Nikolai Patrushev: a verdade está do nosso lado – sobre o momento da operação especial

AiF entrevista Nikolai Patrushev – 24 de maio de 2022

A operação especial na Ucrânia culminou no confronto entre a Rússia e os países ocidentais liderados pelos Estados Unidos. As batalhas estão acontecendo não apenas na vastidão da Ucrânia, mas também nos planos econômico, político e cultural.

Quais ameaças a Rússia enfrenta e por quanto tempo a operação especial pode continuar, o secretário do Conselho de Segurança da Federação Russa, Nikolai Patrushev contou à AiF.


O que o Ocidente está tentando fazer?

– Gleb Ivanov (AiF.ru): Nikolai Platonovich (Patrushev), os Estados Unidos e outros estados ocidentais estão demonizando abertamente a Rússia, partindo para insultos diretos. Com o que isto está conectado?

– Nikolai Patrushev: O estilo dos anglo-saxões não mudou durante séculos. Ainda hoje eles continuam a ditar seus termos ao mundo, pisoteando grosseiramente os direitos soberanos dos Estados. Mascarando suas ações com palavras sobre a luta pelos direitos humanos, liberdade e democracia, eles estão na verdade implementando a doutrina do “bilhão de ouro”, que sugere que [apenas – adiconado pelos tradutores] um número limitado de pessoas pode florescer neste mundo. O destino do resto, como eles acreditam, é perecer em nome de seu objetivo.

Para aumentar o bem-estar de um punhado de magnatas da cidade de Londres e Wall Street, os governos dos Estados Unidos e do Reino Unido, controlados pelo grande capital, estão criando uma crise econômica no mundo, condenando milhões de pessoas na África, Ásia e América Latina à fome, limitando seu acesso a grãos, fertilizantes e recursos energéticos. Com suas ações, estão provocando desemprego e uma catástrofe migratória na Europa. Desinteressados ​​pela prosperidade dos Estados europeus, fazem de tudo para que eles desapareçam do pedestal dos países economicamente desenvolvidos. E, para o controlar incondicionalmente esta região, eles colocaram os europeus em uma cadeira com duas pernas chamadas OTAN e UE, e ficam observando com desdém como eles se equilibram.

– Hoje, cada vez mais se diz que as empresas farmacêuticas ocidentais estão interessadas na disseminação de doenças perigosas e na dependência diária da humanidade a medicamentos…

– Alguns especialistas expressam uma opinião sobre a infecção por coronavírus ser causada pelo homem, acreditando que ela poderia ter sido criada nos laboratórios do Pentágono com a assistência de várias grandes empresas farmacêuticas multinacionais. Fundos dos Clintons, Rockefellers, Soros e Bidens foram envolvidos neste trabalho sob garantias estatais. Em vez de cuidar da saúde da humanidade, Washington gasta bilhões no estudo de novos patógenos. Além disso, a medicina ocidental está cada vez mais praticando engenharia genética, métodos de biologia sintética, borrando assim a linha entre o artificial e o natural.

– Washington está traçando planos para reconhecer a Rússia como um país terrorista, alguns países como a Lituânia já estão atribuindo oficialmente esse status à Rússia…

– Como dizem, o chapéu do ladrão está pegando fogo. Hoje é mais prático dizer qual das maiores organizações terroristas internacionais não surgiu com a ajuda americana. Os Estados Unidos as utilizam amplamente como instrumento de confronto geopolítico, inclusive com nosso país. Em meados da década de 1980, sob o controle dos serviços de inteligência americanos, a Al-Qaeda foi criada em solo afegão para combater a União Soviética. Na década de 1990, os Estados Unidos criaram o movimento Talibã para influenciar o Afeganistão e a Ásia Central.

