(Para todos, com a minha mais profunda gratidão)
Novembro 13, 2014
Prefácio
Estive a pensar, durante vários meses, como devia escrever esta postagem. Mas, francamente, num mundo onde tudo o que vem do coração é mal interpretado, como se fosse uma atitude controlada, estava com medo de fazê-lo. Além do mais, escrever este tipo de assuntos não é o que os blogueiros fazem e muito menos os que tentam criar um blog semi credível. No entanto, sempre que recebia um email carinhoso, uma carta ou mesmo um presente, sentia que tinha de escrevê-lo. Deus sabe que, como de costume, estou a expôr-me a muitas mais deturpações, mas penso que vale bem a pena. O meu pai espiritual costumava dizer: “Uma alma é mais preciosa, do que todo o Universo”.
Então dedico a minha postagem a essa alma única.
Introdução
A minha vida tem sido repleta de altos e baixos. Logo no início, depois de uma infância bastante desagradável, subiu muito rapidamente. Depois veio a “queda a partir da (pseudo) graça” e perdi a minha carreira. Ainda é muito cedo para entrar em todos os pormenores, mas digamos, apenas, que costumava estar associado a uma “instituição de três letras” cuja existência não era conhecida pelo público em geral e que, desde então, se tem dispersado. Na minha área, cheguei bem cedo ao famoso ‘topo’, mas a guerra da Bósnia começou, de imediato, a abrir-me os olhos para muitos factos que nunca tinha suspeitado antes. Então descobri dois factos que me colocaram na lista negra do meu país, tido como democrático: descobri que um grupo de pessoas havia sido assassinado inutilmente, como resultado de uma investigação criminal incompetente dos seus superiores e constatei que um indivíduo tinha sido sentenciado a uma longa pena de prisão, enquanto os seus superiores tinham conseguido afastar-se de um crime que todos tinham cometido. E embora nunca tivesse vindo a público, nem mesmo falasse aos meus amigos mais próximos sobre esse assunto (para protegê-los), fui colocado na lista negra e fui novamente impedido de trabalhar.
Naqueles dias sombrios, a minha encantadora esposa, estava sempre a tentar dizer-me que a culpa não era minha, que eu nunca tinha feito nada de errado, que estava a pagar o preço de ser uma pessoa íntegra e que tinha provado muitas vezes como era bom na minha área. Costumava sempre responder-lhe amargament,e que me sentia como um “submarino num deserto”: talvez muito bom em “algo, em qualquer outro lugar”, mas que me sentia inútil no meu ambiente actual (costumava sempre visualizar um submarino nuclear Akula encalhado bem no meio do deserto do Sahara – que é imagem do que eu seria! Desejo que alguém use um programa da Photoshop – para criar essa imagem). O que descobri desde então, é que o nosso planeta está coberto com vários desertos e que há muitos e muitos submarinos nesses mesmos desertos, todos ansiando pela vastidão de um oceano.
Origens modestas, no início
Vim para os EUA em 2002, apenas com um desejo: deixar o meu passado do outro lado do oceano e desaparecer, para me tornar num “Zé Ninguém” anónimo, que seria deixado sozinho. Mais do que qualquer outra coisa, precisava de tempo para me recuperar, para lamber as minhas feridas e para passar tempo com as únicas pessoas que tinham ficado comigo, sem duvidar um segundo de mim: a minha esposa e os meus filhos.
Os franceses têm um excelente ditado: “Chassez le naturel et il revient au galop”, que pode ser grosseiramente traduzido como “É impossível desembaraçar-se totalmente das suas tendências naturais ou tentar dissimulá-las,” Foi o que me aconteceu. Se bem que, em 2002, tenha prometido a mim mesmo nunca mais analisar algo mais complicado do que um livro de ficção, de repente, em 2007, decidi começar um blog. Este blog. Qual foi o meu objectivo? Foi mesmo muito primitivo: escrever tudo o que quisesse. Tinha passado tantos anos a escrever para “gente graúda” que tinha limitações muito estreitas sobre o que estava disposto a ler, que decidi ceder à alegria de escrever o que quisesse, sem nenhuma preocupação ou respeito pela opinião de ninguém. Tinha comichão e decidi coçá-la.
