Dmitry Orlov – 28 de fevereiro de 2024
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Salão Oval da Casa Branca. Creditos: Frente Oriental (https://t.me/frenteoriental/7909)
Os tempos em que vivemos estão fazendo com que as cabeças falantes de sempre reclamem incessantemente que os eventos estão se desenrolando rápido demais para que eles consigam acompanhar.
– Em um momento, a Síria existe como uma nação soberana governada por um ditador hereditário apoiado pela Rússia e pelo Irã; no momento seguinte, o ditador desaparece, o apoio russo e iraniano é retirado e o território é invadido por remanescentes da Al Qaeda apoiados pela Turquia (que prometem ser bonzinhos desta vez, mas não o cumprem), enquanto o território é dividido entre a Turquia e Israel.
– Em um momento, a Casa Branca afirma que a antiga Ucrânia é sua amiga para sempre, que deve receber apoio generoso “pelo tempo que for necessário”; no momento seguinte, ela é uma ditadura corrupta que deve devolver, na forma de recursos naturais, todo o dinheiro que já recebeu.
– Em um momento, a “solidariedade transatlântica” é uma palavra de ordem; no momento seguinte, os europeus são antidemocráticos, contra a liberdade de expressão e demonstram tendências totalitárias, ignorando os desejos de seu eleitorado (que quer a paz com a Rússia).
– Em um momento, a Rússia é um Estado pária prestes a entrar em colapso, “um posto de gasolina disfarçado de país” com “sua economia em frangalhos”, perdendo sua guerra contra a poderosa Ucrânia; no momento seguinte, é uma potência mundial certificada com interesses nacionais legítimos que oferece uma longa lista de exportações essenciais não disponíveis em outros lugares.
Vamos desacelerar um pouco as coisas, para que possamos ver além da exibição calleidoscópica do barulho da mídia. Analisando a questão de um ponto de vista estratégico americano (porque, digamos, queríamos tornar os Estados Unidos grandes novamente – só para fins de argumentação), a China é certamente um concorrente – ou será que é? Basta ver o que os chineses fizeram com a bolha da inteligência artificial no mercado de ações dos EUA ao lançar um LLM [Modelo de linguagem de grande escala, que os leigos no assunto costumam chamar de IA – nota do tradutor] que não só é melhor do que os produzidos nos EUA, altamente financeirizados, como também é gratuito (ou seja, de código aberto). O mercado de IA despencou, pois por que alguém pagaria muito dinheiro por algo que é gratuito? Para ter certeza, toda a rede neural é apenas um pouco de matemática mais um monte de hardware para executá-la. Se o hardware é uma commodity e a matemática é gratuita, todo o entusiasmo vai por água abaixo.
Outras formas de competir com a China foram igualmente malsucedidas. Os EUA queriam tirar de Taiwan a fabricação de chips sofisticados, mas… não conseguiram porque não há engenheiros taiwaneses suficientes no Arizona para fazer isso. Os EUA limitaram o acesso dos chineses aos microchips sofisticados e, em troca, os chineses limitaram o acesso dos EUA aos metais de terras raras necessários para fabricar os microchips sofisticados: uma troca de “favores”. Em segundo plano, os EUA e, especificamente, o setor de defesa dos EUA, não podem se sobreviver sem as abundantes importações chinesas de quase tudo que é fabricado. Os gerentes financeiros altamente eficientes dos EUA terceirizaram a maior parte de sua produção há muito tempo e agora não têm o talento em engenharia para trazê-la de volta porque todo o seu pool de talentos foi sugado para finanças, software e serviços. A conclusão inevitável é que os EUA e a China não são concorrentes, porque os EUA não podem viver sem a China e não podem competir com ela.
A Rússia é um concorrente dos EUA? Como demonstrou o conflito de três anos na antiga Ucrânia:
– A Rússia pode travar uma guerra terrestre moderna de alta intensidade, com tanques, artilharia, aeronaves drones de todos os tipos, foguetes, até ao combate corpo a corpo, contra um exército treinado pela OTAN, equipado com armas da OTAN e com informações de reconhecimento aéreo e por satélite fornecidas pela OTAN, incluindo acesso à Internet no campo de batalha via Starlink.
