Hu Xijin- Global Times – 14 de abril de 2023
A visita do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva à Huawei, a empresa chinesa mais desprezada nos EUA, é amplamente vista como um sinal de distanciamento dos EUA e de seus esforços para manter a independência estratégica do Brasil. A Huawei não é apenas usada em todo o Brasil, mas também 27% das exportações brasileiras são destinadas ao mercado chinês, mais do que exporta para os EUA. Por que o Brasil deveria ouvir os EUA em questões relacionadas à China?
A retórica do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro em relação à China foi dura e conflituosa, com declarações sobre a Huawei e a pandemia que seguiu o exemplo dos EUA, quase como se ele quisesse estar em sintonia com eles. No entanto, durante sua presidência, o comércio China-Brasil quase dobrou; Huawei expandiu sua presença no Brasil; A China promoveu suas vacinas no Brasil; e soja, minerais e carne bovina brasileira venderam bem na China. Em relação aos resultados reais, Bolsonaro, que falava duro sobre a China, tornou-se um dos presidentes brasileiros mais pró-China.[Ênfase do tradutor]
A América do Sul, onde está localizado o Brasil, é considerada pelos EUA como seu “quintal”, mas a China desenvolveu relações mais fortes com ela, pois a verdadeira atratividade da China desempenhou um papel importante. O Brasil é o maior país da América do Sul em termos de área, população e PIB, e é também a nona maior economia do mundo. Nada pode impedi-lo de se aproximar da China. Agora que o Lula presidente esquerdista está de volta, ele deve fortalecer ainda mais as relações China-Brasil.
Vale ressaltar que o governo Lula não pode ser considerado “pró-China”, assim como nem o Brasil. Em fevereiro, Lula visitou os Estados Unidos em busca de uma política externa equilibrada entre China e Estados Unidos. Equilíbrio significa ser amigo e cooperar tanto com a China quanto com os EUA, e não tomar partido que prejudique os interesses do Brasil.[Ênfase do tradutor]
Portanto, a relação do Brasil com a China é realmente normal, com forte sustentabilidade. Mesmo que um dia um presidente de direita apareça e comece a fazer eco aos EUA nas críticas à China, os interesses nacionais do Brasil serão bastante convincentes, exigindo uma abordagem mais natural em suas relações com a China.
O caso do Brasil me lembra o da Alemanha hoje. Após a saída da ex-chanceler Angela Merkel, o novo governo tornou-se uma “mistura”. O atual chanceler alemão, Olaf Scholz, é do Partido Social Democrata e tem uma atitude relativamente racional em relação à China. Mas a chanceler alemã Annalena Baerbock é do Partido Verde e tem uma preferência ideológica mais forte.
Baerbock às vezes menciona Xinjiang e “direitos humanos”, às vezes Taiwan e às vezes “livrar-se da dependência da China”. Ela está visitando a China no momento e, de acordo com relatos da mídia ocidental, ela quer “esclarecer” a atitude da Alemanha e da UE em relação à China, porque Macron acaba de afirmar que Taiwan “não é nossa crise” e enfatizou a “autonomia estratégica” da Europa. que desencadeou um grande debate sobre as relações da China na Europa e no Ocidente.
Scholz declarou brevemente sua política para a China durante sua visita à China em novembro passado, afirmando: “Não queremos nos separar da China, mas não podemos ser excessivamente dependentes”. Baerbock ecoou sentimentos semelhantes em Bruxelas em 5 de abril: “Devemos arriscar em nossas relações com a China. Isso não significa nos separar da China, mas devemos reduzir as dependências unilaterais”, disse ela.
Para fazer a Alemanha “desacoplar” da China? Essa ideia é muito irreal. Por mais dura que seja Baerbock, ela primeiro teria que descartar esse objetivo. Quanto à redução da dependência unilateral da China, primeiro, a China não tem intenção de fazer a Alemanha e a UE “depender” de nós. A China também não quer depender de outros países. Portanto, precisamos importar petróleo de várias fontes e comprar soja dos EUA, Brasil, Argentina e Rússia.
Baerbock pediu o desenvolvimento de outros mercados asiáticos. A China não vai parar com isso porque envolve a liberdade das empresas alemãs. O problema é que o mercado da China é maior do que todos os outros países asiáticos. O Grupo Volkswagen vende 40 por cento de seus carros na China, enquanto para outros grandes fabricantes de automóveis alemães a faixa também é de 30 a 40 por cento. A ASEAN tem uma população pequena. A Índia tem uma grande população, mas os tuk-tuks ainda são bastante populares por lá. A Mercedes-Benz e a BMW da Alemanha não podem ser grandes vendedores nesses países. Além disso, outros países podem importar a maior variedade de mercadorias da China da maneira mais econômica. As importações massivas da Alemanha da China também são resultado das leis do mercado livre.
Uma vassoura nova limpa. Quando um novo governo toma posse, é o momento mais fácil para eles “falarem duro”. No entanto, a Alemanha não tem nenhum conflito geopolítico real com a China e é uma grande economia. A lógica de sua política em relação à China não ficará muito distante do Brasil e será semelhante à da vizinha França. Então, enquanto Macron escreveu: “Viva a amizade entre a França e a China!” em vários idiomas, e Lula veio para a China com um grupo enorme de empresários[Ênfase do tradutor], se a Baerbock quer destacar a diplomacia de valores [morais – nota do tradutor], acho que o povo chinês deveria entender e dar a ela o respeito necessário para que ela não fique em apuros. Ao mesmo tempo, temos que estar confiantes: não importa o que os atuais líderes alemães digam, a lógica geral da política do país para a China não mudará significativamente.
O autor é comentarista do Global Times.
Fonte: https://www.globaltimes.cn/page/202304/1289144.shtml
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