Ainda podem analisar os arquivos de 2007 ou 2008 e irão ver que, realmente, não fazia nenhum esforço para chegar a quem quer que fosse, para fazer a diferença ou para tornar-me popular. Um contacto fugaz e malfadado com Antiwar.com (que acabou em desastre),proporcionou-me mais alguns leitores, mas colectivamente, os meus leitores ainda eram muito poucos.
A minha escolha de tópicos não ajudou. Alguns anos antes, tinha “saltado” literalmente para o tema do Hezbollah e tinha escolhido o objecto da minha curiosidade e passei uma década a estudar este movimento e o seu incrível líder. Em 2007, eu era um seguidor impenitente do Hezbollah e um fã de Nasrallah e a maior parte do blog dizia respeito ao Médio Oriente. O outro tema era a Rússia, simplesmente porque era o país de origem da minha família e que eu tinha analisado profissionalmente durante muitos anos. Quanto à Ucrânia, penso que nunca a mencionei. Embora sentisse repulsa pela ignorância e pelo ódio dos nacionalistas ucrânianos, não me preocupava com a Ucrânia: “Deixem-nos de molho no seu pequeno estado ‘independente,’ patético e nitidamente a afundar-se, se é o que eles querem” – era a minha filosofia nessa época. “Tenho coisas mais inspiradoras para onde olhar.” Claro, que deitei um olho aos eventos que aconteciam lá, mas para mim, essa situação fazia-me lembrar a Rússia em 1993 – estava repugnado com todos os actores e com toda a situação. Além disso, o que poderia acontecer lá que seria digno de interesse?
E claro, a vida provou-me que estava errado (-: mais uma vez 🙂
As Grandes Guerras de 2013
Primeiro, houve a guerra da Síria e o papel da Rússia para travar o Tio Sam. Oh sim, houve esforços políticos dos diplomatas russos e eles foram suficientemente “maus”. Mas menos notado foi o facto de que a Rússia enviou uma força naval reunida à pressa, mas eficiente, para a costa síria. Não era uma força militar sobejamente grande para lutar contra a Marinha dos EUA, mas era um destacamento capaz de fornecer uma visão completa aos militares sírios, dos céus por cima e para além da Síria. Por outras palavras, pela primeira vez os EUA não poderiam lançar um ataque surpresa sobre a Síria, nem com mísseis de cruzeiro, nem com o poderio aéreo. Pior ainda, a Rússia, o Irão e o Hezbollah iniciaram um programa secreto e evidente de assistência material e técnica à Síria, que acabou por derrotar a rebelião Wahabi. Os Anglo-Sionistas estavam absolutamente *lívidos*. Então, para dar uma boa lição a Putin e aos malditos Russkies, eles explodiram a Ucrânia e, mais uma vez, Putin fez duas coisas que eles nunca esperaram e que nunca poderiam perdoar; enviou forças armadas para a Crimeia, mas não fez o mesmo para Novorussia: aí, ele ajudou secretamente. Não havia dúvida possível: a Rússia tinha cometido o “Crime dos Crimes” ao desafiar abertamente a vontade dos senhores TodoPoderosos do planeta. A resposta do Império foi previsível: “guerra” completa a todos os níveis, contra a Rússia e contra Putin, embora não seja declaradamente uma guerra militar (ainda).
Para mim e para o meu blog, a consequência desta crise enorme foi a seguinte : o número de leitores explodiu literalmente e, por sugestão de outros (nem sequer foi ideia minha), de repente, começaram a surgir mais blogs Saker. O blog de um só homem, anónimo e desconhecido, transformou-se numa comunidade global, em menos de um ano.
[Barra lateral: muitas vezes pareço um aproveitador da guerra. Quanto pior a situação na Ucrânia, mais leitores tenho, se a mesma está mais calma, há menos procura. Num dia muito tranquilo tenho cerca de 20.000 visitas, num dia pior, cerca de 69.000. Faço uma estimativa diária dos meus leitores mais ou menos regulares, em cerca de 30.000]
Estou a mencioná-lo para explicar-vos que, na verdade, nunca foi planeado por mim. Não só não foi planeado, como também me apanhou de surpresa. De facto, estava tão surpreendido que, honestamente, não conseguia perceber o sentido. Pensem nisso.
