Quantum Bird – 24 maio 2024
O tom triunfalista com o qual muitos analistas russófilos têm abordado o progresso da SMO impede uma avaliação objetiva da profundidade estratégica de certos desenvolvimentos. Todos já ouviram sobre o rei Pirro de Epiro, cujo exército havia sofrido perdas irreparáveis após derrotar os romanos na Batalha de Heracleia, em 280 a.C., e na Batalha de Ásculo, em 279 a.C., durante a Guerra Pírrica. Pirro venceu as batalhas e perdeu a guerra.
Nos últimos dias um novo padrão de operações do lado ucraniano está tomando forma. As forças do regime de Kiev estão atacando recursos estratégicos de defesa e dissuasão da Rússia, projetados e instalados visando um conflito direto com a OTAN, e que, portanto, são de pouco valor militar para as forças ucranianas. Estamos falando de sistemas de radares para detecção precoce de lançamento de misseis nucleares. Esses radares estão instalados em território profundo da Rússia. Creio que esse tipo de ação se intensificará.
Basicamente, a Ucrânia está se convertendo de facto, mas não de juris, em uma plataforma de lançamento de ataques estratégicos da OTAN contra a Rússia. Como não existe conflito aberto contra OTAN, a retaliação russa recai apenas sobre a Ucrânia.
A Rússia precisa terminar a SMO o mais rápido possível, quebrar definitivamente a conexão da Ucrânia com o ocidente coletivo e atualizar sua doutrina militar de acordo. O potencial de dano estratégico que a OTAN pode causar à Rússia, via Ucrânia e sem arriscar o engajamento direto, se tornará insustentável rapidamente.
Atualização (25/03/2024): Links para algumas fontes que relataram o ataque:
- https://t.me/readovkanews/80607
- https://t.me/readovkanews/80612
- https://www.twz.com/news-features/strike-on-russian-strategic-early-warning-radar-site-is-a-big-deal
- https://t.me/rocknrollgeopolitics/11321
Não me parece que a Rússia possa “encerrar o SMO” quando assim o entender apesar de toda a sua superioridade militar no terreno.
Mesmo que ela optasse por incinerar literalmente as grandes cidades ucranianas isso não levaria à rendição incondicional do regime neonazi porque os líderes do mesmo estão completamente desligados do seu próprio povo (desde que eles mesmos possam ficar abrigados nos seus “bunkers”) e decididos a sacrificá-lo inteiramente em ordem aos seus patrocinadores ocidentais. Eles lutarão “até ao último ucraniano”.
A Rússia só conseguiria assim igualar-se aos criminosos sionistas de Israel e promover um genocídio semelhante ao da Palestina nos territórios da Eurásia e desta forma hipotecar o seu prestígio junto do chamado Sul Global.
Uma ofensiva massiva desencadeada neste momento com botas no terreno iria provocar um número inaceitável de baixas no próprio exército russo e isso sim, poderia ser comparável ao exemplo do rei Pirro de Epiro incorretamente usado no texto acima. Aliás, é precisamente o que a NATO deseja que a Rússia faça.
A Rússia tem outras formas de lidar com a situação. Pode proteger melhor as suas bases estratégicas da mesma forma que fez com as suas refinarias, rodeando-as de barreiras protetoras antimíssil. E é claro, reforçar a defesa antiaérea nos novos locais sensíveis.
Poderá também retaliar de várias formas que seriam bastante dolorosas para os falcões ocidentais. Por exemplo, destruindo os cabos submarinos que transportam o sinal de internet e dos quais depende a operacionalidade geoestratégica anglo-saxónica. Afundar silenciosamente submarinos americanos equipados com mísseis Trident, que são o maior perigo para a Rússia em caso de conflito, usando para o efeito os seus drones assassinos de submarinos. Colocar em órbita os novos satélites equipados com lasers energizados a energia nuclear. Destruir alguns importantes satélites do complexo aeroespacial dos EUA. Destruir subrepticiamente as condutas submarinas de gás e petróleo inglesas e americanas sem o assumir, exatamente como eles fizeram com o Nordstreqam.
