A verdade oculta por trás do Debate do Clima na COP25, Madrid.
4/12/2019, F. William Engdahl, New Eastern Outlook (publicado em 25/9/2019) Foto: NEO
“O capitalismo que envenena o planeta, que o põe diariamente em risco, apresenta-se como salvador do planeta; privatiza uma justíssima causa, para que assim lhe seja possível – ao capitalismo e aos capitalistas –, com grande ajuda do sistema mediático, afundar, num pântano de ingenuidades e vulnerabilidades, massas que sofrem de genuínas inquietações.”
(“Nasceu o neoliberalismo ‘climático’”, José Goulão, jornal Abril, Portugal, 4/10/2019)*
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Clima. E que figuras, afinal, viriam à cabeça, não é mesmo?! As megacorporações e megabilionários por trás da globalização da economia mundial ao longo das últimas décadas, cuja procura por valorizar patrimônio de acionistas e reduzir custos tanta desgraça provocou no meio ambiente seja no mundo industrializado seja nas economias subdesenvolvidas na África, Ásia, América Latina – eis os apoiadores que comandam o movimento ‘de base’, da Suécia à Alemanha, dos EUA e por toda parte.
Estaremos diante de surtos de dor de consciência, ou pode haver uma agenda mais profunda da financeirização até do ar que respiramos e ainda mais que o ar?
Independentemente do que as pessoas creiam quanto aos perigos do CO2 e riscos de aquecimento global que teriam levado à catástrofe global de um aumento médio de 1,5-2 graus Celsius na temperatura nos próximos, grosso modo, 12 anos – sempre será útil verificar quem está por trás da atual inundação de propaganda e de ativismo ‘pró Clima’.
Finança Verde
Vários anos antes de Al Gore e outros decidirem usar uma adolescente suíça como ‘o rosto no cartaz’ pró ações por intervenção urgente pelo pró-Clima, ou nos EUA o ‘projeto’ de Alexandria Ocasio-Cortez a favor de uma completa reorganização da economia em torno de um Novo Pacto Verde [ing. Green New Deal], os gigantes da finança começaram a cerebrar esquemas para direcionar centenas de bilhões de fundos futuros para investimentos em empresas na maioria das vezes de baixo valor, operantes ‘pró Clima’.
Em 2013, depois de anos de preparação cuidadosa, uma empresa sueca, Vasakronan, lançou no mercado de ações a primeira “Ação Verde”. O movimento foi seguido por outras empresas entre as quais Apple, SNCF e o grande Banco de Crédito Agrícola francês [fr. Credit Agricole]. Em novembro de 2013, a empresa Tesla Energy, marcada pelos muitos problemas de Elon Musk, lançou o primeiro seguro colateralizado pelos recebíveis de companhias de energia solar [ing. first asset-backed securities (ABS) collateralized by the receivables of solar energy companies].
Hoje, dando prosseguimento ao que se chama Iniciativa de Ações ‘pró Clima’ [ing. Climate Bonds Initiative], circulam hoje mais de $45 trilhões em ações gerenciadas globalmente e concebidas sob o compromisso nominal de que as respectivas empresas investem e investirão em “projetos ‘amigos do clima’” [ing. Climate friendly projects]
O príncipe “Bonnie” Charles, futuro monarca da Grã-Bretanha, bem como o Banco da Inglaterra e a finança da City londrina promoveram sempre vários “instrumentos financeiros verdes”, a começar pelas Ações Verdes, para redirecionar fundos de pensão e fundos mútuos também na direção de projetos verdes. Ator chave na ligação de instituições do mundo financeiro e a Agenda Verde é o conhecido presidente do Banco da Inglaterra Mark Carney. Em dezembro de 2015, a Diretoria de Estabilidade Financeira (DEF) do Banco de Compensações Internacionais [ing. Bank for International Settlements’ Financial Stability Board (FSB)], então dirigido por Carney, criou a Força-Tarefa de Consultoria sobre Informações Financeiras Relacionadas ao Clima [ing. Task Force on Clima-related Financial Disclosure (TCFD), para aconselhar “investidores, emprestadores e seguradoras sobre riscos relacionados ao Clima.” Sem dúvida foco muito estranho para banqueiros de bancos centrais em todo o mundo.
Em 2016, a Força-Tarefa TCFD e a City of London Corporation e o governo do Reino Unido deram início à Iniciativa Finança Verde, visando a canalizar trilhões de dólares para investimentos “verdes”. Os banqueiros centrais da DEF nomearam 31 pessoas para constituir a força-tarefa TCFD. Presidida pelo bilionário Michael Bloomberg do ramo financeiro, inclui figuras-chaves do JP MorganChase; de BlackRock, uma das maiores empresas de gestão de patrimônio do mundo, com quase $7 trilhões; do Banco Barclays; do HSBC, do banco Londres-Hong Kong várias vezes multado por lavagem de dinheiro da droga e de outros fundos sujos; do Swiss Re, o segundo maior banco de resseguro do mundo; do banco chinês ICBC; de Aço Tata; da ENI, petroleira; de Dow Chemical; da gigante mineira BHP Billington; e David Blood, de Generation Investment LLC, de Al Gore. Na verdade, parece que as raposas estão escrevendo as regras do Galinheiro Verde.
