Mudança de paradigma na Palestina – Parte 3

Thierry Meyssan (Rede Voltaire) – 11 de outubro de 2023 – [Gentilmente revisado e enviado por ZT]

Um crime está sendo preparado diante de nossos olhos, conseguiremos evitá-lo?

   O Exército israelense prepara-se para a limpeza étnica da Faixa de Gaza em conformidade com o velho sonho dos supremacistas judeus. Entretanto, em Israel e nos Estados Unidos, muitos cidadãos se opõem a esse crime. E no Oriente Médio, muitos voluntários estão se preparando para salvá-los atacando o Estado judeu. Ao contrário da nossa percepção desse conflito, o fato de ter sido impossível resolvê-lo por 76 anos não se deve à má fé de seus protagonistas. Deve-se à ausência de uma escolha entre dois sistemas: um mundo “baseado em regras” ou “baseado no Direito Internacional”.   



A preparação do crime

Os acontecimentos precipitam-se em Israel e na Palestina. Todos podem ver o exército israelense se preparando para iniciar a limpeza étnica da Faixa de Gaza. Na sexta-feira à noite, as Nações Unidas informaram que um terço da cidade de Gaza já havia sido reduzida a cinzas, enquanto quase todos os habitantes da cidade haviam fugido para o sul, sem alternativa a não ser acampar nos campos.

Depois de ter considerado lançar uma guerra contra-inssurreicional nos moldes da Batalha de Argel ou da Operação Phoenix no Vietname, o Estado-Maior israelense planeja arrasar completamente a cidade de Gaza e depois enviar o seu exército de Terra para eliminar os sobreviventes. Segundo o Tsahal, este plano deveria levar três meses.

O Chefe de Estado-Maior do Exército, o General Herzl Halevi, declarou em 21 de Outubro: “Entraremos na Faixa de Gaza para uma missão operacional e profissional: destruir os agentes e as infraestruturas do Hamas (…) Gaza é complexa e densa, o inimigo prepara lá muitas coisas, mas nós também estamos nos preparando para ele”.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) insurgiu-se, no dia 14 de Outubro, contra a ordem de evacuação dada pelos israelenses aos hospitais de Gaza. Ela salientou que transferir os doentes em cuidados intensivos os condenava à morte [1]. Três dias mais tarde, o Hospital Al Ahli foi destruído. israelenses e palestinos rejeitam ambos a responsabilidade deste massacre. Entretanto, nenhum dos aliados de Israel procurou vir em ajuda dos Gazenses. Ora, os EUA, a Alemanha e o Reino Unido dispõem de hospitais de campanha, de medicamentos e de alimentos que podem lançar por via aérea em Gaza. Na verdade, os três preparavam-se mais para ajudar o Exército israelense do que ir em socorro de uma população em perigo.

Os Estados Unidos enviaram ao Tsahal (FDI) milhares de projéteis de 155 milímetros e um número indeterminado de bombas penetrantes Joint Direct Attack Munition (JDAM), capazes de destruir tudo a 30 ou 40 metros de profundidade e num raio de 400 metros.

Israel dividida

Durante meses, grandes manifestações denunciaram os aliados supremacistas judeus de Benjamin Netanyahu e a reforma de leis fundamentais colocando o Poder Judiciário sob o controle do Executivo. Mas, sem sucesso, o “golpe de Estado” ocorreu neste verão.

Por “supremacistas judeus”, refiro-me ao partido Força Judaica (Otzma Yehudit), herdeiro assumido do movimento Liga de Defesa Judaica (Jewish Defense League) do rabino Meir Kahane nos Estados Unidos. Essa organização se opôs a todo contato com a União Soviética e atualmente com a Rússia. Ela pediu o homicídio de neonazistas e assassinou o diretor do American-Arab Anti-Discrimination Committee. É explicitamente racista e se opõe a todos os casamentos entre goims (gentios/não-judeus). É classificada como organização terrorista nos Estados Unidos desde 2001. Foi secretamente financiada por Yitzhak Shamir com fundos do Estado de Israel [2].

“Divina Surpresa”, o ataque da Resistência Palestina Unida (exceto o Fatah), em 7 de Outubro, deu a ocasião aos supremacistas judeus para realizar o seu objetivo, muitas vezes enunciado: limpar etnicamente a Palestina de árabes palestinos, seja pela transferência da sua população seja pelo seu extermínio.