Eis o blog de um homem só, escrito por um fulano anónimo com um pseudónimo maluco, que se envolve repetidamente em todos os tipos de crimethink. (como no dia em que escrevi – para um público principalmente árabe – pois acreditava que o Hamas devia libertar incondicionalmente Gilad Shalit, LOL!) que não é da esquerda, nem da direita, cuja escrita está cheia de erros de digitação e frases francamente, muito mal escritas e ainda assim este blog sobe, de repente, como um foguete. E podeis dizer pelo meu estilo de escrita, que nem sequer me levo muito a sério. Mas então o que raio é que aconteceu ?
*Crime Think = o ato criminoso de manter crenças tácitas ou dúvidas que se opõem ou questionam o partido no poder.
Claro que sou um analista aceitável, sei russo e mais algumas línguas, estudei a Rússia durante toda a minha vida e o Médio Oriente, bem, àcerca de um pouco mais de uma década. Isso não é mau, mas dificilmente é uma razão plausível para tal sucesso.
Então compreendi:
Não tinha nada a ver comigo, mas tinha tudo a ver convosco.
Juntamente com a chegada de mais visitantes diários, comecei a receber cada vez mais emails e cartas. E presentes. Frequentemente muito tocantes. Basta olhar para o desenho completamente encantador de um Falcão Sacre que chegou ontem (Agradeço IMENSO “S.T.”! Vou colocá-lo numa moldura e pendurá-lo na parede).
Pessoas que nunca me tinham conhecido e que realmente não sabiam nada sobre mim, estavam, positivamente, a inundar-me de carinho. A maioria dos emails e das cartas consistia em questões políticas, mas uma grande minoria estava a exprimir sentimentos muito mais profundos, como gratidão e um desejo de apoiar-me moralmente. Realmente, fiquei surpreendido. Então os meus leitores começaram a sugerir que devia colocar um botão de doações no blog. Muitos podem não acreditar em mim, mas essa ideia nunca me tinha passado pela cabeça. Finalmente, coloquei (Deus sabe quanto precisava de dinheiro) e para minha surpresa, as pessoas começaram a doar. Por quê? Por que é que alguém, no nosso mundo cínico, cheio de bandidos, doava um pouco do seu dinheiro, tão suado e sempre escasso, a um fulano que nunca conheceu? Seria porque eu postava só assuntos sobre a Síria ou a sobre a Ucrânia? Ou as minhas ‘oh-tão-boas’ análises? Penso que era díficil ser apenas por esse motivo.
E depois também chegou a raiva. Muitas e muitas cartas, literalmente, a transmitir raiva. Raiva contra o governo, contra a comunicação social mediática, contra o Império, contra as mentiras e contra a desonestidade. Raiva, por terem sido enganados. Raiva, pela humilhação de serem tratados como criados ou escravos. Raiva, pela nossa sociedade disfuncional e auto-destrutiva. Nunca antes tinha tido a idéia de como tantas pessoas estavam tão alucinadas.
A maioria das cartas angustiantes eram, muitas vezes, de militares dos Estados Unidos. Começavam frequentemente a dizer: “Considero-me um patriota e amo o meu país, que servi durante muitos anos como militar, mas ….” E, inevitavelmente, transformava-se na admissão dolorosa de que este país era liderado por criminosos, estava ocupado por parasitas, que era propriedade de um 1% dos SOB (sons of a bitch = filhos da mãe…) que todos desprezavam. E vocês simplesmente não acreditariam no tipo de coisas que esses correspondentes, incluindo os ex-militares, escreviam sobre Putin. Foi espantoso – E digo habitualmente, por brincadeira, que se ele tivesse a oportunidade de se candidatar, Putin seria eleito Presidente dos Estados Unidos da América.
[Sidebar: A propósito, não vou postar aqui essas cartas. Nem mesmo excertos delas. Em primeiro lugar, quero manter a confiança dos que me escreveram. Em segundo lugar, algumas dessas cartas são tão surpreendentes e comoventes que seria, inevitavelmente, acusado de as ter redigido. Por esse motivo, recuso-me simplesmente a apresentar qualquer “prova” das minhas declarações. Se acreditam ou não, em mim – isso não me importa. E se você não acredita – então penso que não é a alma a quem dedico esta postagem]
Então lá estava eu a tentar descobrir a razão de tal efusão de carinho para com uma pessoa que lhes é totalmente estranha (e é uma pessoa anónima) e uma tal efusão de raiva contra a sociedade em que vivemos. Em seguida, penso que percebi.Os desertos estão cheios de submarinos (mas eles estão a tornar-se livres!)
