Quantum Bird – 20 de maio de 2024
Todos vocês já devem saber que o Presidente do Irã, Ebrahim Raisi, e o seu Ministro do Exterior, Hossein Amir-Abdollahian, juntamente com outras lideranças, morreram no que parece ser um acidente de helicóptero numa região montanhosa no norte do Irã, perto da fronteira com Azerbaidjão.
Como sempre nesses casos, proliferam rapidamente as explicações que envolvem cenários conspiratórios criativos e artificialmente complicados. Na verdade, os detalhes publicamente disponíveis não são suficientes para tirar qualquer conclusão além do que já foi oficialmente divulgado pelo governo iraniano.
A ausência de informações detalhadas, que provavelmente nunca se tornarão disponíveis, não impede a formulação de algumas perguntas válidas:
1- Raisi viajava num helicóptero Bell 212, fabricado nos EUA e adquirido antes da revolução de 1978-79. Ou seja, pelo menos 45 anos e sem acesso à manutenção da fábrica ou a peças de reposição originais. É bem provável que este helicóptero não fosse capaz de voo por instrumentos.
Pergunta: Sendo assim, de onde partiu a decisão de voar sob mau tempo, com nevoeiro intenso, em região montanhosa?
Note-se que o problema com a frota velha e insegura de helicópteros era bem conhecido, como atesta a carta vazada, marcada como “altamente confidencial” dirigida ao primeiro vice-presidente do Irã, Mohammad Mokhber, em 2023, que destacava a necessidade de adquirir pelo menos dois helicópteros militares de fabricação russa para acompanhar as frequentes viagens regionais de Raisi.
2- Segundo consta em inúmeras publicações, o comboio era composto por três helicópteros. Apenas o helicóptero de Raisi encontrou dificuldades. Os outros dois chegaram com segurança à Tabriz.
Pergunta: Mau tempo, ou falha mecânica, foi a causa primária do acidente?
Geralmente, se o piloto não pode elevar a altitude do vôo para evitar o mau tempo e a neblina, ele retorna ou pousa. É difícil pousar em uma zona montanhosa sob intensa neblina, então o que impediu o piloto de retornar?
3- Os últimos dois anos da política doméstica iraniana estão marcados pela desqualificação em massa dos quadros reformistas, que viram seu círculo de poder praticamente colapsar. O ex-presidente Rouhani até publicou uma carta aberta reclamando sobre isso. Raisi era um clérigo conservador moderado, que estava entre os cotados suceder Kamenei como Líder Supremo. Assim, a sua morte não parece beneficiar diretamente os reformistas, pois é improvável que o regime mude em qualquer direção que não seja o endurecimento ou as desqualificações sejam revistas.
Adicionalmente, não está claro como os EUA e/ou Israel se beneficiariam da morte de Raisi. É verdade que ambos têm uma tradição longa de assassinatos de lideranças politicas, militares e cientistas iranianos. Raramente assumindo a autoria publicamente. Mas a conexão clara com objetivos táticos ou estratégicos declarados sempre permitiu não apenas identificar os autores de tais crimes, como seus prováveis motivos.
Pergunta: O que motivaria Israel e os EUA a eliminar diretamente Raisi?
A consequência mais direta da morte de Raisi é a realização de novas eleições para presidente dentro de 50 dias. Oportunidade perfeita para uma nova rodada de protestos e tentativas de revolução colorida. Devemos observar bem os próximos dois meses e os candidatos que se apresentarão e a reação dos reformistas às inevitáveis desqualificações. Se foi um atentado, testemunharemos uma convergência de interesses ocidentais e domésticos para inviabilizar a manutenção do status quo do Irã como uma das potências emergentes da arquitetura multipolar.
Franco em dizer, não vou tentar entender o que realmente aconteceu. Nos altos ciclos de poder não há verdade.
O próprio Pepe Escobar, naquilo que a maioria dos lucidos pareceu ser uma enorme barriga jornalistica, ao falar de missil nuclear israelense abatido pelos russos, com zero de evidencias (geopolitica virou dogma religioso), falou que nada daquilo seria reportado por quaisquer dos lados: nem Irã, nem Israel, nem Rússia.
Isso é um dead-lock!
Semelhante ao que José Hermano Saraiva disse em 2000, ao gravar um programa sobre os 500 anos do Brasil e as polêmicas sobre essa imensa mentira: “a história que vale é a que está escrita”. Mesmo que ela omita verdades. O mesmo JHS disse outra vez “a verdadeira história, está por ser escrita”. A junção das 2 frases me faz crer que a história é um soma de estórias e, isso não é uma conclusão primária, escapista, preguiçosa de quem não quer ler os livros. É uma triste contastação que quando as sociedades crescem, a verdade morre.
Quanto ao Irã, vejo com tristeza como forças religiosas comandam a mente dos iranianos. Um povo muito preso a religião é um povo atrasado.
Um perfil do VK com quem eu conversava, e se passava por iraniano e aparentava ser (embora me reserve no direito de possivelmente ter sido engando), reclamava da qualidade dos veiculos fabricados no Irã, no quesito segurança e ele não era um ocidentófilo. A pergunta que fica é porque eles não tentaram fabricar, eles mesmos, um helicoptero? Afinal já faz mais de 40 anos que o lambe botas Reza Pahlevi se foi.
Não vejo como sinal promissor um pais que aceita importar furadeiras, soldoras, brocas, carros e afins da China e não manifesta o interesse por fazê-las. Na pior das hipóteses, numa nação, os especialistas elegeriam um modelo dentre as centenas ‘chinesas’ e o dissecaria pra que todos interessados tivessem a chance de saber como aquilo funciona e como consertá-la.
Toda essa mudança multipolar que está acontecendo me parece apenas uma dança de cadeiras nas aristocracias, porque ao povo sempre é fornecida gratuita e fartamente as mentiras históricas e ilusoes, como as religiões.
OFFTOPIC DE ESPERANÇA: encontrei um forum em russo, onde existem muitos projetos de eletronica ainda ativos. Tudo fora do Whats, FB, Telegram, X, sem https, hospedado por eles mesmos e com projetos que desafiam a inteligência.