Pepe Escobar – 26 de junho de 2024
O governo dos Estados Unidos (USG) – de acordo com a “ordem internacional baseada em regras” – determinou de fato que Julian Assange é culpado de praticar jornalismo.
Edward Snowden já havia observado que “quando expor um crime é tratado como cometer um crime, você está sendo governado por criminosos”.
Criminosos como Mike “We Lie, We Cheat, We Steal” [“Nós mentimos, enganamos e roubamos” – nota do tradutor] Pompeo, ex-secretário de Estado de Trump, que planejou sequestrar e matar Julian quando era chefe da CIA.
A indomável Jennifer Robinson e o advogado de Julian nos EUA, Barry Pollack, resumem tudo: os Estados Unidos “perseguiram o jornalismo como um crime”.
Julian foi forçado a sofrer uma Via Crucis indescritível e cruel porque ousou expor os crimes de guerra do governo dos EUA; o funcionamento interno das forças armadas dos EUA em sua Guerra do Terror (itálico meu) no Afeganistão e no Iraque; e – Santo dos Santos – ousou divulgar e-mails que mostravam que o Comitê Nacional Democrata (DNC) estava em conluio com a notória Harpia belicista Hillary Clinton.
Julian foi submetido a uma tortura psicológica implacável e quase foi crucificado por publicar fatos que sempre deveriam permanecer invisíveis para a opinião pública. É disso que se trata o jornalismo de alto nível.
Todo esse drama ensina a todo o planeta tudo o que é preciso saber sobre o controle absoluto do Hegemon sobre o patético Reino Unido e a UE.
E isso nos leva ao kabuki que pode – e a palavra-chave é “pode” – estar encerrando o caso. Título da peça de moralidade distorcida: “Declare-se culpado ou morra na cadeia”.
A reviravolta final no enredo da peça de moralidade é a seguinte: a combinação por trás do cadáver na Casa Branca percebeu que torturar um jornalista e editor australiano em uma prisão de segurança máxima dos EUA em um ano eleitoral não era exatamente bom para os negócios.
Ao mesmo tempo, o establishment britânico estava implorando para ser excluído da trama, já que seu sistema de “justiça” foi forçado pelo Hegemon a manter um homem inocente e o pai de família como reféns por cinco anos, em condições abismais, em nome da proteção de uma cesta de segredos da inteligência anglo-americana.
No final, o establishment britânico aplicou silenciosamente toda a pressão que pôde reunir para correr em direção à saída – com pleno conhecimento do que os americanos estavam planejando para Julian.
A prisão perpétua era “justa e razoável”
O kabuki começou nesta quarta-feira em Saipan, a maior das Ilhas Marianas do Norte, terra não incorporada do Pacífico administrada pelo Hegemon.
Finalmente livre – talvez, mas com condicionalidades que permanecem bastante obscuras.
Julian foi ordenado por essa Corte dos EUA no Pacífico a instruir o WikiLeaks a destruir informações como condição do acordo.
Julian teve que dizer à juíza americana Ramona Manglona que não foi subornado ou coagido a se declarar culpado da acusação crucial de “conspirar para obter e disseminar ilegalmente informações confidenciais relacionadas à defesa nacional dos Estados Unidos”.
Bem, seus advogados lhe disseram que ele tinha que seguir o roteiro “Confesse-se culpado ou morra na cadeia”. Caso contrário, nada feito.
O juiz Manglona – em um surpreendente desprezo por esses 5 anos de tortura psicológica – disse: “parece que seus 62 meses de prisão foram justos, razoáveis e proporcionais”.
Portanto, agora o governo dos EUA – tão benigno e “justo” – tomará as medidas necessárias para apagar imediatamente as acusações restantes contra Julian no notoriamente severo Distrito Leste da Virgínia.
Julian sempre foi inflexível: enfatizou várias vezes que jamais se declararia culpado de uma acusação de espionagem. Ele não o fez; ele se declarou culpado de uma acusação nebulosa de crime/conspiração; foi condenado a cumprir pena; foi libertado; e ponto final.
Ou não?
A Austrália é um estado vassalo de um hegemon, incluindo a inteligência, e com menos de zero capacidade de proteger sua população civil.
Mudar do Reino Unido para a Austrália pode não ser exatamente um upgrade, mesmo com a liberdade incluída. Um verdadeiro upgrade seria a mudança para um verdadeiro soberano. Como a Rússia. No entanto, Julian precisará de autorização dos EUA para viajar e sair da Austrália. Moscou será, inevitavelmente, um destino sancionado e fora dos limites.
Não há dúvida de que Julian estará de volta ao comando do WikiLeaks. Os delatores podem até estar fazendo fila neste momento para contar suas histórias – apoiadas por documentos oficiais.
No entanto, a mensagem crua e ameaçadora permanece totalmente impressa no inconsciente coletivo: o implacável e todo-poderoso aparato de inteligência dos EUA não terá limites e não fará prisioneiros para punir qualquer pessoa, em qualquer lugar, que se atreva a expor os crimes imperiais. Uma nova epopeia global começa agora: A luta contra o jornalismo criminalizado.
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