É isso mesmo. Acreditava, erradamente, que era o único a sentir-me como um submarino num deserto, mas na realidade os desertos da nossa sociedade estavam cheios de pessoas que se sentiam completamente alienadas. Várias vezes, no passado, postei a bela canção de David Rovics “Estamos em todos os lugares”, porque com o passar dos meses, comecei a perceber que ele estava completamente certo – que, na verdade, estamos em todos os lugares.
Aquilo que a sociedade me tinha feito – tinha-me tornado completamente impotente – também o tinha feito a vós. E tal como me fez sentir como sendo um louco solitário, também vos fez sentir que o eram. Acredito sinceramente que a verdadeira razão deste blog ter sido bem sucedido, a comunidade global que criou, as discussões vibrantes e a surpreendente manifestação da carinho comigo, deve-se ao simples facto, mencionado a seguir: Inadvertidamente, tornei possível que muitos milhares de indivíduos percebessem que não estavam sozinhos, que não são loucos e não estão errados, mas que “estamos, absolutamente, em todos os lugares”!
A segunda coisa que fiz e digo, de novo, bastante irreflectidamente, foi motivar os que se sentiam impotentes para fazer algo, a mudar e a ter realmente impacto.
As nossas sociedades são projectados para nos fazerem sentir como presos detidos nas cadeias, servos ou escravos. Sabemos todos que a votação é uma piada inútil, que os nossos governantes não dão um tostão furado por nós, que a dissidência política é encarada com desaprovação quando é real, que as revoltas são esmagadas com violência, que o pluralismo é ferozmente reprimido pela ideologia dominante, que as escolas lavam o cérebro e estupidificam os nossos filhos e que os voltam contra nós, que os aparelhos de lavagem cerebral que temos em casa, como o Idiota-Tube, o rádio ou os jornais existem para fazer apenas três coisas: entreter-nos, caçar o nosso dinheiro e zombificar-nos. Sabemo-lo, mas sentimo-nos impotentes para fazer algo a respeito disso.
Ao pedir para me auxiliarem no meu trabalho no blog e, especialmente, ao permitir o que designo como a “auto organização espontânea” (algo que tinha aprendido directamente sobre a maneira como funciona a comunidade Debian), tinha dado aos que partilham os meus objectivos, um meio imediatamente disponível para poderem entrar em acção. E tenho de dizer que o resultado excedeu muito as minhas expectativas por ordem de grandeza (e fez-me perceber que alguns “amadores” são, pelo menos, tão bons, ou melhores, do que os “profissionais”). Tratem as pessoas com respeito, dêem-lhes uma oportunidade e elas farão milagres!
[Sidebar: estiverem interessado em saber como projectos grandes e complexos podem auto organizar-se, por favor leiam – online – capítulo 2.4 de “A Comunidade Debian” pp 46-57 neste livro. Claro, não tentei copiar deliberadamente o modelo Debian, mas apliquei o princípio “Faça você mesmo” e deixei que cada Blog Saker se auto organizasse, de forma completamente independente. Também vejo o meu papel na comunidade Saker como sendo o de um “ditadorbenevolente”, outro fenómeno do software livre, embora, até agora, só tivesse de agir uma vez, nessa qualidade].
Graças a ter tropeçado impensadamente num potencial fantástico e ainda inexplorado de tantas pessoas boas, a nossa comunidade começou a crescer de forma quase espontânea (vários líderes da equipa dos blogs Saker também me informarem o mesmo espanto que eu estava a sentir).
De repente, muitos “submarinos” tinham encontrados os seus oceanos para mostrarem aquilo que realmente eram capazes de fazer!
