Holodomor 2022 – A Fome Fabricada

Maria Zakharova – Moscou – 17 de maio de 2022

Holodomor literalmente significa “morte infligida pela fome”. Entre 1932-33, na Ucrânia, país à época e até hoje considerado o “celeiro da Europa”, cerca de mais de 10 milhões de ucranianos foram mortos por uma fome engendrada pela mão do homem e não devido a catastrófes naturais – nota da tradutora. 


O Ocidente coletivo está competindo para acusar a Rússia de minar a segurança alimentar mundial. “O Sete” [G7 – grupo das 7 maiores economias liberais do mundo: EUA, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e Japão – nota da tradutora ] adotou uma declaração especial a esse respeito. Claro que respondemos.

O coro foi complementado por encenações solo dos mais consternados.

Outro dia, a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbok, disse nos bastidores de uma reunião dos ministros das Relações Exteriores do G7 que uma fome global poderia ocorrer no mundo devido à situação na Ucrânia. Anteriormente, Joe Biden falou de maneira semelhante:

“Os agricultores americanos entendem que as ações da Rússia na Ucrânia bloquearam as fontes mais importantes de alimentos. Se toneladas de grãos não chegarem ao mercado, muitas pessoas na África morrerão de fome, porque a Ucrânia é o único fornecedor para vários países africanos.”

Ou seja, a Rússia agora é a culpada pelo fato de que as pessoas estão passando fome na África. Anteriormente, como você sabe, ninguém passava fome lá.

Essas declarações desses falsos associados a Washington refutamos facilmente. Com fatos e números.

Vejamos a situação do ponto de vista de especialistas economistas.

Mesmo antes do início da operação especial na Ucrânia, a produção agrícola internacional estava entre as áreas mais afetadas devido à instabilidade econômica global. A situação atual do mercado de alimentos é uma tendência de, pelo menos, os últimos dois anos. De acordo com dados das bolsas de valores, a taxa de crescimento anual dos preços do trigo, apenas em 2021, foi de até 25%. Em fevereiro deste ano, eles superaram significativamente o nível médio de preços para 2017-2021 (até 62%). O preço do milho aumentou 162% em dois anos e o da colza, 175% [óleo de colza, utilizado também como lubrificante de maquinário e na produção de biodiesel, sendo a principal fonte deste na Alemanha – nota da tradutora].

Mas por que os preços dos grãos aumentaram nos últimos dois anos? Existem várias razões para este fenômeno.

Primeiro, a pandemia de COVID-19, que resultou na interrupção das cadeias de produção e fornecimento, aumentou os custos de frete e seguro. Em 2020-2021, o volume de injeções financeiras na economia dos países desenvolvidos aumentou acentuadamente para superar as consequências negativas da pandemia de coronavírus. O valor combinado dos pacotes anticrise nos EUA, UE e Japão totalizou mais de US$ 8 trilhões, o que acelerou a demanda e levou a um aumento da inflação (incluindo os alimentos).

Em segundo lugar, a transição forçada de vários países ocidentais para a “energia verde” e a dependência do desenvolvimento de fontes alternativas de energia em detrimento dos combustíveis tradicionais levaram a um aumento dos preços da energia. Em particular, os preços do petróleo em 2020-2022 aumentaram mais de 22% (e isso apesar do declínio na demanda durante as severas restrições da Covid). Os preços do gás também aumentaram significativamente. Como resultado, em dezembro de 2021, foi registrado um aumento sem precedentes nos preços dos fertilizantes minerais: para uréia e salitre entre 3,5 a 4 vezes, para outros tipos, entre 2,5 a 3 vezes.

Terceiro, o papel foi desempenhado pelas políticas míopes e egoístas dos países desenvolvidos do Ocidente. Durante o período do “coronavírus”, os Estados Unidos e a Europa realmente reduziram os fluxos de commodities, incluindo os fluxos de alimentos, piorando a já difícil situação nos países em desenvolvimento dependentes da importação de alimentos. Os Estados Unidos e a Europa estavam comprando cada vez mais produtos que geralmente não precisavam, deixando os países da África e da Ásia com muito pouco.

No contexto do aumento dos custos de combustível e fertilizantes, os agricultores começaram a reduzir a área plantada em todos os lugares, como resultado do qual o volume de produtos agrícolas continuou a diminuir no contexto de uma demanda cada vez maior. Oferta reduzida em meio à demanda crescente = preços mais altos.

Quarto, sanções. Aqui chegamos ao ponto mais importante. As medidas unilaterais de pressão econômica impostas pelo Ocidente Coletivo contra nosso país em fevereiro-março de 2022 exacerbaram as tendências negativas no mercado global de alimentos, no setor de energia e na indústria. As restrições de pagamento e dificuldades logísticas afetaram todos os operadores econômicos, incluindo as empresas agrícolas, que enfrentaram dificuldades com serviços financeiros e de transporte para contratos alimentares.

Sanções unilaterais, incluindo ameaças de detenções em massa de navios de carga seca e desconexão de instituições financeiras russas do sistema SWIFT, agravaram significativamente o problema de quebra de cadeias logísticas e financeiras envolvendo operadores econômicos russos. Dado o papel da Rússia no comércio de bens agroindustriais, isso não poderia deixar de afetar o fornecimento de produtos alimentícios aos nossos parceiros.

Washington, Londres e Bruxelas não estavam nada preocupados com o fato de que isso pudesse levar a consequências reais na forma de desnutrição, até fome, em certas regiões do mundo.

Neste contexto, apesar das dificuldades iniciadas pelo Ocidente, a Federação Russa, em pleno cumprimento dos acordos contratuais anteriormente alcançados, pretende continuar a cumprir de boa fé as suas obrigações relativamente à exportação de produtos agrícolas, fertilizantes, transportadores de energia e outros produtos críticos.

Durante muitos anos, fomos acusados ​​de criar ameaças à segurança energética. Tipo, se alguma coisa acontecer, a Rússia vai desligar o gás.

[No entanto, esse] “Se alguma coisa” já chegou, e a Rússia fornece gás regularmente. Aqueles que intimidaram o mundo com o corte de energia russo – Washington – estão nos forçando a abandoná-lo.

Então, quem criou a ameaça à segurança energética? E, da mesma forma, a ameaça à comida?


Fonte: Canal Telegram Oficial da Maria Zakharova
https://t.me/MariaVladimirovnaZakharova/2708 – https://telegra.ph/Golodomor-2022-05-17-2


Foto de capa: Children of the Holodomor/Crianças do Holodomor – Pintura em óleo de Nina Marchenko


 

2 Comments

  1. Fisher Tiger said:

    Muito oportuna essa publicação. Enfrentaremos uma crise alimentar global sem precedentes e há muito pouco debate sobre o tema.

    17 May, 2022
    Reply
    • Lady Bharani said:

      Ei, obrigada, Fisher Tiger! Sim, esse é um tema bem importante e, como vc apontou muito bem, muito pouco discutido. E não vai ser a primeira vez em que isso acontece, é só lembrarmos tb da fome irlandesa e a indiana, sob julgo do império britânico.

      E fique atento, o Quantum Bird vai publicar em breve uma tradução de um ótimo artigo sobre o tema! Como uma decisão do governo do Sri Lanka em banir a importação de fertilizantes e pesticidas sintéticos, ao mesmo tempo em que obrigou os seus cerca de 2 milhões de agricultores a empregarem somente a agricultura orgânica causou um caos completo no país. Vale a pena a leitura!

      17 May, 2022
      Reply

Leave a Reply

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.