A perspectiva da avó de 5.000 anos de todas as nações – Parte 1

Um adolescente está semeando o caos ao redor!

Laodan – 10 de novembro 2022

Antes de me retirar, por um ano inteiro em hibernação, para editar o volume 3 da minha série “Da modernidade à depois-da-modernidade” [depois-da-modernidade corresponde ao conceito de after-modernity, que é diferente de post-modernity. Enquanto o primeiro representa a exaustão completa do ciclo da modernidade como um fenômeno cultural ocidentalista, post-modernity é geralmente associado ao aprofundamento e radicalização das tendencias estéticas, culturais e societárias da modernidade, em torno do idealismo radical, relativismo cognitivo e consumismo – nota do tradutor], intitulada “Formação do conhecimento social”, gostaria de compartilhar minha interpretação da percepção da China, como a avó de 5.000 anos de todas as nações da terra, sobre o estado atual das coisas da humanidade.

O ruído da mídia hoje se relaciona de uma forma ou de outra com a recusa ocidental em aceitar a mudança natural da economia mundial para o Leste Asiático. Sete mudanças anteriores ocorreram durante a Modernidade Ocidental, que viu o centro de gravidade da economia mundial mudar de um país ocidental para outro. A última dessas mudanças ocorreu em algum momento entre as duas Guerras Mundiais no século 20, quando os EUA ultrapassaram a Grã-Bretanha. (1)

A diferença desta vez é que o centro de gravidade da economia mundial está se deslocando para fora do mundo ocidental!

O espetáculo do comportamento internacional contemporâneo dos EUA demonstra, aos olhos das pessoas que vivem neste planeta Terra, que o Ocidente global está disposto a arriscar o bem-estar dos povos ocidentais ameaçando se engajar em uma 3ª Guerra Mundial contra o que descaradamente retrata como o “mal do Oriente”! (2)

O Ocidente propaga diariamente a imagem do “mal do Oriente”. Essa propaganda racista nada mais é do que uma projeção de seu próprio comportamento em relação aos países que não estão cumprindo seus ditames. Mas o fato é que o Ocidente acredita firmemente na veracidade de sua propaganda diária! Nisso reside a pura loucura que está sendo desfraldada no mundo pelo processo de tomada de decisão política ocidental nesta modernidade tardia.

A intervenção dos EUA na Ucrânia desde 2014 foi um movimento calculado para forçar a Rússia a agir militarmente para proteger o povo de língua russa no leste da Ucrânia contra os movimentos cinéticos diários do exército ucraniano e seus fanáticos nazistas. Isso foi realizado na esperança de enfraquecer a Rússia. O objetivo dos EUA é destruir a resistência daquele país e desfazê-lo em pedaços submissos para ter acesso aos seus recursos. A Rússia finalmente impôs sua própria agenda em fevereiro de 2022. E até o final do próximo inverno provavelmente terá derrotado todo o Ocidente em solo ucraniano. Isso se a Rússia não conseguir persuadir o Ocidente a entrar em um processo de negociação que obrigue a Ucrânia a uma posição neutra que exclua sua participação na OTAN. Não esqueçamos que a expansão da OTAN até a fronteira com a Rússia é vista por este país como uma ameaça à sua existência! É por isso que propôs dois tratados em dezembro de 2021 para garantir a segurança de toda a Europa, incluindo a sua. A recusa dos EUA em se sentar resultou na Operação Militar Especial da Rússia.

O plano para destruir a Rússia na Ucrânia é apenas um primeiro passo na estratégia straussiana (3) para reordenar a realidade geopolítica do mundo em uma configuração mais vantajosa para que os EUA pudessem finalmente forçar a conformidade da China com o ditames dos grandes detentores de capital ocidentais. Os detentores de grandes capitais ocidentais estão de fato engajados em uma luta terminal, com o capital estatal chinês, que decidirá o futuro da humanidade. A hegemonia unipolar ocidental continuará exercendo suas políticas de extração no Sul Global? Ou um arranjo multipolar entre iguais bifurcará o mundo em uma nova era de destino compartilhado?

Mas o que você acha que acontece quando uma nação adolescente impetuosa de 250 anos ameaça a avó de 5.000 anos de todas as nações da terra?

Maturidade e sabedoria inevitavelmente triunfam de forma esmagadora, pois meus posts a seguir tornarão amplamente evidentes:

— Parte 2. O impetuoso adolescente dos EUA fica isolado em seu canto

— Parte 3. Para combater a agressão ocidental, a China está garantindo sua autossuficiência tecnológica

– – Parte 4. O resultado da vindoura ‘maior depressão de todos os tempos’ decidirá o destino da humanidade.

Notas

(1) Centros da economia mundial :

1— Feiras da Champagne e cidades-estado italianas (séculos XII e XIII)

2— Bruges-Flandres (séculos XIV e XV)

3 — Espanha (final do século XV e primeira parte do século XVI)

4— Antuérpia -Flandres (segunda parte do século XVI)

5— Amsterdã-Holanda (século XVII e primeira parte do século XVIII)

6— Londres-Grã-Bretanha (segunda parte do século XVIII, XIX e primeira parte do século XX)

7— Nova York-EUA (século XX e primeira parte do século XXI)

8— Pequim-China, no centro da Ásia Oriental, está atualmente em processo de conclusão do 8º deslocamento do centro de gravidade da economia -mundo em detrimento dos EUA.