Diante da emoção da população israelense e do perigo ameaçando o Estado judeu, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu formou um governo de emergência, como todos os seus antecessores nesses casos. Entretanto, enquanto Golda Meir levou algumas horas durante a Guerra dos Seis Dias, Netanyahu levou 7 dias durante a Operação Dilúvio da Al-Aqsa. Um conselho de guerra foi formado dentro do governo para manter afastados os supremacistas judeus.

Porém, desde sua primeira reunião, esse pequeno gabinete foi palco de um confronto entre os que eram a favor da destruição de Gaza e os que eram a favor de uma operação direcionada contra a Resistência Palestina. A maioria dos ministros se contentou em falar em público sobre a ação contra o Hamas, já que a censura militar proíbe a divulgação das ações de outras facções palestinas. O ministro da Defesa, general Yoav Gallant, atacou tanto o primeiro-ministro, que ele considera delirante, quanto seu antecessor, o general Benny Ganz, que ele considera fraco. Em junho, o primeiro-ministro proibiu o ministro da Defesa de entrar em seu escritório no quartel-general do exército, uma proibição que ainda está em vigor. Ele se recusa a trabalhar com o oficial militar responsável pelos reparos de infraestrutura, o general Roni Numa. Ele nomeou um funcionário público sênior para fazer a mesma coisa que ele, Moshe Edri, mas esse último se reporta ao ministro das Finanças da supremacia judaica, Bezalel Smotrich, e as relações entre os militares e os civis nessa área não são organizadas, nem mesmo planejadas. O general Numa liderou manifestações contra o primeiro-ministro há duas semanas. Ele entrou com uma apelação legal contra as “reformas”, que ele descreve corretamente como um “golpe de Estado”. Além disso, vários ministérios importantes (Segurança Nacional, Educação, Informação, Inteligência e Cultura) ainda não têm diretores-gerais. A censura militar que encobre essa desordem é tanta que o Ministro da Informação, Distel Atbaryan, abandonou o cargo no meio da guerra.

Antes da guerra, os reservistas garantiram em massa que não obedeceriam a ordens criminosas do governo antidemocrático do seu país. Hoje em dia eles foram mobilizados e ninguém sabe o que farão. Benjamin Netanyahu foi visitar alguns para se assegurar da sua fidelidade. De momento, a infantaria e a cavalaria (os tanques) israelenses estacionam diante de Gaza e diante da fronteira libanesa, esperando as ordens que não chegam. No entanto, a Força Aérea bombardeia a Cidade de Gaza a um ritmo nunca visto. Segundo as Nações Unidas, ela já reduziu a pó pelo menos um terço da cidade.

Gilad Erdan, embaixador israelense na ONU, forceja como pode para que todas as agências da ONU e todos os Estados-membros condenem o Hamas. Se era bem recebido nos primeiros dias da guerra, agora ele encontra cada vez mais dificuldades para fazer ouvir o ponto de vista do seu país.

A Resistência dividida

Se a Resistência Palestina em Gaza conseguiu se reunificar graças às consultas organizadas no início do ano pelo Irã no Líbano, o Fatah do Presidente Mahmud Abbas prossegue a sua política de colaboração com Israel. Ele não tem receio de dizer a todos os seus interlocutores que só ele não é cúmplice da Irmandade Muçulmana (ou seja, do Hamas).

Ele provavelmente esperava continuar sendo a única pessoa com quem o Ocidente poderia conversar, mas imediatamente perdeu toda a autoridade moral sobre os palestinos em geral e sobre os palestinos da Cisjordânia em particular. Assim, quando o presidente dos EUA, Joe Biden, diante das manifestações na Jordânia, cancelou a cúpula que havia convocado para lá e à qual o presidente Abbas deveria comparecer, Abbas se recusou a atender o telefonema de Biden. A controvérsia causada pela destruição de um hospital em Gaza serviu convenientemente para ocultar os erros da Autoridade Palestina, que não sabe mais como se comportar. Ela acaba de sancionar um membro do Comitê Central do Fatah, Abbas Zaki, que elogiou a operação “Inundação da Al-Aqsa” e lamentou que o Fatah não tenha participado dela.