Guiados por seus supostos “interesses nacionais”, os Estados Unidos derrubaram regimes indesejados ​​na Líbia, no Iraque pela força das armas, e tentaram fazê-lo na Síria. E a principal força de ataque em todos os casos são os grupos radicais, cuja unificação posterior levou à criação de um monstro terrorista chamado Estado Islâmico, que, assim como a Al-Qaeda e o Talibã, saiu do controle dos americanos.

Também se sabe sobre as relações calorosas de Washington com os bandidos neonazistas na Ucrânia.

O que significa desnazificação?

– Ainda há muita controvérsia a respeito dos neonazistas na Ucrânia. No Ocidente, eles repetem unanimemente que eles não existem lá. O presidente Biden, pedindo ao Congresso bilhões de dólares em suprimentos de armas para a Ucrânia, chamou este país de linha de frente da luta pela liberdade…

– É provável que os ocidentais não tirem seus óculos cor-de-rosa até que os bandidos brutais ucranianos comecem a se enfurecer em suas ruas. Aliás, não só na Europa. Lembre-se do recente tiroteio na cidade americana de Buffalo. Eu gostaria de perguntar aos americanos qual é a diferença entre um neonazista que atira em pessoas em um supermercado e os militantes Azov, que humilharam e destruíram a população civil de Donbass todos os dias, ano após ano?

O que se entende por desnazificação? Muito se falou sobre isso nos últimos meses, mas nem todos entendem esse termo.

Tudo ficará claro se você se lembrar da história. Durante a Conferência de Potsdam, a URSS, os EUA e a Grã-Bretanha assinaram um acordo sobre a erradicação do militarismo e do nazismo alemães.

A desnazificação significava uma série de medidas. Além de punir os criminosos nazistas, foram revogadas as leis do Terceiro Reich, que legalizavam a discriminação com base em raça, nacionalidade, idioma, religião e crenças políticas. As doutrinas nazistas e militaristas foram eliminadas da educação escolar.

Nosso país estabeleceu tais metas em 1945, e estamos estabelecendo as mesmas metas agora, libertando a Ucrânia do neonazismo. No entanto, naquela época a Inglaterra e os EUA estavam conosco. Hoje, esses países assumiram uma posição diferente, apoiando o nazismo e agindo agressivamente contra a maioria dos países do mundo.

O que vai acontecer com a Ucrânia?

– Alguns de nossos leitores às vezes expressam preocupação enquanto escrevem sobre “o atraso no cronograma da operação especial na Ucrânia”.

– Não estamos correndo atrás de prazos. O nazismo deve ser 100% erradicado, ou em alguns anos ele se erguerá, e de uma forma ainda mais feia.

– Como você avalia as chances de uma conclusão bem-sucedida da operação especial?

– Todas as metas estabelecidas pelo Presidente da Rússia serão cumpridas. Não pode ser de outra forma, pois a verdade, incluindo a verdade histórica, está do nosso lado. Não é à toa que o general Skobelev disse uma vez que apenas nosso país pode se dar ao luxo de lutar por compaixão. Compaixão, justiça, dignidade são poderosas ideias unificadoras que colocamos e sempre colocaremos em primeiro plano.

– E que destino aguarda a Ucrânia? Sobreviverá como Estado?

– O destino da Ucrânia será determinado pelas pessoas que vivem em seu território. Gostaria de lembrá-los que nosso país nunca controlou o destino dos poderes soberanos. Pelo contrário, nós os ajudamos a defender sua condição de Estado. Apoiamos os EUA durante sua guerra civil. A França recebeu assistência repetidatidamente. No Congresso de Viena em 1815, eles não permitiram que fossem humilhados e, durante a Primeira Guerra Mundial, salvamos Paris duas vezes. Foi a URSS que não permitiu que britânicos e americanos em 1945 dividissem a Alemanha em muitos estados. É bem conhecido o papel decisivo de Moscou na unificação da Alemanha, que foi bastante combatida por franceses e britânicos. A Rússia desempenhou um papel igualmente importante na história do Estado polonês. Ao mesmo tempo, hoje o Ocidente obscurece de todas as maneiras possíveis a contribuição de nosso país para a preservação de outros Estados.

