Irina Slav – 23 de abril de 2025
Nos anos 90, a cada duas garotas, uma era anoréxica. Bem, nem todas eram realmente anoréxicas, mas acreditavam que eram. A devastadora doença mental havia se tornado uma tendência, uma escolha de moda que muitos faziam, da mesma forma que muitos agora escolhem se identificar como várias formas de vida diferentes da que eles são. Esta semana, depois de receber não um, não dois, mas três e-mails consecutivos do WSJ [The Wall Street Journal – nota da tradutora] com artigos sobre eficiência energética, comecei a suspeitar que a eficiência energética está se tornando uma tendência e, assim como a tendência da anorexia, tudo acabará em lágrimas.
É claro que não há nada de errado com a eficiência energética em si. É bom ter um motor que queime mais da gasolina no tanque com menos quantidade de subprodutos. É bom tomar banho com um chuveiro inteligente que direciona mais água para onde ela é necessária e não para os lados. No entanto, parece que a busca pela eficiência energética começou a sair do controle, e isso está se tornando bastante caro, tanto em termos de dinheiro quanto de conforto.
Como exemplo, um de vocês observou recentemente mudanças na pressão da água em partes dos EUA que se resumiram basicamente à redução da pressão da água para melhorar a eficiência do uso da água, com o único resultado de que as pessoas realmente precisam usar mais energia em geral para fazer o mesmo trabalho com a mesma quantidade de água. Chuveiradas mais longas devido à baixa pressão da água são um exemplo, assim como a necessidade de lavar a louça novamente porque a máquina de lavar louça não consegue funcionar com a mesma eficiência com a baixa pressão da água. Se ao menos eles tivessem parado com a pressão da água.
Aqui está um dos artigos do WSJ que nos fala de uma ideia brilhante para extrair calor. Para mim, era novidade que a água do vaso sanitário tivesse algum calor que valesse a pena extrair, mas aparentemente tem. O artigo destaca um projeto desse tipo em Vancouver, que começou com 3,2 MW de capacidade de recuperação de calor de esgoto e depois aumentou essa capacidade em mais 6,6 MW. O preço da expansão: C$ 14 milhões [de dólares canadenses – nota da tradutora].
Para ser totalmente honesto, isso não parece muito no contexto de bilhões gastos, por exemplo, em ônibus elétricos que não duram um ano e incorrem em despesas comparáveis ao seu preço original em termos de reparos e manutenção inesperados. Mas também não é exatamente barato.
Aqui está outro exemplo do Reino Unido, mais fácil de relacionar. Um site chamado The Green Age promove sistemas de recuperação de calor de águas residuais domésticas que podem “converter 60% da energia potencial das águas residuais de volta em calor para a água que entra”. Isso certamente soa bem e economiza dinheiro. Até você chegar à parte importante.
Em primeiro lugar, você não pode simplesmente colocar o dispositivo no seu banheiro. Primeiro, é necessário destruir o banheiro e, em seguida, instalar o dispositivo, pois “o volume e o comprimento do dispositivo de recuperação significam que a maioria dos chuveiros ou banheiras não seria adequada”. O dispositivo em si é bastante acessível, custando 600 libras, mais 400 para a instalação. Portanto, os britânicos aventureiros do calor enfrentam uma conta de 1.000 libras para obter um conversor de calor para águas residuais.
Agora, quanto à economia real: “Uma economia típica em uma residência média pode ser de £20-30 por ano. Portanto, o tempo de retorno do investimento é de cerca de 40 anos, normalmente. É claro que, se você usa muita água quente, isso pode começar a parecer um pouco mais atraente.” Gostaria de poder ser tão engraçada sem querer, mas cheguei ao ponto de presumir que 200 ml é igual a 200 g de farinha e assei um pão em vez de um bolo.
Nem tudo são coisas bobas como essas. Uma equipe de pesquisadores, por exemplo, relatou recentemente que criou algo chamado gerador termoelétrico que pode ser fixado no tubo de escape e converter parte do calor residual do carro em eletricidade para ser, imagino, devolvido ao carro, economizando a bateria. A ideia me agrada bastante, mas vou aguardar a opinião dos especialistas entre vocês.
Há também a MasterCard. “Na área verde do gramado em frente à nossa sede, estamos perfurando 160 furos de 600 pés de profundidade na terra, que serão preenchidos com um sistema de aquecimento e resfriamento conectado por tubulação.” Esse é um sistema de bomba de calor de fonte subterrânea, e esses tendem a custar um bom dinheiro, mas não importa. O que achei mais interessante é que “para alimentar o sistema, mudaremos de gás natural para eletricidade proveniente de energia renovável, reduzindo ainda mais nossa dependência de combustíveis fósseis”. Tenho certeza de que eles estavam muito orgulhosos de si mesmos por terem tido essa ideia embaraçosamente barata.
Mas a MasterCard não está parando por aí, assim como os anoréxicos de verdade não param em simplesmente comer menos. Não, a MasterCard está dando um passo hilário além. “Em Saint Louis, onde nosso centro de dados requer uma quantidade significativa de energia, adquirimos um terreno próximo ao nosso campus para abrigar painéis solares, preservando metade do terreno e nos comprometendo a restaurar cada árvore removida como parte dos esforços de nossa Priceless Planet Coalition para restaurar 100 milhões de árvores em seis continentes.”
Assim, em metade do terreno, eles colocarão painéis, para os quais derrubarão muitas árvores. Na outra metade, eles plantarão árvores, ou pelo menos é o que eu presumo se eles se comprometeram a restaurar as árvores. No entanto, as árvores fazem uma coisa chamada sombra e a sombra não é boa para os painéis solares. Por outro lado, posso estar errada e eles estarão preservando a grama na outra metade do terreno solar e plantando árvores em outro lugar, em um local que não esteja ameaçado por ideias solares engenhosas semelhantes.
Aqui está uma observação final sobre a mania da eficiência energética. Ela vem da Austrália e diz respeito aos empréstimos verdes que os bancos têm o prazer de conceder a todos que desejam tornar sua casa mais eficiente em termos de energia. Os empréstimos verdes, segundo o artigo, têm juros mais baixos do que outros empréstimos pessoais, e você pode usar o dinheiro para comprar painéis solares, baterias e janelas com vidros duplos. Mas há também outra categoria de empréstimos que alguns bancos oferecem: empréstimos verdes para a casa própria.
Esses empréstimos são para compradores de casas, e um banco só os oferece se a casa que o comprador deseja adquirir estiver em conformidade com determinados critérios de eficiência energética. Caso contrário, você não conseguirá um empréstimo, pelo menos não do Bank Australia. Como era de se esperar, não é apenas o Bank Australia que oferece esses empréstimos especiais. O NatWest também faz isso no Reino Unido. O mesmo acontece com o Barclays. Assim como muitos outros fornecedores de hipotecas, tenho certeza, porque os bancos reconhecem um bom negócio quando o veem. É uma pena que muitos de nós, pessoas não bancárias, não consigamos ver quando um negócio é bom para o banco, mas não para nós.
Não há nada de errado em querer ser magro e saudável. Também não há nada de errado em reduzir seu desperdício de energia de todas as formas disponíveis. No entanto, levar a perda de peso e a eficiência energética além de um certo limite invariavelmente tem o efeito oposto, seja um colapso completo da saúde no caso da anorexia ou contas mais altas que podem levar à falência. Ou um apagão porque seu instalador de energia solar faliu. Imagine se essas duas famílias também tivessem investido em sistemas de recuperação de calor de águas residuais e tivessem hipotecas verdes.
Fonte: https://irinaslav.substack.com/p/energy-anorexia
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