Misión Verdad – 27 de junho de 2025
Resenha de uma ambição e dignidade abaixo de zero
Foto de capa: O Presidente Donald Trump discursa durante uma coletiva de imprensa no final da cúpula da OTAN, ao lado do Secretário de Estado Marco Rubio e do Secretário de Defesa Pete Hegseth (Foto: Alex Brandon / AP Photo).
Nos dias 24 e 25 de junho de 2025, Haia se tornou o epicentro de uma cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que não apenas marcou uma mudança inesperada na dinâmica tradicional da aliança, mas também serviu como uma vitrine para os caprichos do poder global.
Essa reunião, realizada sob a sombra do cada vez mais imprevisível Donald Trump, mostrou como os líderes europeus competiram para bajular o presidente dos EUA e confirmou a dependência estratégica dos EUA da qual a coalizão sofre.
Das grandes expectativas à bajulação ao rei Trump
A agenda oficial da cúpula, publicada pela OTAN dias antes, prometia abordar questões cruciais como segurança coletiva, cooperação energética europeia, o confronto pré-fabricado com a Rússia e o fortalecimento da defesa continental contra conflitos permanentes e emergentes, especialmente na Ásia Ocidental.
Desde o início, no entanto, ficou claro que a verdadeira estrela da reunião seria Trump, que veio com a intenção de reafirmar sua visão “America First” em uma estrutura internacional à qual tem-se tentado resistir há anos. Seu retorno à Casa Branca em 2024 reconfigurou a dinâmica de poder dentro da organização.
O presidente magnata, que em várias ocasiões ameaçou retirar seu país da aliança, foi recebido com elogios por sua “liderança decisiva” na defesa coletiva. Ele chegou a Haia depois de uma campanha eleitoral na qual questionou novamente a utilidade das organizações multilaterais, incluindo a própria OTAN.
Líderes como o primeiro-ministro britânico Keir Starmer e o chanceler alemão Friedrich Merz usaram uma linguagem carregada de superlativos, lembrando táticas vistas em outros eventos internacionais em que os líderes aliados preferiram mimar o ego do presidente dos EUA.

O secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, chegou a compará-lo a um “pai” que precisa usar uma “linguagem forte” para controlar os conflitos globais, principalmente na Ásia Ocidental. Essa analogia, que atraiu críticas, refletiu uma estratégia deliberada de aproximação: tratar Trump não como um igual, mas como um ator central e indiscutível em qualquer política de segurança global.
Rutte parabenizou Trump por sua ação “decisiva” e “verdadeiramente extraordinária” no Irã, ignorando o fato de que foi uma violação completa do Direito Internacional e de todos os princípios e normas com os quais a Europa, pelo menos, deveria se preocupar.
Essa atitude submissa atingiu níveis sem precedentes quando o próprio presidente dos EUA foi convidado a passar a noite no Palácio Real da Holanda, um gesto raro normalmente reservado a monarcas estrangeiros. “São pessoas bonitas e de grande coração”, disse Trump sobre o Rei Willem-Alexander e a Rainha Máxima, demonstrando como a diplomacia europeia procurou se aproximar do presidente dos EUA por meio de símbolos e protocolos.
Uma cúpula sem ambição ou relevância
Embora inicialmente se esperasse que a Ucrânia fosse o foco central da cúpula, sua presença acabou sendo marginal. O presidente ucraniano Volodimir Zelensky mal foi mencionado nos discursos oficiais, e a operação militar russa foi mencionada de forma genérica na declaração final, sem condenações explícitas ou propostas de ações enérgicas.
Esse vácuo contrastou com as expectativas geradas por declarações anteriores de líderes europeus, que insistiram em se aquecer para uma postura de confronto com Moscou.
Tudo indica que a postura de baixa tensão de Trump em relação à Rússia influenciou esse resultado. Os europeus, à sombra do magnata, minimizaram a intensidade anterior de suas declarações sobre a suposta “ameaça russa”.
A Espanha, por sua vez, tornou-se o centro de uma controvérsia ao anunciar publicamente que não seria capaz de cumprir a meta de investir 5% do PIB em defesa até 2035, conforme exigido por Trump desde 2017. O governo espanhol justificou sua decisão com base em restrições orçamentárias domésticas, o que provocou uma reação imediata do presidente dos EUA, que ameaçou aplicar tarifas adicionais às exportações espanholas se elas não compensassem essa não conformidade.