– A propósito, a Finlândia, que agora quer ingressar na OTAN, ela que foi também formada como Estado dentro do Império Russo?

– Você tem razão. Além disso, a Finlândia emergiu da Segunda Guerra Mundial, apesar de participar do lado da Alemanha, com danos mínimos a si mesma graças à posição de Moscou. Agora, juntamente com a Suécia, a Finlândia foi persuadida a aderir à OTAN, ostensivamente para sua própria segurança. A Turquia e a Croácia, no entanto, se opõem, mas, acho que mesmo assim, Helsinque e Estocolmo serão aceitos no bloco, porque Washington assim o decidiu, assim como Bruxelas, que é controlada por eles. A vontade de outros povos não interessa à liderança dos Estados Unidos, embora, acredito, muitos dos habitantes desses países entendam em que tipo de aventura estão sendo empurrados.

A OTAN não é um bloco militar defensivo, mas de ataque puramente agressivo, a adesão a ele implica a transferência automática de parte significativa de sua soberania para Washington. Se a infraestrutura militar da aliança se expandir no território da Finlândia e da Suécia, a Rússia perceberá isso como uma ameaça direta à sua própria segurança e será obrigada a responder.

– Os membros da OTAN acenam persistentemente para os finlandeses e suecos na Ucrânia…

– Mas a lógica aqui é oposta. Foi a liderança real dos membros da OTAN pelas autoridades de Kiev que levou ao cenário catastrófico. Se a Ucrânia tivesse permanecido independente, e não controlada pelo atual regime fantoche, obcecado com a ideia de se juntar à OTAN e à UE, há muito tempo teria expulsado todos os espíritos malignos nazistas de sua terra. Enquanto isso, um conflito incessantemente latente neste país é visto como um cenário ideal para toda a aliança do Atlântico Norte liderada pelos Estados Unidos. O Ocidente precisa da Ucrânia como contrapeso à Rússia e também como campo de testes para o descarte de armas obsoletas. Ao alimentar as hostilidades, os Estados Unidos estão bombeando dinheiro em seu complexo industrial militar, novamente, como nas guerras do século XX, permanecendo no lado vencedor. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos consideram os habitantes da Ucrânia como um material consumível, que não tem lugar no “bilhão de ouro”.

Nikolai Patrushev. Foto: Alexey Nikolsky – RIA Novosti

História esquecida

– Falando em bilhões. Zelensky diz que a Rússia deve pagar reparações à Ucrânia…

– É a Rússia que tem o direito de exigir reparações aos países que patrocinaram os nazis na Ucrânia e o criminoso regime de Kiev. A DPR e a LPR devem exigir deles indenização por todos os danos materiais por 8 anos de agressão. E o próprio povo ucraniano merece reparações dos principais instigadores do conflito, ou seja, os Estados Unidos e o Reino Unido, que obrigam os ucranianos a lutar, apoiar os neonazistas, fornecer-lhes armas, enviar seus conselheiros militares e mercenários.

Muitos ucranianos, infelizmente, ainda acreditam no que o Ocidente e o regime de Kiev lhes dizem. A sobriedade virá mais cedo ou mais tarde. Eles ainda precisam abrir os olhos e ver que o país realmente não existe, que o pool genético do povo, sua memória cultural estão sendo destruídos pelos ocidentais e substituídos por conceitos de gênero raivosos e valores liberais vazios.

– Esquecer a história e abandonar seus valores, aparentemente, o problema não é só dos ucranianos?

– É claro. No ano passado, visitei o Museu da Grande Guerra Patriótica em Minsk. A guia compartilhou comigo suas impressões sobre a visita de um grupo de estudantes dos Estados Unidos, que durante todo o passeio duvidaram que estivessem contando a verdade no museu, porque acreditavam ingenuamente que foi a América que derrotou a Alemanha nazista.