O Hamas também está dividido entre os apoiadores da Resistência em Gaza e os do Islã político no estrangeiro. Enquanto os seus combatentes se batem ardentemente, Khaled Mechaal, presidente do gabinete político, ao mesmo tempo que agradecia ao Hezbollah libanês por manter uma parte do Exército israelense em alerta na fronteira libanesa, criticou-o por não fazer o suficiente. O objetivo do Meshaal (matar israelenses) não é de todo o mesmo que o do Hezbollah (derrotar o Estado de Israel) e dos seus próprios combatentes do Hamas.

Os Estados Unidos divididos

O presidente dos EUA, Joe Biden, viajou a Israel para prometer seu apoio. Ele não se reuniu com os ministros supremacistas judeus, mas participou de um conselho de guerra. Ele disse que estava ciente de que os israelenses precisavam acabar com o Hamas. Ele garantiu a seus interlocutores que forneceria a eles projéteis de 155 mm e bombas penetrantes… mas pediu a eles que mostrassem moderação. Suas palavras ambíguas foram interpretadas como um passe livre pelos defensores da limpeza étnica, mas como uma ordem de restrição pelos outros.

Nos Estados Unidos, pacifistas judeus manifestaram-se diante do Congresso. A polícia do Capitólio, lembrando-se do assalto dos Trumpistas, reprimiu-os duramente. Cerca de 500 dentre eles foram presos e poderão ser levados à justiça.

Um alto funcionário do Departamento de Estado, Josh Paul, demitiu-se em 18 de outubro com estrondo, acusando a Administração Biden de não ter política e no fundo, cobrir uma limpeza étnica em preparação. Não é um tipo qualquer. Depois de uma brilhante carreira no gabinete do Secretário da Defesa, Robert Gates e no Congresso, ele era, há mais de 11 anos, o diretor do Gabinete de Assuntos Políticos e Militares. Era ele quem validava todas as transferências de armas.

Nesta onda, 441 assistentes parlamentares reuniram-se num edifício adjacente ao Capitólio para denunciar a falta de consciência da Administração Biden e dos membros das duas assembleias. Se Josh Paul era um judeu próximo da J Street, o lobby rebelde pró-israelense anti-Netanyahu provêm tanto da minoria judaica como da minoria muçulmana. Eles não contestam a luta contra os políticos islâmicos do Hamas, mas alertam contra o realização de um genocídio. Todos tem perfeita consciência que a sua tomada de posição os expõe à condenação.

Os funcionários do Departamento de Estado, seja qual for o seu nível na hierarquia, têm a possibilidade de exprimir o seu desacordo num fórum dedicado a este efeito. Trata-se geralmente de criticar os abusos de um chefe de serviço. No entanto, agora, os funcionários debatem a falência moral do governo Biden, que está ignorando os conselhos de seus especialistas. Os e-mails mais virulentos foram assinados por muitos colegas de escritório, de modo que este fórum deu origem a um motim [3].

Mitch Mçonnell, chefe da minoria Republicana do Senado, apresentou um projeto de resolução visando interditar a ajuda de urgência a Israel de 14,3 bilhões de dólares, pedida pelo Presidente Joe Biden.
Tim Scott (Republicano, Carolina do Sul), candidato à eleição presidencial, anunciou que recusava votar por Israel. Ele é o líder republicano do Comitê de Assuntos Bancários, Habitacionais e Urbanos do Senado.

Os vassalos passivos dos Estados Unidos

Os vassalos dos Estados Unidos persistem em alinhar-se cegamente com as posições de Washington. Uma reunião à porta fechada do Conselho de Segurança das Nações Unidas foi palco de um confronto estúpido entre a representante permanente dos Estados Unidos, Linda Thomas-Greenfield, e o seu homólogo russo, Vassily Nebenzia. Embora os dois países tenham resolvido por mútuo acordo numerosas crises no Oriente Médio, a tensão atual entre eles levou Washington a utilizar o seu veto.

A sessão versava sobre uma proposta russa de cessar-fogo humanitário imediato. A embaixatriz acusou a Rússia de proteger o Hamas porque o seu projeto de resolução não o condenava. Ora, por princípio, todas as ações humanitárias, desde Henry Dunant e a criação da Cruz Vermelha Internacional, não devem tomar partido no conflito em que intervêm. Quer se esteja chocado com os comandos do Hamas ou com a Força Aérea israelense, não se deve antes de mais condenar um ou outro, nem mesmo condenar as suas ações, mas ir exclusivamente em socorro das vítimas. Contudo, Washington, adotando uma postura moral sonsa e não humanitária ou política, condena a todo o custo.