A Eslováquia, por sua vez, também expressou dúvidas sobre a viabilidade do novo padrão de gastos militares, ressaltando que sua participação na OTAN é meramente simbólica e que prioriza outras áreas sociais e econômicas.
Essas vozes discordantes destacaram a fragilidade do consenso dentro da aliança, que, em teoria, deveria se basear na “solidariedade”, mas que há muito tempo, e agora está se tornando óbvio, se baseia na coerção econômica e diplomática liderada pelos EUA.
A declaração final emitida pelos 32 estados-membros foi notavelmente morna. Embora reconhecesse a necessidade de aumentar os gastos militares, ela não apresentava compromissos claros, mecanismos de supervisão ou sanções concretas para os países que não cumprissem as novas metas, o que Trump fez.
Isso sugere que a OTAN está mais preocupada em manter a aparência de unidade do que em promover soluções reais.
Dignidade zero: a estratégia do protetorado euro-atlântico
Além dos discursos e das fotos protocolares, o que realmente está por trás da nova meta de gastos militares é uma dependência crescente dos sistemas de defesa dos EUA. Forçados a aumentar drasticamente seus investimentos, os países europeus inevitavelmente terão que recorrer a compras maciças de tecnologia e armamentos fabricados nos EUA.
Países como a Polônia e a Alemanha anunciaram compras de vários bilhões de dólares de sistemas de defesa dos EUA, enquanto projetos europeus como o Future Combat Air System (FCAS) foram colocados em segundo plano. Isso não só beneficia as grandes corporações militares dos EUA, como a Lockheed Martin ou a Raytheon, mas também aprofunda uma relação de subordinação estratégica.
Cerca de 63% das compras de defesa da UE são feitas por empresas norte-americanas. Durante a cúpula, várias delas anunciaram contratos multimilionários com países europeus para sistemas de mísseis, drones e equipamentos de inteligência artificial. Isso mostra que a OTAN também é um canal privilegiado para o comércio de armas.
Além disso, a ênfase no aumento dos gastos militares ignora realidades complexas, como a cooperação no compartilhamento de informações, a diplomacia preventiva e o desenvolvimento tecnológico autônomo na Europa. Em vez de promover uma estratégia integrada, a cúpula pareceu responder apenas aos desejos de Washington, que busca manter sua hegemonia militar em um momento de crescente concorrência com a China e a Rússia.
O que aconteceu nega um cenário no qual Rutte tentou persuadir Trump enquanto a Europa construía uma autonomia estratégica real. Pois uma eventual “manipulação tática” não viria com capitulações políticas reais que aprofundam a dependência.

Os cidadãos europeus estão arcando com uma carga tributária cada vez maior para sustentar uma estrutura de defesa que beneficia principalmente as corporações transnacionais e um presidente dos EUA obcecado em demonstrar poder.
Pesquisas recentes revelam que quase dois terços dos europeus acreditam que a eleição de Trump torna o mundo menos seguro, enquanto 70% acreditam que a UE deve contar apenas com suas próprias forças para garantir sua defesa e segurança. Além disso, uma aliança como a OTAN hoje inspira confiança em apenas 14%.
Desde que assumiu novamente a Casa Branca, Trump tem sido consistentemente agressivo em relação à Europa, ameaçando anexar a Groenlândia pela força militar, uma enorme ilha que representa 98% da área terrestre da Dinamarca, membro da UE e da OTAN. Ele propôs também a anexação de 100% do Canadá, outro membro da OTAN, e lançou uma guerra comercial durante a qual ele rotineiramente chamou a Europa de “mais desagradável do que a China” e projetada para “ferrar” os Estados Unidos.
Com a dignidade em baixa, a OTAN acaricia o ego de Trump e constitui uma espécie de “exército satélite” dos Estados Unidos, com os países europeus pagando para garantir a proteção que, em última análise, atende aos interesses geopolíticos de Washington. Ela deixou de ser uma instituição de cooperação estratégica para se tornar uma arena de bajulação, chantagem comercial e decisões tomadas mais por medo do que por convicção.
O que aconteceu em Haia não foi uma cúpula de unidade, mas uma demonstração da fragilidade da ordem internacional ocidental, dependente como é de negócios e egos. Nesse vácuo de liderança coletiva, a OTAN está naufragando entre a bajulação e a irrelevância.
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Fonte: https://misionverdad.com/globalistan/la-otan-naufraga-entre-trump-y-la-irrelevancia
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