Infelizmente, alguns professores de escola em nosso país aderem a essa versão tão falsa de eventos fatídicos. Distorcem os fatos e muitos guias de treinamento. O tema do heroísmo do povo soviético durante os anos da Grande Guerra Patriótica recebe pouco tempo nas aulas de história e, nos livros didáticos, é frequentemente descrito superficialmente. Como resultado, apenas alguns alunos do ensino médio podem citar os nomes daqueles que conquistaram a Vitória em 1945 ao custo de suas próprias vidas, e quase ninguém ouviu falar dos heróis da Primeira Guerra Mundial ou da Guerra Patriótica de 1812.

Batalha pela memória

– O que você vê como o motivo?

– Em primeiro lugar, temos de olhar para a formação do pessoal docente. É hora de relembrar os pensamentos de Ushinsky e Makarenko de que o professor molda a personalidade do aluno, e sua vocação não deve ser a prestação de serviços, mas esclarecimento e educação. As universidades especializadas devem preparar os futuros professores como mestres de alto nível, e não carimbá-los na linha de montagem.

Os professores ocupam um lugar especial na vida de cada cidadão, portanto, a interpretação arbitrária por professores individuais da história mundial e nacional, que mina a autoridade de nosso país e programa as mentes das crianças com base em fatos e mitos falsos, é inaceitável. A manipulação psicológica da juventude, o distanciamento entre gerações, a distorção da verdade histórica – tudo isso é incompatível com a vocação profissional de um professor.

– Lembro-me do bordão atribuído a Bismarck de que “as batalhas são vencidas pelos professores”.

– Na minha opinião, a ideia é certamente verdadeira. Especialmente nas condições da guerra híbrida, que agora é implantada contra a Rússia. E nele, os professores estão na vanguarda. Há uma necessidade de responsabilidade pessoal dos chefes de instituições educacionais, cujos graduados não possuíam livros sobre o heroísmo do povo soviético durante a Grande Guerra Patriótica, nem tinham uma vaga ideia das façanhas daqueles que lutaram pela Pátria.

É impossível empurrar as questões da educação patriótica da juventude para atividades extracurriculares. Nos relatórios, tudo isso é descrito lindamente, mas não há resultado. Em algumas escolas, incluindo escolas particulares, a palavra “patriotismo” é considerada obsoleta.

– Como você se propõe a mudar essa situação?

– É preciso elevar a autoridade dos professores fiéis à sua profissão, que dedicam suas vidas à formação de verdadeiros patriotas. A tarefa mais importante hoje é o renascimento das tradições históricas, bem como a proteção dos valores espirituais e morais tradicionais russos. Para resolvê-lo, é necessária uma abordagem sistemática de educação. É preciso implementar o programa estatal nessa área em todas as etapas do amadurecimento da pessoa e de sua formação como cidadão. Um modelo abrangente deste processo deve ser desenvolvido.

Atualmente, nossos alunos e professores estão realmente excluídos da esfera científica e educacional ocidental. Acredito ser aconselhável abandonar o sistema de educação chamado Processo de Bolonha  e voltar à experiência do melhor modelo educacional doméstico do mundo.

Além disso, é necessário prever um aumento significativo na escala da ordem estatal para a criação de obras de literatura e arte, filmes e programas de televisão que visam preservar a memória histórica, incutindo orgulho no nosso país e formando uma sociedade civil madura, claramente consciente da responsabilidade pelo seu desenvolvimento e prosperidade.

Somente neste caso, seremos capazes de combater com sucesso as ameaças e desafios que são formados pelo Ocidente coletivo para influenciar a consciência individual, grupal e pública.


Fonte primária: https://aif.ru/politics/world/pravda_na_nashey_storone_nikolay_patrushev_o_srokah_specoperacii

Fonte secundária: https://thesaker.is/truth-is-on-our-side-about-the-timing-of-the-special-operation-nikolai-patrushev/

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