E não está condenando atos bárbaros, mas apenas alguns dos indivíduos que os cometem.

No decorrer da sessão, a França, o Japão e o Reino Unido fizeram comentários semelhantes aos do seu senhor supremo. A França usou seu veto pela primeira vez desde 1976, dando assim um cheque em branco a um genocídio em andamento. Tendo a reunião sido realizada a portas fechadas, as Nações Unidas não divulgaram nem uma minuta nem mesmo a ata, mas o embaixador Nicolas de Rivière reconheceu o fato, enquanto o jornal Le Monde o negou.

A mesma atitude foi adotada pelo Ministro da Justiça da França, Éric Dupont-Moretti. Ele ressaltou perante a Assembleia Nacional que apoiar os supremacistas muçulmanos do Hamas era equivalente a apoiar os atos terroristas que ele estava cometendo, e que isso acarreta uma sentença de 5 anos de prisão. É verdade, mas apoiar os supremacistas judeus que começaram a destruir a Cidade de Gaza é exatamente a mesma violação. A França inicialmente proibiu manifestações pró-palestinas, até que o Conseil d’Etat revogou essa disposição, que violava o direito constitucional de expressar as próprias opiniões.

Uma segunda sessão do Conselho de Segurança rejeitou um projeto de resolução idêntico do Brasil. Esse projeto repetia explicitamente a versão oficial, segundo a qual o ataque de 7 de outubro havia sido perpetrado apenas pelo Hamas, e condenava a organização. Dessa vez, foram o Reino Unido e a Rússia que o rejeitaram. No final, nenhum texto foi aprovado.

Paralelamente o Catar conseguiu fazer libertar dois prisioneiros israelense-estadunidenses do Hamas em troca da passagem de 20 caminhões de ajuda humanitária, 7 caminhões-tanque de combustível e outros compromissos não revelados. Antes da guerra, pelo menos 100 caminhões passavam por ali todos os dias. A questão da troca de prisioneiros está se tornando mais complexa: desde o início da guerra, as forças de segurança israelenses prenderam e encarceraram mais 1.070 palestinos em prisões de alta segurança. Abu Oubaida, porta-voz das Brigadas Izz el-Deen al-Qassam, disse que o Hamas havia considerado a possibilidade de libertar dois outros prisioneiros, mas que Israel não havia dado seguimento à sua proposta.

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, visitou Israel depois do presidente dos EUA. Ele também deu seu apoio à resposta israelense contra o Hamas. As defesas do Reino Unido e de Israel estão ligadas por um tratado, assinado há dois anos, cujos termos nunca foram divulgados.
Em Londres, 100.000 cidadãos saíram às ruas para tentar impedir que seu governo apoiasse o crime em andamento. Em resposta, o Jewish Leadership Council (Conselho de Liderança Judaica) organizou uma manifestação com vários milhares de pessoas na Trafalgar Square.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, também fez sua peregrinação a Tel Aviv. O presidente do Chipre, Níkos Christodoulídis, o presidente da França, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro interino da Holanda, Mark Rutte, são esperados em breve.

Celebrando a sua missa dominical, o Papa Francisco declarou: “A guerra, toda a guerra no mundo — eu penso também na atormentada Ucrânia — é uma derrota. A guerra é sempre uma derrota; é uma destruição da fraternidade humana. Irmãos, parai! Parai!”.

O Oriente Médio quer salvar os palestinos

Uma conferência internacional para a paz teve lugar no Cairo por iniciativa do Presidente Abdel Fatah Al-Sissi. O Secretário-Geral das Nações Unidas, Antônio Guterres, o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o Alto Representante da UE, Josep Borrell, o Rei Abdalla II da Jordânia, o Presidente da Autoridade palestina, Mahmud Abbas, o Presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed Ben Zayed, o Rei do Barém, Hamad ben Issa al-Khalifa, o Príncipe herdeiro do Koweit, Xeque Meshal al-Ahmad al-Sabah, o Primeiro-Ministro iraquiano, Mohammad Chia el-Sudani, o Presidente cipriota, Nikos Christodoulidès, a Presidente do Conselho italiano, Giorgia Meloni, o Presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, o Primeiro-Ministro britânico, Rishi Sunak, o Primeiro-Ministro grego, Kyriakos Mitsotakis. No total estavam representados trinta Estados. Mas nem os Estados-Unidos, nem a China, nem a Rússia e sobretudo Israel, participaram desta cúpula. O emir do Qatar, Tamim ben Hamad Al Thani, chegou com o brilho da libertação dos “reféns estadunidenses”, mas não pronunciou qualquer discurso, tendo em vista a posição anti-Hamas do Ocidente. O presidente da Argélia, Abdelmadjid Tebboune, recusou o convite. Em outubro de 2022, a Argélia organizou uma conferência para a unidade do povo palestino. Ela alterou a resolução da Liga Árabe, observando que não se associava aos “padrões duplos” que não estabelecem uma hierarquia entre os direitos dos palestinos e as violações desses direitos por Israel.