Algumas destas ações poderiam acelerar a III Guerra mundial? Talvez. Eu sou da opinião, e escrevi-o diversas vezes em fóruns no Sputnik e outros, que a III Guerra Mundial é inevitável à luz do conhecimento histórico. especifiquei mesmo que as guerras regionais na antiga Juguslávia e no Oriente Médio são os seus preliminares, da mesma forma que a anexação da Austria, a agressão à República Checa e a divisão da Polónia foram preliminares da II Grande Guerra. As grandes guerras correspondem sempre a crises económicas capitalistas mundiais irreversíveis e ao ocaso de uma era de domínio de um país ou organização.
É precisamente o que temos agora, pela terceira vez no espaço de cem anos. Os EUA sabem disso e a Rússia também. Aquilo a que temos vindo a assistir é a uma luta desesperada das elites ocidentais para conseguirem uma vantagem que lhes dê a oportunidade para um ataque devastador decisivo.
A Rússia, por ter investido nos últimos vinte anos em armamento moderno, tem neste momento uma vantagem estratégica sobre os Estados Unidos e uma janela de oportunidade que estes tentam desesperadamente fechar. Sabendo que a guerra é inevitável, a lógica militar obriga a que se tome a iniciativa como o próprio Putin disse recentemente. Do ponto de vista político é conveniente que o primeiro passo seja da responsabilidade do inimigo. Os EUA são o elo fraco, o governo mais errático e psicologicamente instável. A Rússia poderá tirar partido disso se não se autoflagelar na Ucrânia.
A guerra de exaustão levada a cabo no país 404 deve continuar exatamente como está. Todos os exércitos no passado que optaram pela guerra de devastação contra um inimigo forte acabaram derrotados. Os exemplos de Napoleão e Hitler são talvez os mais característicos do que acabei de dizer.
Ah! e é claro, Pirro, rei de Epiro também.
Seu comentário, realmente engrandece o blog. NOTA: não é QB falando };O)
“A Rússia, por ter investido nos últimos vinte anos em armamento moderno, tem neste momento uma vantagem estratégica sobre os Estados Unidos e uma janela de oportunidade que estes tentam desesperadamente fechar. ”
Imagino que se o ocidente estivesse com a vantagem, eles já teriam começado a ww3.
O termo 404 gera desinformação. Não me causa boa impressão Martyanov e Pepe usarem exaustivamente este cliche.
José Silva, grato pela atenção.
O erro 404 aparece quando tentamos aceder a um site na net e ele já não existe.
Então eu entendo a designação caricatural, porque a Ucrânia não existe nos dias de hoje como Estado soberano, ficando apenas por apurar se de alguma forma ela alguma vez existiu realmente desde a sua independência em 1991, em resultado de um processo totalmente controlado pelos falcões da NATO para a prossecução dos seus próprios objetivos que agora são finalmente revelados.
Um abraço!
Desculpe, mas este “procedimento “ não poderia passar despercebido pela inteligência russa, concorda? Nesse caso, seria mais um tiro n’água da otan , ou não?
Estamos falando aqui da degradação de recursos que podem impactar o potencial estratégico russo. Não me parece um tiro n’agua.
Logicamente, o staff general da Russia sabe mais do que nós. De fato, acho que depois dessa situação o planejamento russo deverá mudar.
Não consigo imaginar, nem entender o que se passa na cabeça do comando russo. Desisti de tentar entender isso.
Já relatei que não troco minha cidadania brasileira pela russa (caso tivesse chance) porque acompanhei a SMO pelo VK, por 18 meses, vendo e participando de comentarios de gente adjacente a Pepe Escobar, naquele espaço. E, me pareceu ilógico sacrificar soldados russos quando voce tem o poder de aniquilar o inimigo.
Se pudessemos ressuscitar os mortos e deles colher os votos pra uma enquete, sobre usar ou não até armas nucleares pra dizimar Zelensky e a resposta fosse não, eu diria que eles eram russos que pensavam exatamente como a equipe comandada por Putin. Mas duvido que isso acontecesse.