(2) O “outro maligno do Oriente”. Em “O Continuum do Campo Cultural” desenvolvo a tese de que as sociedades são movidas pelo seu campo cultural.

“No processo de minha pesquisa descobri que o que habitualmente chamamos de cultura abrange, na realidade, diferentes conceitos que se aplicam a uma substância semelhante à medida que ela se expressa ao longo de diferentes escalas de tempo:

1.Civilização

Uma civilização eventualmente emerge dentro de um determinado território e seus axiomas então espalham um continuum cultural nas múltiplas sociedades que se formam e se desenvolvem dentro de sua esfera territorial.

2.Visões de mundo

Uma cosmovisão é uma narrativa social, sobre o funcionamento da realidade, que se baseia nos axiomas de sua civilização. As visões de mundo são compartilhadas pelos cidadãos das sociedades ao longo da era histórica de longo prazo que abrange seu continuum civilizacional. O compartilhamento de uma visão de mundo pelos cidadãos fortalece sua confiança uns nos outros, o que leva a uma coesão social mais forte que, por sua vez, facilita a reprodução de suas sociedades ao longo de muitas gerações.

3. Cultura cotidiana

A cultura cotidiana é a soma de todas as ideias humanas, comportamentos, ações, modas e outras que são expressas pelos indivíduos de uma determinada sociedade no momento presente.

… Vamos, por uma questão de hábito, designar uma substância social semelhante, uma vez que está se expressando em diferentes escalas de tempo, sob a denominação de cultura. Mas um caráter diferente à medida que se move nas diferentes escalas de tempo dadas por ‒ o presente diário ‒ um certo período de tempo histórico ‒ ou o continuum civilizacional.

A confusão reinante sobre o significado do conceito de cultura se origina em nossa confusão sobre seu caráter diferente em diferentes escalas de tempo.

… Esta ideia de continuum implica evolução ‒ a evolução biológica dos indivíduos ‒ a evolução cultural das sociedades.

Ambos os tipos de evolução participam da evolução das espécies. Nesse sentido, o continuum cultural dentro das sociedades é uma analogia do código genético dos indivíduos.

A evolução biológica é impressa no código genético dos indivíduos depois que uma mutação genética se replica ao longo do tempo. Da mesma forma, a evolução social é impressa no continuum cultural depois que uma mutação cultural (meme) se replica ao longo do tempo.

O que é importante lembrar neste estágio é que a biologia é primordial e inegociável. Isso significa que a cultura tem que se submeter aos imperativos da biologia. Não pode ir contra a biologia.”

Tudo isso significa que o caminho das sociedades é dado em grande parte por seus axiomas de civilização e por sua visão de mundo (religião ou filosofia) que estão impressas na mente de seus cidadãos.

Como axioma mestre da civilização ocidental, o dualismo impulsiona o pensamento dos ocidentais sobre “os outros”. Eles inconscientemente postulam que eles mesmos estão do lado “do bem” e isso os faz acreditar que suas sociedades são “excepcionais”. Mas isso também implica necessariamente que, em suas mentes, a alteridade do “outro”, nas crenças vestidas ou na cor da pele, é o sinal de sua maldade.

A crença ocidental, em sua própria bondade e excepcionalismo, inconscientemente força os ocidentais a ver a China como uma nação maligna cujo povo não é confiável e assim por diante.

É por isso que o Ocidente se recusa a aceitar a ideia de que a China supere o poder econômico dos EUA…

E vendo que a China está vencendo-os em seu próprio jogo, os ocidentais estão furiosos… e continuamente insultam aquele país enquanto inventam todos os tipos de histórias, como campos de concentração em Xinjiang, para tentar pintar uma imagem repulsiva da China aos olhos do mundo em geral.

Mas seja qual for a propaganda que os ocidentais estão gritando diariamente a plenos pulmões, os fatos são muito mais pesados ​​do que suas palavras! Na realidade, suas palavras são geralmente percebidas, aos olhos do resto do mundo, como nada mais do que mentiras flagrantes!

3. Os Straussianos:

Alguns alunos e seguidores de Leo Strauss, professor de ciência política na Universidade de Chicago de 1949 a 1969, formaram o núcleo do movimento neoconservador dos EUA. Eles defendem a promoção da intervenção estrangeira para preservar a hegemonia dos EUA. Paul Wolfowitz é o mais conhecido entre eles. Ele estava entre os fundadores do think-thank “Projeto para o Novo Século Americano” que defendia a eliminação de qualquer concorrente que pudesse ameaçar a supremacia econômica dos EUA, que eles temiam ter o efeito de cancelar seu reinado hegemônico do mundo .

Os straussianos operam como atores da política externa de administrações republicanas e democráticas e colaboram com “intervencionistas liberais” como Hillary Clinton ou Antony Blinken.

Fonte: https://laodan.blogspot.com/2022/11/the-perspective-of-5000-year-old.html

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