Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança da Rússia, em entrevista à Rossiyskaya Gazeta 

 

Núcleo de tradução do Blog do Saker e do Saker Latinoamérica — 30 de abril de 2022

Imagem de capa: Nikolai Patrushev. "O Ocidente criou um império de mentiras que implica a humilhação e destruição da Rússia". Foto: Mikhail Sinitsyn / RG

Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança da Rússia, falou sobre as tarefas da operação especial russa e do papel dos Estados Unidos no apoio aos neonazistas em entrevista à Rossiyskaya Gazeta. E também sobre o futuro próximo da Europa, as sanções e as reservas russas de ouro e divisas, e quais mudanças esperam por nosso país em breve.


Nikolai Platonovich: hoje, talvez, o termo “Guerra Fria II” não pareça mais um exagero. Os americanos não hesitam em declarar que venceram o confronto com a URSS e agora também vencerão. Como você avalia esses pontos de vista?

Nikolai Patrushev:  Washington causou e está causando crises em sua busca por consolidar sua hegemonia, resistindo ao colapso do mundo unipolar. Os Estados Unidos estão fazendo de tudo para que outros centros do mundo multipolar nem ousem levantar a cabeça, e nosso país não apenas ousou, mas declarou publicamente que não jogará pelas regras impostas. Eles tentaram forçar a Rússia a desistir de sua soberania, identidade, cultura e política externa e doméstica independente. Não temos o direito de concordar com esta abordagem.

Na tentativa de suprimir a Rússia, os americanos, usando seus protegidos em Kiev, decidiram criar uma antítese de nosso país, escolhendo cinicamente a Ucrânia e tentando dividir essencialmente um único povo. Tendo falhado em oferecer qualquer coisa de positivo à Ucrânia, mesmo antes do golpe de estado de 2014, Washington promoveu a ideia de exclusividade da nação ucraniana e o ódio a tudo o que é russo. No entanto, a história ensina que o ódio nunca pode se tornar um fator confiável de unidade nacional. Se há algo que une os povos que vivem na Ucrânia hoje, é apenas o medo das atrocidades dos batalhões nacionalistas. Portanto, o resultado da política do Ocidente e do regime de Kiev controlado por ele só pode ser a desintegração da Ucrânia em vários estados.

A Europa, como você alertou há um ano, acabou enfrentando uma crise sem precedentes, incluindo uma causada pelo fluxo de refugiados ucranianos. Como isso pode afetar a situação interna dos próprios países europeus?

Nikolai Patrushev: A  Europa está enfrentando uma profunda crise econômica e política em seus países. O aumento da inflação e o declínio dos padrões de vida já estão afetando a carteira e o humor dos europeus. Além disso, a migração em grande escala acrescenta novos desafios às antigas ameaças à segurança, como a distribuição ilegal de drogas e o crime transnacional. Quase cinco milhões de imigrantes ucranianos já chegaram à Europa. Num futuro próximo, seu número aumentará para dez milhões. A maioria dos ucranianos que foram para o Ocidente acredita que os europeus devem apoiá-los e sustentá-los, e quando são forçados a trabalhar, começam a se rebelar.

Representantes da comunidade criminosa que escaparam da Ucrânia tentarão ocupar nichos que lhes são favoráveis, colocar grupos criminosos locais sob controle, o que sem dúvida será acompanhado por um aumento da criminalidade na Europa. Veremos um renascimento da venda generalizada de crianças órfãs retiradas da Ucrânia para posterior adoção ilegal na Europa. O Ocidente já está enfrentando um renascimento do mercado paralelo para a compra de órgãos humanos de segmentos socialmente vulneráveis ​​da população ucraniana para operações clandestinas de transplante para pacientes europeus.[Ênfase do tradutor, que há anos alerta para este problema tanto no Brasil quanto na Europa. Sem ser devidamente ouvido, obviamente – nota do tradutor]

O fluxo de migrantes da Ucrânia começou muito antes de 2022 e agora lembra a Europa sobre doenças há muito esquecidas. Afinal, apenas um décimo dos refugiados da Ucrânia são vacinados contra infecção por coronavírus, hepatite viral, tuberculose, rubéola e sarampo. Porque nesta antiga próspera república da União Soviética, o sistema de controle sanitário e epidemiológico e de atenção primária à saúde foi quase completamente destruído.