Antônio Guterres declarou que o ataque de 7 de outubro “nunca poderá justificar um castigo coletivo do povo palestino”. Mahmud Abbas, quanto a ele, declarou: “Nós não partiremos, nós permaneceremos nas nossas terras”. O Egito agarra-se à posição da Liga Árabe de 1969: acolher novos refugiados palestinos seria tornar-se cúmplice de limpeza étnica da sua pátria histórica. Uma posição intelectualmente justa, mas que mascara mal o medo de uma invasão palestina como experimentaram o Líbano e a Jordânia. Então, os palestinos tinham tentado tomar o Poder pela força das armas em Beirute (a Guerra do Líbano), depois em Amã (Setembro Negro) e aí estabelecer em substituição o Estado da Palestina.

Em resumo, esta cúpula não serviu para nada: todos mantiveram suas posições. De um lado, aqueles que queriam condenar o Hamas, do outro, aqueles que queriam apoiar a Resistência Palestina, da qual o Hamas é a principal componente.

No Oriente Médio, muitos grupos reúnem voluntários para salvar os palestinos e atacar Israel. Os Guardas da Revolução iranianos tentam por em pé um estado-maior comum que uniria os combatentes palestinos do Hamas, da FPLP e da Jihad Islâmica, os combatentes libaneses do Hezbollah, do PSNS e da Jamaa Islamiya, mas também Jordanianos e Iraquianos.

Porque é que não conseguimos resolver este conflito ?

A divisão generalizada, em todos os campos, torna impossível a tomada de decisões. Embora pareça improvável que Israel coloque o seu Exército ao serviço do projeto genocida dos seus ministros supremacistas judeus, o tempo não é um aliado da paz. Enquanto cada campo tenta estabelecer a sua posição, as bombas continuam a cair duramente sobre Gaza e as armas a chegar em Israel. Entretanto, já há 1.300 israelenses e 4.137 palestinos mortos.

A impossibilidade de resolver o conflito israelense-palestino não se deve à má-fé israelense. Na verdade, somos todos cúmplices: revela a inépcia do “mundo baseado em regras” que o presidente dos EUA, Franklin D. Roosevelt, e o primeiro-ministro britânico, Winston Churchill, tentaram criar em 1942-45 e que acatamos quando a URSS foi dissolvida. Ele opera com base em regras estabelecidas pelos anglo-saxões, agora tornadas públicas pelo G7. Por outro lado, o Secretário Geral do PCUS, Joseph Stalin, e o chefe do governo francês no exílio, Charles De Gaulle, exigiram um “mundo baseado no Direito Internacional”. Nesse último, os Estados são soberanos e só são obrigados a respeitar os tratados que assinaram. Foi com base nisso que a Organização das Nações Unidas foi criada. Cabe a nós voltarmos ao texto de fundação, a Carta de São Francisco. Aplicado ao conflito atual, isso significa, em primeiro lugar, que Israel deve respeitar sua própria assinatura na parte inferior de sua carta de adesão à ONU e, em segundo lugar, que a Autoridade Palestina deve respeitar sua assinatura nos Acordos de Oslo.

[1] «Les ordres d’évacuation adressés par Israël aux hôpitaux du nord de Gaza sont une condamnation à mort pour les malades et les blessés», Organisation mondiale de la Santé, 14 octobre 2023.

[2] The False Prophet: Rabbi Meir Kahane, From FBI Informant to Knesset Member, Robert I. Friedman, Lawrence Hill Books (1990).

[3] «Exclusive: ‘Mutiny Brewing’ Inside State Department Over Israel-Palestine Policy», Akbar Shahid Ahmed, Huffington Post, October 19, 2023.

Original em https://www.voltairenet.org/article219895.html

Be First to Comment

Leave a Reply

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.