Conhecem a experiência da experiência de Asch? [Em caso negativo, dêm uma rápida olhada aqui antes de continuar a ler]. Bem, penso que a minha personalidade desafiadora e em oposição, deixou de funcionar inadvertidamente,pelo menos, parte da gigantesca experiência de conformidade Asch em que a nossa sociedade se tornou. Estava a chamá-la porque estava a vê-la e para o inferno com as consequências (de qualquer maneira, tinha tão poucos leitores…). Então, em 2010, decidi dar realmente um bom pontapé no castelo de areia das nossas ilusões e publiquei um artigo intitulado “Por que motivo não estou a ouvir o estrondo interminável de queixos a cair no chão?”. Nessa postagem, repetia basicamente algo que alguém poderia verificar e que era inegável: o NIST, por estar implicado directamente, admitiu que WTC7 tinha sido derrubado por demolição controlada. Além disso e ao contrário da crença popular, o NIST simplesmente, não tinha nenhuma explicação para a maneira como os edifícios WTC1 e WTC2 tinham caído. E, no entanto, este facto surpreendente foi completamente obscurecido pela experiência colectiva de Asch que nos está a ser imposta. Mas a realidade é que a questão do 11 de Setembro, é apenas a ponta do iceberg. Toda a nossa sociedade é uma experiência de Asch, grande, longa e interminável e a maioria de nós, pelo menos a certo nível, sabe-o. Todos sentimos o que a série Matrix designa como a sensação de um “espinho na nossa mente”.
Suponho que, para tipos como eu (que não respeitam dogmas, nem normas sociais, sempre em oposição e a desafiar a autoridade, rebeldes e agressivos por natureza, profundamente contrários a um nível quase instintivo e de aspecto libertário) o resultado da tensão que sinto e do que me disseram para sentir, resulta numa longa batalha contra a ordem estabelecida e contra a ideologia dominante (não admira que duas das minhas músicas favoritas de David Rovics sejam “Burn it down” e “We will shut them down”). Mas quando um ‘mau da fita’ como eu, decide arrancar o espinho da mente – outros decidiram também dar a si mesmos essa oportunidade e foi assim que tudo começou.
A minha gratidão para todos vós
E aqui está o que eu queria dizer através de tudo que foi mencionado acima: Sei que, pessoalmente, não mereço tanto carinho e gratidão. Na realidade, o próprio facto de me terem mostrado tanto carinho também mostra que, efectivamente, são merecedores de gratidão e louvor. Eu sou apenas o ‘sortudo’ – vocês são os bondosos e os generosos. E, por favor, acreditem, não tem nada a ver comigo a envolver-me nalgum tipo de falsa modéstia – Acredito realmente, que esta é a conclusão a que cheguei, a partir das vossas cartas e dos vossos emails.
Em conclusão, quero partilhar uma música especial com todos os que “derramaram a sua alma para mim” (expressão russa). É da autoria do bardo russo, Vladimir Vyssotskii e chama-se “Canção da Terra”:
Eis a letra (traduzida por George Tokarev)
Is the earth, as they say, burnt and dried?
A Terra está, como dizem, queimada e seca?
Will a seed, as they say, never sprout?
Será que as sementes, como dizem, nunca germinarão?
Has the earth, as they say, really died?
Será que a Terra, como dizem, morreu realmente?
No! It’s taken a lengthy time-out!
Não!Teve uma espera longa!
Mother Earth will forever give birth,
A Mãe Terra, irá sempre dar à luz,
Its maternity isn’t a fiction!
A sua maternidade não é ficção!
Don’t believe that they burnt down the earth,
Não acreditem que eles vão queimar a Terra,
No! It’s blackened from grief and affliction.
Não! Ela está escurecida pela dor e pela aflição.
Trenches, running like scars back and forth…
As trincheiras, vão e voltam como cicatrizes…
Bleeding guts black shell-craters expose…
As crateras das explosões expôem entranhas a sangrar…
They are open nerves of the earth,
São os nervos abertos e visíveis da Terra,
Which unearthly unhappiness knows.
Que conhecem a infelicidade sobrenatural.
It will stand wars and grief – anything!
Ela vai suportar as guerras e o sofrimento – qualquer coisa!
It’s not crippled, though booted and looted…
Não está aleijada, embora tenha sido espancada e saqueada …
Don’t believe that the earth doesn’t sing,
Não acreditem que a Terra não canta,
That it’s quieted down, diluted!
Que está acalmada e diluída!
No, it’s singing as loud as it can
Não, ela está a cantar tão alto quanto pode
From a trench, from a wound, from a hole!