O objetivo da desnazificação é destruir a base neonazista criada pelos esforços do Ocidente em nossas fronteiras.

Mas isso, aparentemente, apenas flores?

Nikolai Patrushev:  Você está certo. Isto é apenas o começo. No contexto das sanções anti-russas, o mundo está gradualmente mergulhando em uma crise alimentar sem precedentes. Dezenas de milhões de pessoas na África ou no Oriente Médio estarão à beira da fome por causa do Ocidente. Para sobreviver, eles vão correr para a Europa. Não estou certo de que a Europa sobreviverá à crise. Instituições políticas, associações supranacionais, economia, cultura e tradições podem se tornar coisa do passado. A Europa uivará de frustração impotente, mas a América se libertará de seu principal medo geopolítico — a união política e econômica da Rússia e da Europa.

A América há muito divide o mundo inteiro em vassalos e inimigos. Somos um campo de testes para eles. Foto: Getty Images

Os Estados Unidos e seus aliados ignoram a ideologia neonazista e fascista aberta na Ucrânia, bombeando-a com as armas mais modernas. Não está na hora de reconhecermos vários países hostis como países que apoiam o fascismo, com todas as consequências que daí decorrem?

Nikolai Patrushev: A  Europa já está enfrentando um aumento de manifestações oficialmente proibidas de fascismo e neonazismo, já que criminosos Banderistas com visões neonazistas estão fugindo do inevitável processo criminal junto com imigrantes da Ucrânia. Isso levará ao renascimento das ideias nazistas na Europa, a fenômenos que até pouco tempo eram considerados impossíveis. O crescimento do sentimento ultradireitista é provável, alimentado por dezenas de milhares de radicais ucranianos treinados e experientes em combate que já encontraram uma linguagem comum com os fãs europeus de Hitler.

A história está se repetindo. Afinal, o Ocidente quase até setembro de 1939 negou o perigo do regime nazista. Em 1938, a revista Time reconheceu Hitler como o Homem do Ano.

Adolf Hitler: Man of the Year, 1938 eBook: Time Magazine ...

Nikolai Patrushev:  Na década de 1930, o Ocidente não somente não negou, mas contribuiu ativamente para a formação e construção do poder do nazismo na Alemanha. Especialmente com grandes negócios. Foi mais tarde, após a guerra, que os historiadores ocidentais criaram o mito dos industriais alemães que supostamente deram a principal contribuição para a criação da economia de guerra de Hitler. Algumas empresas americanas chegaram a colaborar com os nazistas até 1943, ou seja, até a virada decisiva na guerra.

Existe até uma teoria de que o gás Zyklon B usado pelos nazistas para matar pessoas em campos de extermínio foi criado usando tecnologias ocidentais.

Nikolai Patrushev:  E você pode ler sobre como os nazistas construíram todo esse processo. Todo mundo conhece, por exemplo, a IBM. Era em suas máquinas de contagem que os nazistas mantinham registros e planejavam os processos de extermínio de pessoas em campos de concentração. Seu CEO, Watson, recebeu um prêmio nacional de Hitler. E este é apenas um dos muitos exemplos. Agora a história está de fato se repetindo. O Ocidente ainda fornece o apoio mais ativo aos neonazistas ucranianos, continuando a inundar a Ucrânia com armas.

