Quantum Bird – 14 de março de 2025
English version available in Chronicles of the Global South: https://globalsouth.co/2025/03/15/diplomacy-in-a-room-full-of-mirrors-postmodernism-as-a-cognitive-pathological-virus/
O pós-modernismo, com o seu relativismo cognitivo e outros artefatos pseudo-filosóficos, é o lugar onde o ocidente foi para morrer. A doença cognitiva degenerativa ocidental entrou em seu estágio terminal, e os sinais estão em todos os lugares.
Já nos ocupamos dos aspectos culturais quando analisamos o wokeismo em postagens anteriores. Hoje examinaremos brevemente os impactos do pós-modernismo na [morte da] diplomacia ocidental. Em vez de uma abordagem histórica, potencialmente longa e tediosa, deixe-nos proceder por exemplos. E o melhor exemplo recente é sem dúvidas a proposta de cessar-fogo, acordada entre os EUA e a Ucrânia, para o conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
A proposta é um grande unicórnio alado. Algo que não existe, nem poderia existir porque viola patentemente o princípio da causalidade. De fato, desde o início da Operação Militar Especial, a posição russa tem sido clara sobre a impossibilidade de um cessar-fogo, ou seja, suspensão das hostilidades, porque a própria operação foi lançada para resolver as causas primárias do problema, que seriam o nazismo associado ao potencial militar ofensivo ucraniano. Como os fatos no terreno da antiga Ucrânia demonstram, desnazificação e desmilitarização da Ucrânia — os principais objetivos da Operação Militar Especial — não são meras articulações retóricas.
Ou seja, por design, a Operação Militar Especial é incompatível com a noção de cessar-fogo. Ainda assim, essa é a “proposta de paz” que o governo Trump formulou juntamente com a liderança ucraniana, para ser negociada com a Rússia.
Os subenredos são ainda mais fantásticos. A proposta prevê o restabelecimento dos suprimentos de armamentos e inteligência ao regime ucraniano durante o cessar-fogo e não formula nenhum conceito sobre quais autoridades ficariam responsáveis por fiscalizar o seu cumprimento durante o período de 30 dias. Nenhuma menção ao que acontece depois. A cereja do bolo é o pedido, pelas autoridades estadunidenses, de clemência com as tropas terroristas ucranianas cercadas em Kursk.
O presidente Putin, em coletiva de imprensa durante o encontro com o presidente da Bielorrússia, declinou diplomática e elegantemente a proposta. Em seus comentários, Putin formulou uma série de perguntas a respeito dos problemas óbvios com a ideia de um cessar-fogo. Ao fazê-lo no estilo didático o suficiente para retardados mentais, Putin efetivamente colocou um grande cartaz escrito “Estúpido” na cabeça dos membros da delegação estadunidense que visitariam o Kremlin logo em seguida para discutir o assunto. Enquanto isso, Trump continua celebrando a proposta de cessar-fogo como uma grande vitória para sua iniciativa de paz.
O episódio demonstra claramente a incapacidade crônica dos líderes ocidentais de verem e ouvirem qualquer coisa que não venha deles mesmos, como o próprio presidente Putin indicou em seu discurso de 2007 em Munique. Estão efetivamente presos em uma sala de espelhos. A “diplomacia” ocidental perdeu contado com a realidade e opera a base de narrativas. Não importa que a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, advogando publicamente, a torto e a direito, a invasão e o desmembramento da Rússia em pequenas vilas, ou o histórico, registrado ao vivo, dos líderes da França e da Alemanha admitindo que usaram o cessar-fogo combinado nos Acordos de Minsk 1 e 2 para rearmar, fortificar e organizar as tropas nazistas ucranianas entre 2015 e 2018. Ou a visita de Boris Jonhson a Kiev em 2022 para retirar a Ucrânia dos acordos paz de Istambul. Os europeus insistem em serem uma parte na negociação da resolução do conflito. Como a Rússia poderia aceitar isso?
E Trump, será que ele ouve alguma coisa que dizem a ele? A julgar pelo seu comportamento nas coletivas de imprensa, em que o teor das perguntas é recorrentemente ignorado e as respostas são uma repetição de slogans de campanha e autoelogios…
Tudo somado, a iniciativa de paz estadunidense parece muito mais um arranjo para garantir o recrudescimento e a ampliação das hostilidades. Lembre-se, da perspectiva pós-modernista, o que importa é a narrativa. Não existe realidade objetiva.
O brilho do ocidente é como a luz que chega até nós de uma longínqua estrela morta. Ainda a podemos ver, enquanto ela percorre as imensas distâncias siderais, mas a sua origem já se apagou.
Também o capitalismo ocidental se esforça por transmitir uma imagem de grandeza através da sua imensa parafernália de propaganda, mas todo o edificio que o sustenta tem os seus alicerces no vazio.
Nada de novo, trata-se apenas do último estádio da evolução capitalista e termina sempre da mesma maneira. Aconteceu duas vezes no século passado.
Antes que me esqueça, excelente artigo, Bird.
Perfeito. Já procurei ajuda neurológica para garantir que eu não estaria em algum processo de degeneração cerebral, acreditem. Assustador o momento em que vivemos. Fundamental esta reflexão, parabéns.
Excelente artigo.
Lembrei de Sampa do Caetano:
…”É que Narciso acha feio o que não é espelho”…
Os líderes ocidentais são psicopatas narcisistas, presos numa sala de espelhos, como bem definiste. Não há saída lógica ou normal com essa gente.