A partir de uma trincheira, de uma ferida, a partir de um buraco!
Since the earth is the soul of Man,
Pois a Terra é a alma da Humanidade,
Boots cannot trample down the soul!
As botas não podem espezinhar a alma!
Esta última frase, “As botas não podem espezinhar a alma!“, creio que refere não só às botas físicas, embora também tenha esse significado, mas sobretudo às botas psicológicas, ideológicas e sociais, que não são menos reais do que os objectos físicos e que se esforçam por condicionar as nossas almas.
Lembram-se da última frase do livro “1984”, de Orwell? “Ele amava o Big Brother”. Odiei sempre essa frase. Sim, tendo em mente o propósito do livro, este era o final correcto, pois era um aviso. Mas pensei sempre “Maldição, não, eu odiarei sempre o Big Brother”, “As botas não podem espezinhar as almas”.
O que todos vós, meus amigos, me provaram, é que há muitos que não vão gostar do Big Brother e que o Big Brother não espezinha as nossas almas. Há 20 anos, costumava sentir-me o homem mais solitário do planeta. Agora, companheiros humanos livres, graças a vós, sinto que estamos em todos os lugares e que tenho um amigo em cada canto do planeta.
E por esse motivo, vocês têm a minha eterna e mais sincera gratidão,
The Saker
PS: Nota para os que odeiam o Saker: Estou plenamente consciente de como é fácil distorcer e “reformular por outras palavras,” o que escrevi acima e a quantas conclusões, horrorosas e desagradáveis, vocês podem chegar. No mínimo, vão chamar-me hipócrita ou delirante. Óptimo. Vocês demonstraram-me muitas vezes, que é o preço a pagar pela honestidade. Não tentei fazer um texto à prova da calúnia e se quiserem usá-lo para me lixarem ainda mais – excelente! Quero apenas que saibam que o aceito e que eu não o temo nem um pouquinho. 😛
Addendum de The Saker em Dezembro de 2015:
Considero, de facto, que o texto “Submarino no deserto”, referido acima, diz tudo que é relevante sobre mim. Também acredito que podem avaliar uma árvore pelos seus frutos – deste modo, realmente é pelo meu blog que as pessoas me devem julgar. No entanto, uma vez que há outros que, de facto, querem saber um pouco mais sobre o meu passado, posso acrescentar o seguinte:
Nasci em Zurique, na Suíça, de pai holandês e mãe russa. O meu pai deixou-nos quando eu tinha 5 anos, então a minha mãe e a minha família russa criaram-me e, por isso, é que uso o nome de família da minha mãe. Vivi a maior parte da minha vida em Genebra, na Suíça. Em 1984, fiz o serviço militar, especializado em guerra eletrónica e, mais tarde, fui transferido para o departamento dos serviços secretos militares (UNA) como especialista de línguas, onde trabalhei na Força Aérea suíça.
Depois viajei para os EUA, onde obtive um Bacharelato em Relações Internacionais, da School of International Service (SIS), na American University e um Mestrado em Estudos Estratégicos da Escola Paul H. Nitze de Estudos Internacionais Avançados (SAIS), da Universidade John Hopkins. Após o meu regresso à Suíça, trabalhei como consultor civil para o Serviço de Informações Estratégicas suíço (SND), elaborando análises estratégicas, principalmente sobre os militares da Rússia Soviética. Nas Forças Armadas, foi-me concedida a classificação de “Director Técnico”, equivalente à patente de Major, que é uma maneira elegante de dizer que era um analista. Também trabalhei como especialista em “operações inimigas” (na “Team Red= Equipa Vermelha” na gíria dos EUA) para a formação de nível operacional do Estado Maior General das Forças Armadas suíças.
Depois aceitei um cargo no Instituto das Nações Unidas para Investigação sobre Desarmamento (UNIDIR), onde me especializei em tácticas de operações de manutenção da paz. Essa experiência deu-me a oportunidade de ser co-autor de um livro com o Major-General I. N. Vorob’ev, da equipa da Academia Geral Russa, sobre operações de manutenção da paz. O meu último trabalho na UNIDIR foi àcerca de operações psicológicas e de serviços secretos na manutenção da paz, que pode ser descarregado aqui. Ao mesmo tempo, também escrevi uma avaliação do desempenho das Forças Armadas russas durante a primeira guerra chechena, para o Jornal de Estudos Militares Eslavos que alguém, desde então, descarregou aqui.