O complexo militar-industrial americano e europeu está exultante, porque graças à crise na Ucrânia está cheio de encomendas. Não é de se surpreender que, ao contrário da Rússia, que está interessada na rápida conclusão de uma operação militar especial e minimizando as perdas de todos os lados, o Ocidente está determinado a lutar até o último ucraniano. Por alguma razão, o mundo ainda pensa que militaristas e agressores precisam usar uniformes. Mas não se deixe enganar pela respeitabilidade anglo-saxônica. Nenhuma roupa extravagante pode mascarar o ódio, a raiva e a desumanidade.

Se todas as instruções do chefe de Estado em matéria de substituição de importações fossem cumpridas a tempo, poderíamos evitar muitos problemas na economia.

Muitos de nossos oponentes no mundo alegam que não entendem ou não reconhecem os objetivos de uma operação militar especial, considerando-os absurdos.

Nikolai Patrushev:  A operação militar especial tem objetivos específicos, de cuja realização depende não apenas o bem-estar, mas da vida de milhões de pessoas, a salvação da população da LPR e da DPR do genocídio que os neonazistas ucranianos promovem há 8 anos. Ao mesmo tempo, o fascismo de Hitler sonhava em destruir toda a população russa, e hoje seus seguidores, de acordo com os preceitos de Hitler, estão tentando blasfemamente fazer isso com as mãos dos eslavos. A Rússia não permitirá que isso aconteça.

Falando em desnazificação, nosso objetivo é destruir a base neonazista que o Ocidente criou em nossas fronteiras. A necessidade de desmilitarização é causada pelo fato de que uma Ucrânia fortemente armada representa uma ameaça para a Rússia, inclusive do ponto de vista do desenvolvimento e uso de armas nucleares, químicas e biológicas.

Você acha que os Estados Unidos podem realmente encenar tais provocações na Ucrânia?

Nikolai Patrushev:  Você está falando de um país cuja elite não é capaz de apreciar a vida dos outros. Os americanos estão acostumados a andar em chão queimado. Desde a Segunda Guerra Mundial, cidades inteiras foram destruídas por bombardeios, inclusive nucleares. Eles inundaram a selva vietnamita com veneno, bombardearam sérvios com munição radioativa, queimaram iraquianos vivos com fósforo branco e ajudaram terroristas a envenenar sírios com cloro. Eu não acho que a vida dos ucranianos seja uma preocupação para os Estados Unidos, que provaram repetidamente sua natureza agressiva e anti-humana. Como a história mostra, a OTAN também nunca foi uma aliança defensiva, mas apenas ofensiva.

Por que as elites americanas precisam de tudo isso?

Nikolai Patrushev:  A América há muito divide o mundo inteiro em vassalos e inimigos. Nos Estados Unidos, as pessoas são ensinadas desde a infância que a América é uma cidade brilhante em uma colina, e o resto da humanidade é apenas um campo de testes para experimentos e um apêndice de recursos. Quatrocentos anos atrás, colonos da Inglaterra roubaram e mataram os índios porque pensavam que eles eram selvagens incivilizados. Agora tudo isso foi substituído por uma retórica democratizante e baseada nos direitos humanos e a pirataria continua em escala global. As elites americanas lembram como os Estados Unidos conseguiram se tornar uma superpotência após duas guerras mundiais, mas agora não querem aceitar que o império global americano esteja em agonia.

O colapso do mundo centrado nos Estados Unidos é uma realidade, na sua opinião?

Nikolai Patrushev:  Esta é a realidade na qual você precisa viver e seguir o curso de ação. Nesse sentido, a Rússia escolheu o caminho da proteção integral de sua soberania, defesa firme dos interesses nacionais, identidade cultural e espiritual, valores tradicionais e memória histórica.

Nossos valores espirituais e morais nos permitem permanecer nós mesmos, ser honestos com nossos ancestrais, preservar o indivíduo, a sociedade e o Estado. Os europeus, por exemplo, fizeram uma escolha diferente. Eles adotaram os chamados valores liberais, embora na realidade sejam neoliberais. Promovem a prioridade do privado sobre o público, o individualismo que suprime o amor à Pátria e o desaparecimento gradual do Estado. Agora é óbvio que com tal doutrina, a Europa e a civilização europeia não têm futuro. Aparentemente, eles repetirão as lições que ainda não aprenderam.

