Alguns pontos sobre Israel, Palestina e o conflito corrente

Quantum Bird – 14 outubro 2023

Tentarei resumir meus pensamentos sobre Israel, Palestina e o conflito atual na região, usando o estilo usual de pontos. Espero com isso ajudar a dirimir algumas dúvidas e confusões que estão turvando a análise e o entendimento do conflito Israel-Palestina. Não hesitem em usar os comentários para aprofundar a discussão. Apenas se lembrem, comentários de caráter racista, com chamadas ao extermínio de grupos étnicos serão enviados automaticamente para a lixeira. Insistência levará ao banimento.


1 – Os judeus, como grupo étnico, têm sido ao longo da História basicamente pacíficos e nômades. Assim, os judeus, sendo um grupo étnico distribuído, sempre usaram a emigração para se defender das condições adversas que eventualmente se desenvolveram em algumas das sociedades onde habitavam. Os judeus sempre se integram econômica e socialmente nas sociedades onde vivem.

2 – Sempre existiram judeus na Palestina, como m quase todo lugar do mundo ocidental. Judeus e árabes sempre conviveram pacificamente na Palestina, que costumava ser um único Estado multiétnico, como muitos Estados da região são também, inclusive.

3 – Não existe nada estabelecido no Islã intrinsecamente contrário ao Judaísmo, como religião. Nem a identidade étnica árabe (e persa, turca etc.) é construída às custas da identidade étnica judaica.

O panorama acima [1 – 3] é representativo de 99% da História da região.

4 – O estado de Israel é, e sempre foi, um projeto colonial do império anglo-saxão (primeiro o britânico e agora o estadunidense), que se apropriou, fomentou e promoveu o sionismo – até então um movimento minoritário, controverso e mal visto pela maioria das comunidades judaicas ao redor do mundo – e o usou como arcabouço ideológico para implementar seus planos coloniais e imperialistas de ocupação e projeção de força na região. Estas maquinações levaram primeiro ao Mandato Britânico na Palestina – o Império Britânico foi a potência imperial dominante na região até aproximadamente 1940 – e após a Segunda Guerra Mundial (1947), à partição da Palestina e à criação de Israel. Para uma linha do tempo resumida, mas ainda muito informativa sobre estes desenvolvimentos, veja o artigo recém traduzido e publicado no nosso blog “Sobre o que é o conflito Israel-Palestina? Um guia simples”.

  [Nota lateral: Note bem o modus operandi típico das potências do ocidente coletivo. Desestabilização de países e regiões inteiras e sua conversão em colônias através da promoção de elites compradoras locais que seriam politicamente minoritárias e desprovidas de poder se não fosse a intervenção estrangeira. Esse é o caso na Jordânia, assim como no Irã até 1979, na Arábia Saudita, no Egito e, claro, na Palestina e em Israel também.]

5 – Os árabes palestinos nativos nunca concordaram com a partição de sua terra e por isso não participaram das discussões e deliberações a este respeito, num comitê ad hoc da recém criada ONU. A atitude dos árabes foi bastante lógica, pois eles nunca tiveram qualquer problema de coexistência com judeus.

6 – Desde a sua criação (1948), o Estado de Israel sempre expandiu suas fronteiras, usando os métodos mais violentos e ilegais possíveis, com total impunidade, sob os olhos da comunidade internacional.

7 – Tenho visto numerosos chefes de Estado e outras autoridades e políticos, alguns supostamente progressistas e esquerdistas – inclusive os tupiniquins – proclamarem sucintamente, a peito estufado, sua posição sobre o conflito como a implementação do Estado Palestino com as fronteiras de 1967, anterior à Guerra dos Seis Dias. Será que eles percebem que isto ignora completamente a ilegalidade que envolve a própria criação e existência de Israel? Como vocês acham que isto soa para os árabes palestinos?

8 – Finalmente, o Estado de Israel é – por projeto – um protetorado estadunidense criado em terras palestinas. Ponto.

9 – A principal (alegada) justificativa para sua existência seria a ameaça constante que paira sobre os judeus desde o holocausto – aparentemente o mesmo argumento não vale para ciganos e outras etnias que sofreram igualmente. Sendo assim, a pergunta válida que se coloca seria: se a segurança dos judeus é assim tão importante para os EUA, por que eles nunca propuseram criar Israel como uma região autônoma lá nos Estados Unidos mesmo? As possíveis respostas inexoravelmente irão envolver muito revisionismo histórico e argumentos pseudo-religiosos.

