Evitar a Catástrofe no Afeganistão

Professor Engr. Zamir Amed Awan para o blog Saker – 16 de setembro de 2022

Os afegãos não são o povo de um Deus menor. Cada ser humano veio a este mundo através de um processo biológico idêntico e cada mãe sofreu dores semelhantes. O ser humano é a coisa mais preciosa deste universo. Tudo o mais neste universo é destinado a servir aos seres humanos, sejam animais, plantas, minerais, Sol, Montanhas, Água, Oxigênio, etc. – todos são para servir a humanidade de uma maneira diferente.

Quatro décadas de guerras, conflitos e agitação levaram o Afeganistão à miséria. Seja a guerra afegã contra a ocupação da antiga URSS na década de 1980, a luta política interna entre facções do Talibã ou mujahedeen, ou a guerra ao terror liderada pelos EUA de 2001 a 2021, tudo foi desastroso para o povo do Afeganistão.

O Afeganistão vem sofrendo uma grave crise humanitária que se agravou após a queda de Cabul. De acordo com relatórios da ONU, o Afeganistão pode enfrentar uma “pobreza universal”, com 97% dos afegãos vivendo abaixo da linha de pobreza internacional designada pelo Banco Mundial de US$ 1,90 por dia. Estima-se que 362.000 pessoas precisam de assistência humanitária após o terremoto de junho de 2022 que atingiu as províncias de Paktika e Khost. As vítimas de desnutrição no Afeganistão incluem 1,1 milhão de crianças menores de cinco anos e 0,8 milhão de mulheres grávidas e lactantes. Dois terços do país estão em uma situação crítica e catastrófica de escassez de água.

Vender meninos afegãos para se tornarem mão de obra barata e empurrar meninas para casamentos forçados tornou-se mais comum. Algumas delas são contrabandeadas para a Europa e a América e também usadas como profissionais do sexo.

O sistema de saúde no Afeganistão esgotou-se e deixou milhões de afegãos com necessidades crescentes de saúde. Hospitais foram destruídos e médicos e paramédicos migraram para outros países. A nação está em necessidade dramática de cuidados de saúde.

Estima-se que 677.000 pessoas foram expulsas de suas casas este ano. Ou para viver em vários campos dentro do Afeganistão ou forçadas a fugir para outros países e viver o resto da vida como refugiados miseráveis.

O declínio econômico, a seca e os altos preços dos alimentos resultaram em 18,9 milhões de pessoas (45% da população) enfrentando uma crise ou insegurança alimentar de junho a novembro de 2022.

Um caminho a ser seguido para enfrentar a crise afegã

  • A comunidade internacional deve se envolver com a liderança do Talibã para ajudá-los a mitigar a pior crise humanitária do mundo.
  • As necessidades humanitárias das massas afegãs estão se aprofundando. Todo um complexo sistema social e econômico está entrando em colapso em parte devido ao congelamento de ativos, à suspensão dos fluxos de ajuda não humanitária e às sanções. Portanto, o descongelamento de ativos afegãos pelos Estados Unidos é necessário para amenizar a debilitada economia afegã [em agosto do ano passado, o governo estadunidense congelou quase US$9,5 bilhões do Banco Central do Afeganistão – nota da tradutora].
  • Destacando que os líderes mundiais precisam de lentes transparentes para ajudar a população afegã, enfatizando que os esforços humanitários para reconstruir o Afeganistão devem ser livres [isentos] de política.
  • No interesse maior da paz global e da estabilidade regional, deve-se garantir que o território e as vulnerabilidades do Afeganistão não sejam explorados pelas potências ocidentais e regionais para perseguir suas próprias agendas.
  • Enfatizar que a paz e a estabilidade no Afeganistão estão diretamente ligadas à paz regional e extra-regional, ao crescimento e desenvolvimento; portanto, exige uma resposta coletiva.
  • Embora poucos países amigos já estejam estendendo a assistência humanitária, muito mais precisa ser feito.
  • São necessários esforços coletivos para enfrentar a crise no Afeganistão. A comunidade internacional deve desempenhar seu papel positivo e proativo.
  • O Paquistão sendo um Estado responsável, está desempenhando um papel importante em ajudar os afegãos a superar sua crise, mas também possui suas próprias limitações.
  • O desenvolvimento sustentável, uma estratégia de longo prazo, é necessário para resolver a catástrofe afegã de forma permanente.

A 77ª Sessão da Assembleia Geral da ONU

A 77ª sessão da Assembleia Geral da ONU (UNGA – United Nations General Assembly – nota da tradutora) foi aberta na terça-feira [13 de setembro de 2022 – ndt] com seu novo presidente pedindo aos líderes mundiais que respondam aos desafios mais prementes da humanidade, incluindo a guerra na Ucrânia, de forma a trabalhar juntos e construir pontes sobre o que são “divisões profundas”.

Reconhecendo que o mundo enfrenta incertezas e fissuras geopolíticas cada vez maiores, Csaba Kőrösi lembrou aos delegados que as Nações Unidas foram criadas das cinzas da guerra e da destruição, com a intenção de ser “um poço de soluções”. “Responder aos desafios mais prementes da humanidade exige que trabalhemos juntos e revigoremos o multilateralismo inclusivo, em rede e eficaz e nos concentremos no que nos une”, disse ele. Ele destacou várias questões importantes, incluindo a Ucrânia e outras.

No entanto, a situação catastrófica no Afeganistão merece mais atenção. A situação deveu-se à intervenção estrangeira, seja da antiga URSS ou da Guerra ao Terror liderada pelos EUA. Mas, as vítimas eram as pessoas inocentes comuns do Afeganistão. É obrigação dos invasores e agressores zelar por elas. A bagunça que eles criaram deve ser resolvida por eles.

Os EUA gastaram trilhões de dólares destruindo o Afeganistão, se, uma fração deste enorme fundo for poupada para a reconstrução, ou reparação do Afeganistão, isso pode salvar vidas humanas no país devastado pela guerra. Não é uma ideia nova, a Alemanha e o Japão estão pagando por crimes de guerra e indenizações às vítimas. Por que os EUA e a URSS não pagam por crimes de guerra e compensações de guerra às vítimas de sua guerra imposta a elas?

Solicita-se que a 77ª Sessão da UNGA reserve algum tempo para abrir o debate sobre a catástrofe afegã e apresente uma solução sustentável. De acordo com a Carta da ONU, é legalmente obrigatório para a ONU abordar a Catástrofe no Afeganistão e fazer todo o possível para evitá-la. Espero que todas as nações, países e indivíduos, que sempre tiveram consciência, considerem seriamente meu apelo e façam algo para resgatar vidas humanas no Afeganistão.

Autor: Prof. Engr. Zamir Ahmed Awan, presidente fundador GSRRA [Global Silk Route Research Alliance/Aliança Global de Pesquisa da Rota da Seda  – nota da tradutora], sinólogo (ex-diplomata), editor, analista, membro não residente do CCG (Center for China and Globalization) – E-mail: awanzamir@yahoo.com


Fonte: http://thesaker.is/avert-the-catastrophe-in-afghanistan

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