Quais?

Nikolai Patrushev:  Existem muitas delas. Não se esqueça de que todas as convulsões históricas começam com a disseminação de ideias populares, mas potencialmente destrutivas. Pense na Revolução Francesa. De seus slogans mal interpretados surgiu a tirania de Napoleão, que afogou metade da Europa em sangue, mas quebrou os dentes na Rússia.

O que nosso país fez? França desmembrada, Paris queimada? Não, o imperador Alexandre I restaurou o estado francês e em 1815 iniciou a criação da Santa Aliança na Europa. A União visava respeitar a integridade territorial dos Estados, reprimir os movimentos nacionalistas e assegurar os quarenta anos de existência pacífica da Europa.

Pouco mais de cem anos depois surgiu a ideologia do nazismo. A União Soviética fez todo o possível para destruí-lo, mas ao mesmo tempo iniciou o renascimento de um Estado alemão independente. Stalin insistiu nisso na Conferência de Yalta. A URSS foi a primeira a apoiar a unificação da Alemanha no final dos anos 1980. Nosso país historicamente desempenhou um papel especial na formação não apenas do clima geopolítico, mas também moral no mundo.

Você descreveu figurativamente o estilo anglo-americano de interação com o mundo como pirataria. Agora, o Ocidente está fazendo um ataque pirata semelhante à Rússia. E, neste contexto, coloca-se a questão de quão justificada foi a decisão de colocar reservas de ouro e divisas no exterior?

Nikolai Patrushev:  Essa decisão acabou sendo injustificada do ponto de vista da segurança financeira do Estado. Outra coisa é que, ao fazê-lo [confiscar as reservas — nota do tradutor], o Ocidente está atingindo não apenas a Rússia, mas também a si mesmo. O atual sistema financeiro global é construído exclusivamente com base na confiança, inclusive nos Estados Unidos como emissor da moeda de reserva mundial. Há meio século, o fator ouro estava presente, mas em 1971, os Estados Unidos desvincularam sua moeda de suas cotações, o que possibilitou a emissão de dinheiro de forma praticamente descontrolada.

Tentando sustentar sua economia em um constante estado pré-crise, os Estados Unidos estão inundando ativamente seus bancos, empresas e a população com dinheiro garantido por obrigações governamentais. O resultado foram altas taxas de inflação na América e na Europa. Ao mesmo tempo, a dívida externa dos EUA ultrapassou US$ 30 trilhões. No entanto, por alguma razão, os americanos estão discutindo um possível calote da Rússia. “É hora de eles entrarem em default”. Para superar as consequências negativas das políticas anteriores e criar novas oportunidades de enriquecimento, os Estados Unidos estão criando uma crise global. Ou seja, eles querem resolver seus problemas às custas do resto do mundo, aliás, principalmente às custas da Europa.

Na minha opinião, isso não incomoda os europeus.

Nikolai Patrushev:  Além disso, eles estão felizes em caminhar na direção do abismo que os Estados Unidos cavaram para eles. Nesse sentido, muita coisa mudou desde a Guerra Fria. Naquela época, os europeus resistiram a Washington com mais confiança. Aparentemente devido ao fato de que as velhas gerações de políticos realistas ainda não eram coisa do passado. Naquela época, o muro estava em Berlim, e hoje a atual elite europeia tem um muro na cabeça.

Não acho que a vida dos ucranianos seja uma preocupação para os Estados Unidos, que têm provado repetidamente sua natureza agressiva e desumana. A OTAN também nunca foi uma aliança defensiva, apenas ofensiva.