– Pode fazer isso enquanto obtém ganhos constantes no campo de batalha, sofrendo no máximo 10 vezes menos baixas do que o inimigo, e sempre no ataque. Pode produzir mais material de guerra do que toda a OTAN combinada sem o uso de peças importadas. Sua técnica de combate é chamada de “atrito”: ela atrita o inimigo até quase zero, depois ocupa um pedaço do território fazendo prisioneiros ou matando os retardatários conforme necessário. Seu objetivo não é a captura de território, mas a “desmilitarização”: garantir que o território, capturado ou não, represente uma ameaça militar insignificante.
– Ela pode fazer isso com um déficit orçamentário insignificante e sem se endividar. Enquanto a Operação Militar Especial estiver em andamento, como um rolo compressor, o país pode continuar a expandir sua economia em cerca de 4% ao ano, mantendo uma inflação em torno do dobro disso (não muito confortável, mas tolerável).
– A Rússia pode ser comparada a um rolo compressor, não a um carro de corrida. “corrida de rolo compressor” produz zero resultados de pesquisa (acabei de verificar). A metáfora do rolo compressor tem seus limites: os rolos compressores normais têm freios, enquanto o rolo compressor russo não tem nenhum. Nenhum tipo de política, conversações de paz, negociações, concessões, sanções ou outras bobagens pode desacelerá-lo até que ele termine seu trabalho, que é rolar todos os nazistas ucranianos armados restantes (junto com seus amigos ocidentais, caso algum deles apareça) para o asfalto.
– Ela pode fazer tudo isso usando seu exército profissional – reservistas e contratados, não recrutas – e cuidando bem deles e de suas famílias para produzir um alto nível de apoio patriótico. O país já matou mais de um milhão de soldados ucranianos, a maioria deles mortos remotamente por artilharia, bombas aéreas, foguetes e drones e, embora os ucranianos tenham sido muito ruins na evacuação e no tratamento de seus feridos; muitas das baixas russas retornaram à ativa após o tratamento.
– E agora, o ponto alto: ele é capaz de realizar sua missão de “atrair e conquistar” com números menores do que o inimigo – algo que não foi atestado nos anais da ciência militar. Normalmente, partir para o ataque requer cerca de 10 vezes mais mão de obra e resulta em 10 vezes mais baixas.
Os russos superaram essas estatísticas desanimadoras por um fator de 10 em requisitos de mão de obra e um fator de 100 em taxas de baixas. Todos os exércitos devem aprender com isso – como estão fazendo, de fato, como evidenciado pelos pedidos muito altos de exportação de armas russas. Mas não há mistério: os russos não estão lutando por terra; eles estão lutando para matar o inimigo. Enquanto isso, o inimigo, ordenado por seu Schnüffelnführer Zelensky [líder cheirador, literalmente – nota do tradutor] a nunca recuar, e dissuadido de recuar contra as ordens por linhas de nazistas prontos para matá-los caso tentem, está sendo conduzido como cordeiros ao matadouro, esperando se render ou, pelo menos, morrer rapidamente e sem muita dor.
Surge uma pergunta: os EUA são, em termos militares, um concorrente da Rússia? Certamente não em termos de luta em uma guerra terrestre. A Rússia é hoje a potência militar preeminente, a fornecedora preferencial de sistemas de armas totalmente modernizados, testados em batalha e com preços razoáveis, e a garantidora da segurança das nações dentro de sua esfera de influência que se expande gradualmente. Os Estados Unidos, por outro lado, são os orgulhosos proprietários dos jatos F-35, dos quais apenas metade está em condições de voo, e dos porta-aviões que colidem com navios graneleiros em alto mar, em plena luz do dia e em clima calmo, com radares e transponders funcionando, como aconteceu recentemente. O arsenal estratégico da Rússia foi totalmente atualizado, enquanto o arsenal estratégico dos EUA (e o de seus aliados) está lamentavelmente desatualizado e não é confiável. É possível continuar a descrição, mas a conclusão é que os EUA não são mais um concorrente militar da Rússia.
Lembremos que o orçamento de defesa é praticamente a única grande parte do orçamento federal dos EUA que pode ser cortada sem afetar os direitos – a Previdência Social e outros gastos sociais -, o que o torna uma escolha natural para o corte de custos. Por sua vez, esse corte de custos é essencial, dada a péssima situação fiscal dos EUA. Donald Trump já cogitou a ideia de cortar o orçamento de defesa dos EUA pela metade – se a Rússia e a China fizerem o mesmo – e o próximo passo natural é cortá-lo pela metade unilateralmente. A conclusão disso é que os EUA precisam levar suas tropas para o mais longe possível das tropas russas – idealmente, para o outro lado do oceano – e manter relações pacíficas e cooperativas com a Rússia.