Carney, do Banco da Inglaterra, também foi ator chave nos esforços para tornar a City de Londres o centro financeiro da Finança Verde Global. O conhecido Chanceler e Subsecretário do Tesouro de Sua Majestade do Reino Unido [ing. UK Chancellor of the Exchequer], Philip Hammond, distribuiu, em julho de 2019, um documento intitulado “Estratégia da Finança Verde: Transformar a Finança, para um Futuro mais Verde” [ing. Green Finance Strategy: Transforming Finance for a Greener Future].
Nesse documento lê-se que “Uma das mais influentes iniciativas que surge é a Força-Tarefa (…), TCFD, do setor privado, apoiada por Mark Carney e presidida por Michael Bloomberg. Essa unidade foi aprovada por instituições que representam, globalmente, $118 trilhões em ativos.” Aqui parece haver um plano. O plano é financeirizar toda a economia mundial, servindo-se, como chicote, do medo de um cenário de fim de mundo para alcançar objetivos arbitrários como “zero emissões de gases de efeito-estufa”.
Goldman Sachs, ator-chave
Goldman Sachs, onipresente banco de Wall Street, que produziu, dentre outros, o atual presidente do Banco Central Europeu Mario Draghi e Carney, presidente do Banco da Inglaterra, acaba de tornar público o primeiro ranking global dos principais papéis ‘ambientais’, construído em associação com o CDP, Carbon Disclosure Project com sede em Londres. OCDP é financiado por investidores como HSBC, JPMorgan Chase, Bank of America, Merrill Lynch, Goldman Sachs, American International Group e State Street Corp.
O novo índice, chamado CDP Environment EW e CDP Eurozone EW, visa a atrair fundos de investimento, sistemas de pensões de funcionários públicos, como o CalPERS (Sistema de Aposentadoria e Pensões dos Funcionários Públicos da Califórnia [ing. California Public Employees’ Retirement System) e o CalSTRS (Sistema de Aposentadorias e Pensões dos Professores de Escolas Públicas da Califórnia [ing. California State Teachers’ Retirement System) com patrimônios, somados, de mais de $600 bilhões, para investir em seus alvos muito cuidadosamente selecionados. Empresas top no grupo são, por exemplo, Alphabet – proprietária de Google, Microsoft, ING Group, Diageo, Philips, Danone e, convenientemente, deGoldman Sachs.
Entram Greta, Alexandria Ocasio-Cortez (AOC) & Co.
Nesse ponto, os eventos tomam rumo cínico e somos confrontados com ativistas pró-Clima furiosamente populares e pesadamente promovidos como a sueca Greta Thunberg ou a novaiorquina de 29 anos Alexandria Ocasio-Cortez (AOC) e o novo New Deal Verde. Por mais sinceros que esses ativistas sejam ou possam ser, há uma bem azeitada máquina financeira para promovê-las e que só visam ao lucro.
Greta Thunberg é parte de uma bem conectada rede associada à organização de Al Gore; está sendo ‘marketada’ por profissionais, e é muito cinicamente usada por agências como ONU, Comissão Europeia e os interesses financeiros por trás da atual agenda ‘do Clima’.
Como a pesquisadora canadense e ativista pró-‘Clima’ Cory Morningstar documenta numa excelente série de postados, o que está em ação é uma bem tecida rede de trabalho ligada ao investidor ‘climático’, norte-americano e imensamente rico, Al Gore, presidente do grupo Generation Investment.
O sócio de Gore, ex-funcionário de Goldman Sachs, David Blood, como já anotado acima, é membro da Força-tarefa TCFD criada pelo Banco de Compensações Internacionais [ing. BIS]. Greta Thunberg e sua amiga de 17 anos, também ativista norte-americana pró-clima, de 17 anos, Jamie Margolin, ambas listadas como “conselheiras especiais para a juventude e associadas” à ONG sueca “Não Temos Tempo” [ing. We Don’t Have Time] fundada pelo atual presidente executivo Ingmar Rentzhog.
Rentzhog é membro da Organização Líderes para a Realidade Climática [ing. Clima Reality Organization Leaders] de Al Gore; e participa também da Força-tarefa Europeia para a Política para o Clima [ing. European Clima Policy Task Force]. Foi treinado por Al Gore em Denver em março de 2017 e novamente, em Berlim, em junho de 2018. O Projeto Realidade Climática [ing. Clima Reality Project] de Al Gore é sócio da ONG We Don’t Have Time.