Na década de 1980, em um esforço para enfraquecer a economia soviética, os Estados Unidos tentaram proibir as empresas europeias de comprar hidrocarbonetos de Moscou. Naquela época, a Europa não concordava com Washington. Os Estados Unidos também proibiram suas próprias empresas de vender tecnologias de perfuração offshore para a URSS, o que resultou em dezenas de empresas americanas e japonesas sendo afetadas. Washington usou a desinformação para atrasar a construção da União Soviética de um gasoduto para a Europa. Isso te lembra alguma coisa?

E o que precisamos fazer para garantir a soberania do rublo?

Nikolai Patrushev:  Para que qualquer sistema financeiro nacional seja soberanado, seu meio de pagamento deve ter valor intrínseco e estabilidade de preços, sem estar atrelado ao dólar. Nossos especialistas estão trabalhando em um projeto proposto pela comunidade científica para criar um sistema monetário e financeiro de duplo circuito. Em particular, propõe-se determinar o valor do rublo fazendo com que ele seja lastreado tanto em ouro quanto em uma cesta de mercadorias, e colocar a taxa de câmbio do rublo em linha com a paridade do poder de compra real.

Ideias semelhantes foram levantadas antes. Mas muitos especialistas alegaram que elas contrariam as teorias econômicas…

Nikolai Patrushev:  Elas não contradizem as teorias econômicas, mas sim os livros de economia ocidentais. O Ocidente estabeleceu unilateralmente um monopólio intelectual sobre a estrutura ideal da sociedade e o utiliza há décadas. Deixe-me lembrá-lo que as reformas de choque da década de 1990 em nosso país foram realizadas estritamente de acordo com as diretrizes americanas.

O fascínio de nossos empresários que surgiram daquela época apenas com mecanismos de mercado, sem levar em conta as especificidades do nosso país, é um fator de risco. Não nos opomos a uma economia de mercado e à participação nas cadeias produtivas globais, mas temos plena consciência de que o Ocidente só permite que outros países sejam seus parceiros quando for lucrativo para ele. Portanto, a condição mais importante para garantir a segurança econômica da Rússia é contar com o potencial interno do país, o ajuste estrutural da economia nacional em uma base tecnológica moderna.

Com que sucesso essa tarefa está sendo resolvida hoje? Agora, novamente, muito se fala em substituição de importações, mas não é segredo que um avanço decisivo ainda não foi alcançado.

Nikolai Patrushev:  As tarefas e prioridades estão definidas de forma absolutamente correta e continuaremos a implementá-las. Outra coisa é que é necessário apertar significativamente a disciplina de sua implementação, inclusive entre os departamentos relevantes.

Se todas as instruções do chefe de Estado no campo da substituição de importações fossem cumpridas a tempo, poderíamos evitar muitos dos problemas que a economia russa enfrenta hoje.

Vou te dar um exemplo. A criação de uma fábrica em São Petersburgo para a produção de insulina de alta qualidade foi contestada por várias entidades russas. Hoje, trata-se de um empreendimento sério, onde a produção de medicamentos é totalmente independente da importação, com exceção das embalagens. No entanto, isso também deve ser produzido por nós mesmos, como nos dizem, por exemplo, os fabricantes de alimentos. É claro que não devemos fechar os olhos para conquistas significativas. Sucesso significativo na substituição de importações foi alcançado pelas empresas da Rostec Corporation, principalmente aquelas que produzem produtos da indústria de defesa.

Para citar outro exemplo, graças à Doutrina de Segurança Alimentar desenvolvida pelo Conselho de Segurança, conseguimos aumentar a autossuficiência de nosso país com alimentos básicos. Esta é uma conquista muito séria, que nosso país não conseguiu alcançar ao longo de todo o século XX. Portanto, todas as tentativas dos ocidentais de transferir a responsabilidade pela crise alimentar global provocada por eles para a Rússia estão obviamente fadadas ao fracasso.