***

Portanto, a despeito da intensa propaganda, deturpação e revisionismo histórico promovidos nas mídias nativa e global – corporativa e alternativa – o conflito Israel-Palestina é um conflito moderno, cuja responsabilidade recai histórica e politicamente sobre as potências imperialistas ocidentais e suas elites anglo-sionistas, que estão continuamente radicalizando e usando o povo judeu e palestino como bucha de canhão para continuar implementando sua política imperialista na região.

Apenas considerem os seguintes fatos:

a) O ataque do Hamas a Israel foi usado como justificativa pelos EUA para enviar dois grupos de batalha de porta-aviões para o Mediterrâneo oriental. Claramente o objetivo aqui não é contra-atacar o Hamas, mas intimidar a Síria, o Iraque, a Rússia e o Irã… (Quanto tempo leva para preparar e expedir dois grupos de batalha de porta-aviões ? )

b) As autoridades egípcias confirmaram que advertiram Israel sobre as maquinações do Hamas com dias, se não semanas, de antecedência. Não somente nada foi feito a respeito, como a segurança na fronteira foi reduzida, segundo Seymour Hersh, contra o conselho de alguns oficiais do exército israelense.

Pensem cuidadosamente sobre estes pontos.

   [Nota lateral: não se enganem nem um momento sobre a natureza artificial do conflito Israel-Palestina. O Hamas é cria de Israel e do serviço secreto britânico, que o usou para enfraquecer e eliminar a liderança de Yasser Arafat na Palestina e fomentar uma guerra civil entre palestinos e alcançar a ruptura politica entre Gaza e Cisjordânia. ] 

Os judeus – assim como os árabes dos regimes vassalos da região – fariam bem em perceber que os EUA, Reino Unido e EU não dão a mínima para as aspirações do judeu médio de levar uma vida tranquila, ou viver em um país normal.

Finalmente, o governo atual em Israel está sobrecarregado de acusações e denúncias de corrupção. A guerra contra Gaza chega, portanto, em um momento bem conveniente para os líderes do Likud. As demonstrações de apoio e solidariedade do Ocidente coletivo a Israel devem também ser avaliadas contra o pano de fundo do apoio ocidental à Ucrânia. Se o conflito escalar para uma conflagração regional, o que interessa muito aos EUA, o Ocidente coletivo estará pronto para lutar até o último israelense… como na Ucrânia.

2 Comments

  1. Jesus Cardoso said:

    Quantum Bird, ficaram três pontos sem resposta nesta análise. Qual o papel do Eixo da Resistência? Qual o sentido de Israel atacar Egito, Síria e Líbano? Nos últimos dias ocorreu uma mudança de Tom nas manifestações de Rússia e China sobre o conflito.

    15 October, 2023
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    • Quantum Bird said:

      Qual o papel do Eixo da Resistência?

      Existem muitas nuances. O Hamas foi integrado ao Eixo da Resistência porque se tornou de facto a força politica dominante de Gaza, mas devido ao seu passado nebuloso, é visto com certa desconfiança pelos membros sênior da organização.
      Analise bem a reação do Irã e do Hezbolah às ações do Hamas. O Irã enfatiza a cada turno seu compromisso com o povo de Gaza, mas se distanciou dos atos do Hamas. O Hezbolah condicionou sua entrada no conflito à invasão terrestre de Gaza. Existem muitas nuances. O Hamas é muito próximo da Irmandade Muçulmana, outra criatura geopolítica controversa e amplamente manipulada por atores ligados ao ocidente coletivo.
      Portanto, o papel do Eixo da Resistência nesse contexto é evitar o extermínio dos palestinos e a limpeza étnica na região por Israel.

      Qual o sentido de Israel atacar Egito, Síria e Líbano?

      Setores radicalizados de Israel e os neocons dos EUA querem criar as condições politicas para atacar frontalmente o Hesbolah e o Irã e expulsar a Rússia da região. Daí as provocações initerruptas.

      Nos últimos dias ocorreu uma mudança de Tom nas manifestações de Rússia e China sobre o conflito.

      China e Rússia percebem claramente que o objetivo estratégico anglosionista é semear o caos na região, e por este meio, bloquear os avanços dos processos de integração na região. Os anglosionistas perdem o sono cada vez que o processo de normalização entre Arábia Saudita e Irã avança um passo. Em suma, o EUA estão sendo expulsos da região e buscam uma forma de permanecerem.
      A diplomacia brasileira também mudou de tom… será que receberam um telefonema dos parceiros BRICS?

      15 October, 2023
      Reply

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