Misión Verdad – 08 de maio de 2025
O presidente Nicolás Maduro chegou a Moscou na madrugada de 07 de maio para participar da comemoração do 80º aniversário da Vitória da Grande Guerra Patriótica, um marco histórico celebrado na Rússia e em outros países da ex-União Soviética que ainda é relevante hoje, em um momento em que o fascismo e o neofascismo estão sendo combatidos em várias frentes globais.
Esse contexto foi propício para que o presidente realizasse uma reunião bilateral com seu colega Vladimir Putin no mesmo dia, cuja conclusão se materializou na assinatura de um Acordo de Cooperação e Parceria Estratégica, no âmbito do 80º aniversário do estabelecimento de relações entre Caracas e Moscou.
Esse tratado fortalece os laços históricos entre as duas nações, mas também estabelece uma estrutura multidimensional para cooperação política, energética, econômica, militar, tecnológica e cultural.
Em um contexto internacional marcado pelo aumento da multipolaridade e das tensões geopolíticas, a Rússia e a Venezuela buscam consolidar uma aliança estratégica com o objetivo de combater as pressões externas e promover uma visão alternativa da ordem mundial.
Defesa, energia, comércio e finanças
O acordo, que é inicialmente válido por dez anos com renovação automática por períodos de cinco anos, prevê o aprofundamento da coordenação em várias frentes. Isso inclui a cooperação em defesa, com ênfase no fortalecimento das capacidades técnico-militares para garantir a segurança nacional de ambos os países.
Os dois países comprometeram-se a trabalhar em estreita colaboração na luta contra o terrorismo internacional e o extremismo. É importante lembrar que a desnazificação foi um dos objetivos centrais da Operação Militar Especial na Ucrânia em nome do povo do Dombass, que estava sendo alvo de genocídio pelo governo pró-EUA em Kiev.
Eles também comprometem-se a trabalhar juntos em questões de controle de armas e prevenção de conflitos espaciais, reafirmando sua posição comum contra a militarização do espaço – conforme expressa por Washington – e a favor de seu uso exclusivamente pacífico.
Isso inclui a implantação de uma estação russa do sistema de navegação por satélite Glonass na Venezuela.
No campo da energia – um dos pilares fundamentais da relação bilateral – Moscou e Caracas concordaram em promover a exploração conjunta e a exploração de novos depósitos de petróleo e gás natural, o que é crucial para a Venezuela em um contexto em que as sanções criminais dos Estados Unidos estão pressionando o setor de hidrocarbonetos.
Esse ponto torna-se ainda mais relevante se considerarmos que, em 2024, o comércio bilateral cresceu 64%, chegando a US$ 200 milhões, de acordo com dados oficiais russos.
A parceria estratégica pode se traduzir em tecnologia russa aplicada à infraestrutura venezuelana, bem como em novos caminhos de financiamento e marketing para os produtos energéticos venezuelanos.
Isso também inclui os principais aspectos financeiros contidos no acordo: a promoção de uma infraestrutura financeira independente para contornar as sanções ilegais impostas principalmente pelos EUA e seus parceiros ocidentais.
É possível que se trate de uma iniciativa que busque criar mecanismos bilaterais de pagamento e crédito usando moedas nacionais, talvez respaldadas por ativos tangíveis, como metais e recursos estratégicos – possivelmente petróleo – proposto por especialistas russos em fóruns eurasiáticos e outros atores globais. Isso reduziria a dependência do dólar americano e do sistema bancário global dominado pelos EUA, que determinam os fluxos financeiros internacionais.

Entre a geopolítica e a verdade histórica
Ambos os países demonstraram sua disposição de respeitar e expandir os estabelecimentos formais de fóruns multilaterais. De fato, a Rússia expressou seu apoio à adesão plena da Venezuela ao Brics, um bloco emergente que representa uma alternativa à tradicional liderança econômica e política dos Estados Unidos.
Eles também se opuseram às sanções unilaterais, que violam a Carta da ONU e outros princípios do Direito Internacional. Nesse contexto, o presidente Maduro pediu em várias ocasiões a reforma do sistema da ONU, já que – segundo ele – é uma plataforma que está em crise, citando o genocídio israelense em Gaza como exemplo disso.
O tratado também afirma que eles estão comprometidos em promover iniciativas conjuntas dentro de organizações com forte influência na dinâmica geoeconômica internacional, como a OPEP+ e o Fórum dos Países Exportadores de Gás, o que fortaleceria sua influência nos mercados globais de energia.
A dimensão ideológica e de comunicação do acordo também é importante. Putin e Maduro concordaram com a necessidade de combater a desinformação e a propaganda negativa, liderada pelo extremismo ocidental, dirigida a seus países e Estados.
Na mesma linha, eles rejeitaram explicitamente a glorificação do nazismo e a manipulação da História, especialmente no que diz respeito ao resultado da Segunda Guerra Mundial, e destacaram seu compromisso com a memória histórica e a verdade objetiva. A comemoração do 80º aniversário da conclusão vitoriosa da Grande Guerra Patriótica é o cenário ideal para reafirmar isso.
Por fim, o tratado inclui componentes culturais e sociais, como o fortalecimento dos laços educacionais, científicos e esportivos. Especificamente, os dois lados concordaram em combater qualquer tentativa de dividir o movimento olímpico internacional, uma clara referência às exclusões seletivas de atletas russos e bielorrussos de competições internacionais após o início da Operação Militar Especial na Ucrânia.
Em suma, o Acordo de Parceria Estratégica e Cooperação entre a Rússia e a Venezuela representa um marco na consolidação de uma parceria abrangente que transcende o nível diplomático formal.
Estamos falando de um instrumento que busca garantir a soberania de dois atores fundamentais na dinâmica de suas respectivas regiões, bem como na geopolítica mundial. Nesse sentido, visa a construir uma alternativa às pressões externas e uma visão comum do mundo baseada no respeito mútuo, na cooperação estratégica e na multipolaridade.
Para a Venezuela, esse acordo pode se tornar uma ferramenta fundamental para a transformação econômica, de acordo com os planos do governo do presidente Nicolás Maduro, bem como um impulso para sua inserção em novas dinâmicas geopolíticas. Para a Rússia, o acordo reforça sua presença na América Latina, região em que mantém um relacionamento privilegiado com diversos atores, mas com poucas alianças institucionalizadas de tal magnitude.
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Fonte: https://misionverdad.com/venezuela/analizando-el-acuerdo-de-asociacion-estrategica-entre-rusia-y-venezuela
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