Uma lógica semelhante se aplica ao confronto militar dos EUA com a China. Como tanto os EUA quanto a China são nações nucleares, há um limite rígido para o nível de confronto militar entre os dois que seria quase suicida. Isso significa que a postura militar dos EUA em relação à China – seja em Taiwan, na Coreia do Sul ou no Japão – é apenas uma postura e foi projetada para agradar aos políticos americanos corruptos que estão recebendo dos empreiteiros de defesa dos EUA e, é claro, aos próprios empreiteiros de defesa. Alguns podem considerar esses efeitos como positivos, mas o efeito geral é o aumento dos custos para os EUA, tanto em termos de gastos com defesa quanto em termos de acesso a produtos essenciais fabricados na China, inclusive aqueles necessários para as empreiteiras de defesa e para as forças armadas dos EUA. Nesse caso, também, em termos estritamente financeiros (algo que Trump talvez entenda melhor do que a política internacional), manter-se firme em relação à China faz sentido como parte de um esforço geral de redução de custos.
A União Europeia é um concorrente dos Estados Unidos, da Rússia, da China ou de qualquer outro país? Deixarei a resposta a essa pergunta para o leitor descobrir. Uma questão relacionada é se a União Europeia é algo mais do que uma invenção da imaginação de alguns burocratas – uma alucinação de grupo, se preferir – e facilmente dissipada assim que o dinheiro acabar. E o dinheiro pode acabar de repente: o Banco Central Europeu ficaria inoperante se algo acontecesse com o cordão umbilical financeiro que o liga ao Federal Reserve dos EUA. Além disso, sua economia murcharia se perdesse o acesso ao gás e ao petróleo russos, ou aos produtos manufaturados chineses, ou… a União Europeia é como um dançarino de meia-idade que fez um split na pista de dança e agora não consegue se levantar.
Com certeza, haverá paz no final. Mas não será paz por meio da força. Os EUA, não podendo mais continuar a viver muito além de suas possibilidades, recorrerão a grandes cortes de custos (Elon Musk planeja cortar um trilhão, mas isso é apenas um começo). Eles liquidarão suas bases militares no exterior. Deixarão de se intrometer na política mundial. Cortarão o cordão umbilical financeiro que os liga à Europa, fazendo com que o euro encolha e desapareça. O rolo compressor russo continuará a esmagar os nazistas ucranianos até que não reste nenhum vivo. As pessoas de bem que ainda vivem no território da antiga Ucrânia, que ainda não faz parte da Rússia, farão uma pequena guerra civil e pisotearão o Schnüffelnführer e seus capangas no solo rico e fértil (os apoiadores ocidentais do Schnüffelnführer seriam bem aconselhados a se dirigirem à fronteira bem antes desse evento).
No momento, todos estão discutindo algo que é bastante ridículo. Estamos testemunhando uma luta política entre Trump, Macron, Starmer e o Schnüffelnführer sobre presentes de despedida. Trump diz que os EUA pagaram pela vitória e, em vez disso, receberam a derrota e, por isso, ele quer seu dinheiro de volta. Os outros querem uma parte disso. O Schnüffelnführer não está autorizado a assinar nenhum acordo, já que seu mandato presidencial expirou em maio passado e não está claro o que ele ainda controla – além de seu estoque de cocaína. Macron e Starmer também querem a bênção de Trump para jogar alguns milhares de suas próprias tropas (tudo o que eles podem reunir) sob o rolo compressor russo. Que desperdício de esforço! Se você notar, os representantes da União Europeia – a ginecologista-chefe ou aquela estranha estoniana de codinome “kaka” – nem sequer são mais recebidos na Casa Branca.
Enquanto isso, os russos e os americanos estão trabalhando arduamente para consertar as barreiras e restabelecer relações diplomáticas normais, redes financeiras, colaboração, investimento e comércio – porque isso é o que realmente importa.
Fonte: https://boosty.to/cluborlov/posts/717fddfc-7e79-48c1-b58b-3ab504b8eef1
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