidor que paga? Certamente, é o consumidor. Então, quem é o principal ator nessa situação: Alemanha ou Rússia? Alemanha. É por isso que os EUA se opõem ao NordStream-2 negociando com a Alemanha, não com a Rússia. A Alemanha é o principal jogador aqui. Assim, os EUA exerceram pressão sobre a Alemanha. E a Alemanha, por sua vez, tentou compensar oferecendo investir no sistema ucraniano, hidrogênio etc… As negociações sobre o NordStream-2 foram conduzidas entre a Alemanha e os EUA, mas não entre a América e a Rússia.
P: Como eventos improvisados, como a fraude “Russiagate”, o suposto envenenamento de Navalny, a histeria em torno do acúmulo de tropas russas ao longo da fronteira russo-ucraniana etc. influenciam a opinião pública?
R: A Rússia é constantemente culpada e há duas razões para isso. Em primeiro lugar, a Rússia não tem influência em sua própria esfera de informação; não tem a tecnologia necessária. Até as redes sociais da Rússia, a televisão são americanas. Os meios de comunicação de massa na Rússia estão além da jurisdição da Rússia. A Rússia não tem “armas” na esfera da informação. Além disso, é muito conveniente colocar toda a culpa na Rússia para resolver os próprios problemas domésticos. É prática comum.
P: Os Pacotes/Carta do Tratado de Energia da UE são inviáveis?
R: Os pacotes energéticos da UE baseiam-se no excesso de oferta do mercado. O que quero dizer é que eles obtêm suprimento de gás de todos os lugares, dos EUA, Ásia, Noruega e Rússia. A Europa quer obter o preço mais baixo devido à concorrência entre esses fornecedores. Ele só funciona desde que haja excesso de oferta devido a diferentes razões, incluindo logística de transporte [além da alegada retenção de fornecimento pela Rússia do mercado para alavancar as negociações da NordStrream-2]. Então foi uma estratégia errada. Eu tenho apenas uma pergunta aqui: essa estratégia foi errada porque eles são tolos em Bruxelas ou porque eles apenas jogaram com os americanos? Eu acho que foi o último. A situação saiu do controle: levou ao aumento de preços. Agora eles não sabem como lidar com isso.
P: A Rússia aceitará os termos e condições desses pacotes de energia?
R: Ao elaborar este pacote de energia (e levou anos), eles não previram a síndrome pós-Covid que mudou a situação globalmente. Mas a posição da Rússia é muito simples. Apoiamos a soberania. Historicamente, o conceito de soberania na palavra russa é uma prioridade. Respeitamos a soberania dos outros. A posição russa é simples: aqui está o gás, você pode pegar ou não. Não vamos mudar seus próprios regulamentos internos.
P: Qual é a diferença entre a estratégia geopolítica dos EUA e da Rússia?
R: Temos uma estratégia geopolítica diferente. A estratégia dos EUA é apoiar o faturamento do dólar no mundo. A economia doméstica dos EUA depende do dólar externo. Daí 800 bases (militares) no exterior.
A política histórica estratégica da Grã-Bretanha e mais tarde da América – a chamada “política da canhoneira”, está criando zonas de conflito e apoiando ambas as partes em conflito com o objetivo de controlar a situação. Essa é a política dos EUA. Origina-se do princípio americano de construção da nação. A política da Rússia é administrar exclusivamente nosso próprio negócio. Somos um país de política defensiva/protetora. A única exceção foi a URSS com sua ideologia marxista das revoluções mundiais. Mas foi uma exceção temporária e foi rejeitada pela Rússia.
P: Você considera as reclamações ecológicas da Polônia como parte do esquema americano?
R: Claro. A Polônia está sob controle dos EUA. Se os americanos removerem esse controle, ele será ganho pela Alemanha. Mas não é do interesse dos EUA, então eles usam a Polônia e a Ucrânia. Eles tentaram controlar a Bielorrússia, mas falharam. É um choque de estratégias. A estratégia americana é “dividir para reinar”. Os americanos querem dividir a Rússia para obter suprimentos separadamente da Sibéria, Ural. Mas como a Rússia tem armas nucleares, esse plano não funcionará para eles.
P: A Rússia gostaria de restaurar algo como a URSS?
R: A prioridade aqui consiste em restabelecer os resultados legais, em restaurar algo que foi violado ilegalmente. Se um país está dividido legalmente, eles têm o direito de fazê-lo. Por exemplo, a República Tcheca e a Eslováquia decidiram se separar. Se eles fizeram isso legalmente, isso não é um problema. Mas se for ilegal, deve ser revogado. Você sente a diferença?
Quanto à Iugoslávia, deve-se examinar a legitimidade de sua divisão. Quais são as relações entre as leis internacionais e internas\domésticas? O direito internacional não interfere com as leis domésticas. Um país só pode ser destruído\dividido por suas próprias leis. Se as leis internas da Iugoslávia foram quebradas ao dividir a Iugoslávia, então este país deveria ser restaurado. Pela mesma razão, os americanos insistem em que a Sérvia reconheça Kosovo. Porque os americanos estão bem cientes de que até que a Sérvia reconheça a independência de Kosovo, Sérvia e Kosovo não podem ser considerados legalmente divididos, não importa quantas bases americanas (militares) estejam localizadas em Kosovo.
Sem dúvida, a dissolução da União Soviética foi ilegal. Aliás, do ponto de vista da lei, não foi dissolvida porque nenhuma república, exceto os Estados Bálticos, tomou a decisão de deixar a União Soviética. As repúblicas decidiram pela soberania do Estado, mas qualquer união consiste em estados soberanos. Então, isso não significa a dissolução do sindicato.
P: Quem controla o Banco Central da Rússia?
R: Você deve entender como funciona o nosso Banco Central. O Banco Central é o Depositário do FMI e garante e responde pela circulação mundial de USD e inclui parte do território russo. Então o Banco Central faz parte da circulação do dólar. O rublo russo é um derivado das circulações do dólar e do euro. A emissão de rublos é feita proporcionalmente a parte dos negócios de exportação, como parte das receitas em dólares e euros resultantes de tais operações. Portanto, a política do Banco Central e a política do rublo não refletem a economia russa. Isso só mostra nosso potencial de exportação. Então entendemos que precisamos de reformas para nacionalizar nosso sistema de câmbio e Banco Central. E as reformas criariam um volume de moeda rublo dentro da Rússia em correlação com as exportações. Semelhante ao que o BCE e o Forex estão fazendo. Planejamos essa reforma.
Nash Landesnan escreveu para várias publicações. Ele pode ser contatado em NashLandesman1@gmail.com .
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