A Rússia terá que expandir a gama de produtos domésticos de alta tecnologia. É importante promover os desenvolvimentos domésticos na produção o mais rápido possível. Daremos especial atenção às mudanças qualitativas na seleção de pessoal científico e na avaliação da eficácia de suas atividades. A ciência russa deve se tornar uma força produtiva líder, uma das forças motrizes do desenvolvimento de nosso país.

Estou confiante de que resolveremos todos os problemas que surgiram como resultado das restrições das sanções. A Rússia está se movendo do mercado europeu para os mercados africano, asiático e latino-americano. Damos atenção prioritária à União Econômica da Eurásia, cuja importância está crescendo nas condições atuais. Estamos intensificando a cooperação com os países BRICS e SCO, que reúnem cerca de três bilhões e meio de pessoas no planeta.

Você mencionou a ciência, mas nas condições modernas, acho que é necessário reconstruir não só ela, mas também o ensino superior e a escolarização.

Nikolai Patrushev:  Estou sinceramente convencido de que não podemos desenvolver com sucesso sem uma compreensão clara por toda a sociedade de nossas metas e objetivos nacionais, a profundidade total de nossa identidade espiritual e histórica. Portanto, todo cidadão de nosso país, todo russo, desde a infância deve saber e entender o que todos vivemos e trabalhamos como um único povo e o que lutamos.

O Ocidente continua a agir de acordo com a doutrina desumana do “bilhão de ouro”, que implica em uma redução significativa da população mundial de várias maneiras. Para fazer isso, o Ocidente criou maliciosamente um império de mentiras que implica a humilhação e destruição da Rússia e de outros estados indesejáveis. Eles cospem em nossos olhos e dizem que é o orvalho de Deus.

Washington e Bruxelas não escondem o fato de que suas sanções visam ao empobrecimento material e espiritual dos russos. Destruir nossa educação impondo os chamados modelos progressivos de educação é uma tarefa tão estratégica para os ocidentais quanto, por exemplo, aproximar a OTAN de nossas fronteiras.

Na verdade, não há nada de progressivo ali. Nos Estados Unidos, por exemplo, muitas pessoas já dizem que se deve cantar e dançar nas aulas de matemática, porque resolver problemas e equações oprime e discrimina alguém. Não precisamos de tal “progresso”. A situação atual comprova a necessidade de defender os valores espirituais e morais tradicionais russos, reformar o sistema educacional e iluminista com o retorno de vantagens historicamente justificadas da escola nacional. Ainda estou convencido de que a escola soviética de educação tem sido historicamente a mais avançada e progressista do mundo, e o avanço deve levar isso em consideração.

O que exatamente deve ser feito?

Nikolai Patrushev:  É necessário prestar mais atenção ao desenvolvimento do pensamento lógico, para formar um conhecimento estável e a capacidade de tomar decisões independentes, e não apenas preencher lacunas nos testes. Desenvolver a aplicação das ciências fundamentais.

É impossível contar apenas com a digitalização da educação, pois a Internet pode ser não apenas uma fonte de informação enciclopédica, mas também de desinformação politizada. No centro de tudo está o desenvolvimento de qualidades intelectuais e espirituais pessoais. Crianças devidamente educadas, bem-educadas, física e moralmente saudáveis, que conhecem e compreendem a história e a cultura de sua pátria, são nossa riqueza e garantem o desenvolvimento bem-sucedido garantido da Rússia. Pelo bem do futuro de nossos filhos, pelo bem de um país próspero no qual eles viverão, que estamos trabalhando hoje.


Fonte primária (em russo): https://rg.ru/2022/04/26/patrushev-zapad-sozdal-imperiiu-lzhi-predpolagaiushchuiu-unichtozhenie-rossii.html


Fonte secundária (em inglês): https://thesaker.is/nikolai-patrushev-secretary-of-the-russian-security-council-in-an-interview-with-rossiyskaya-gazeta/

Traduzido por Quantum Bird.

One Comment

  1. Claudio M said:

    Impressively racional comments/analysis. It’ll be a better/united world when western minds understand these simple truths

    1 May, 2022
    Reply

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