A Congressista Alexandria Ocasio-Cortez (AOC), que causou muita agitação em seus primeiros dias no Congresso dos EUA, ao expor um “New Deal Verde” [ing. Green New Deal] para reorganizar completamente a economia dos EUA, ao custo de talvez $100 trilhões, tampouco dispensou orientação altamente qualificada. AOC admitiu publicamente que concorreu ao Congresso por sugestão de um grupo chamado “Juízes Democratas” [ing. Justice Democrats]. AOC disse a um entrevistador que “Eu não concorreria, não fosse o apoio que recebi de Justice Democrats e de Brand New Congress. Umm, na verdade, sim, foram os JD e o pessoal de BNC, que, ambos os grupos, pediram-me, em primeiro lugar, que me candidatasse. Foram eles que me chamaram há um ano e meio…”
Atualmente, já como congressista, lista-se entre os conselheiros de AOC Zack Exley, cofundador dos Juízes Democratas. Exley foi membro [ing. Fellow] da Open Society, e obteve fundos, dentre outros, da Fundação Society e da Fundação Ford, para criar uma organização que precedeu a dos Juízes Democratas, cujo objetivo era recrutar candidatos selecionados para cargos eletivos.
A agenda real é econômica
Os elos entre os maiores grupos financeiros do mundo, bancos centrais e corporações globais no movimento em curso para promover uma estratégia ‘climática’ radical que implique abandonar a economia do combustível fóssil, a favor de uma vaga e jamais explicada ‘economia verde’, parece, têm bem pouco a ver com genuína preocupação com o projeto de fazer do nosso planeta um ambiente limpo e saudável para vivermos. De fato, é agenda intimamente ligada à Agenda 2030 da ONU para economia “sustentável”, e à alocação de, literalmente, trilhões de dólares em dinheiro novo para os bancos globais e gigantes financeiras que são, esses sim, o verdadeiro poder.
Em fevereiro de 2019, depois de ouvir o discurso de Greta Thunberg diante da Comissão Europeia em Bruxelas, o então presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, depois de galantemente beijar a mão de Greta, pareceu realmente convencido a agir. Disse a Greta e à ‘mídia’ que a União Europeia gastaria centenas de bilhões de euros para combater as mudanças climáticas nos 10 anos seguintes. Juncker propôs que, entre 2021 e 2027, “um de cada quatro dólares gastos no orçamento da União Europeia seja direcionado para ações que visem a mitigar a ‘mudança climática’.” O que o astuto Juncker não disse é que a decisão nada teve a ver com o pedido da jovem ativista sueca. A decisão já estava tomada há um ano, em conjunto com o Banco Mundial, desde o dia 26/9/2018, na Cúpula One Planet, acertada com o Banco Mundial, as Fundações Bloomberg e Ford, o Fórum Econômico Mundial e outros. Juncker espertamente aproveitou a atenção que a mídia estava dando a jovem sueca, para promover sua própria agenda ‘climática’.
Dia 17/10/2018, dias depois do acordo da União Europeia na Cúpula One Planet, a União Europeia de Juncker assinou um Memorando de Entendimento com o Instituto Breakthrough Energy-Europe, pelo qual corporações-membros do Instituto terão acesso preferencial a todos os projetos de financiamento.
Entre os membros de Breakthrough Energy estão Richard Branson, de Virgin Air; Bill Gates; Jack Ma, de Alibaba; Mark Zuckerberg de Facebook; príncipe Al-waleed bin Talal; Ray Dalio de Bridgewater Associates; Julian Robertson de Tiger Management, fundo gigante de hedge; David Rubenstein, fundador do Carlyle Group; George Soros, presidente de Soros Fund Management LLC; e Masayoshi Son, fundador do Softbank, Japão.
Que ninguém se engane. Quando as mais influentes corporações multinacionais do mundo, os maiores investidores institucionais do mundo, incluindo BlackRock e Goldman Sachs, a ONU, o Banco Mundial, o Banco da Inglaterra e outros bancos centrais do Sistema de Compensações Internacionais alinham-se para financiar uma agenda dita ‘verde’, seja Agenda Verde ou New Deal Verde ou seja o que for, é preciso examinar por baixo da fachada, nesse caso, por baixo da fachada das campanhas ‘climáticas’. O quadro que emerge é de um esforço para promover a reorganização financeira da economia do mundo usando o ‘clima’ – algo que o sol e a energia solar podem modelar para o bem ou para o mal, em proporção mais decisiva do que a humanidade jamais alcançará – para tentar convencer o povo iletrado ou mal letrado a fazer sacrifícios inenarráveis para “salvar nosso planeta”.
Já em 2010, o presidente do Grupo de Trabalho 3 do Painel Intergovernamental da ONU para Mudança Climática, Dr. Otmar Edenhofer, disse a um entrevistador que “é preciso dizer claramente que redistribuímos de fato a economia mundial, para a política ‘climática’. É preciso que todos nos libertemos da ilusão de que políticas internacionais ditas ‘climáticas’ teriam algo a ver com política ambiental. Hoje, já praticamente elas nada têm a ver com desflorestamento ou com o buraco [na camada] de ozônio.” A partir daí, essa estratégia de política econômica desenvolveu-se mais rapidamente.*******
* Epígrafe acrescentada pelos tradutores.
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