Realmente as guerras da Bósnia e da Chechénia abriram-me os olhos para a verdadeira natureza do Império. Pois, porque pensava que estava a viver numa democracia, exprimi a minha opinião sobre estes temas e, em breve, acabei por ser visto com desconfiança pelos meus antigos patrões. Deixei as Nações Unidas e aceitie um cargo na Comissão Internacional da Cruz Vermelha (CICV), o que foi, provavelmente, o pior erro da minha vida e que nunca irei discutir publicamente. Quando saí desse cargo, estava basicamente na lista negra sendo referido como um “elemento perigoso” (que significa “desleal”) pelos meus ex patrões (os meus contactos regulares com diplomatas russos e os meus esforços na prestação de ajuda aos sérvios da Bósnia, provavelmente, não foram de ajuda).
Completamente desgostoso com essa situação, abandonei a minha carreira de especialista militar e actualizei-me em engenharia de software. Quando o 11 de Setembro esmagou o sector de Informática, estava outra vez desempregado e parti da Suíça para os EUA onde leccionei em casa os nossos 3 filhos, enquanto fazia biscates, principalmente como tradutor (sou fluente em russo, francês, inglês, espanhol e alemão), enquanto a minha esposa trabalhava como veterinária (agora, que os nossos filhos cresceram, a minha esposa e eu, trabalhamos juntos). Em 2007, decidi começar um blog sob anonimato, principalmente com o objectivo de ser uma psicoterapia para mim e chamei-lhe “Vineyard Saker” – um anagrama simples do meu nome completo, gerado por máquina : -)
Finalmente e apenas para ficar registado, quero esclarecer alguns pontos: Nunca fiz qualquer trabalho de serviços secretos para ninguém, embora fosse abordado pelos americanos, pelos russos e pelos suíços, precisamente para fazê-lo, mas declinei todos [tradução literal para compreensão da ironia do trocadilho = virei-os todos para baixo] (não eram, de modo algum, a minha chávena de chá). Se bem que a minha família materna pertença toda à nobreza russa, o meu ADN holandês é 100% proletário e sinto-me muito feliz com essa mistura. Para minha grande pena, não recebo nenhuma ajuda da Rússia – nem dinheiro, nem informação (* Amaria * ser pago como “agente de Putin”, mas VVP (Vladimir Vladimirovitch Putin) não fez nenhuma oferta, até ao momento]. Todas as minhas informações são 100% de “open source = fonte limpa”. A minha experiência anterior com dados secretos, faz-me perceber os assuntos que são altamente técnicos ou prioritários, mas, de modo algum, melhor do que informação de fonte limpa: 80% da boa informação está lá fora, a céu aberto, é apenas uma questão de colocá-la correctamente, em simultâneo.
Recebo uma pequena ajuda de doações do blog, a conta gotas, mas nada voltuoso e, de qualquer maneira, apenas 2 doadores privados (obrigado, rapaziada!!) fornecem a maior parte dela. Se o meu grande objectivo fosse ganhar dinheiro, então asseguro-vos que tive oportunidades muito melhores. No futuro imediato, o meu objectivo principal é (finalmente) escrever a minha tese para o grau de pós-graduação em teologia patrística, na qual estou a trabalhar, de momento e para pôr de lado algum dinheiro para visitar a Rússia novamente (o que não faço desde 1996!). Ah, e se vocês ainda se questionam, não, não sou muçulmano nem consto na folha de pagamentos de nenhum muçulmano (ou de quaisquer outros).
Sou portador “orgulhoso de um cartão de sócio ” da FSF, FEP e NRA (sim, gosto das minhas liberdades). O Political Compass define-me como um “Libertário da Esquerda”:
Pessoalmente, rejeito o sistema de referência Esquerda-Direita e considero-me um ortodoxo “Monárquico do Povo” (народный монархист) na tradição de Lev Tikhomirov, Fyodor Dostoievsky, Ivan Solonevich e Ivan Ilyin. Assim como o russo filósofo Berdaev e em vez de olhar para a esquerda ou para a direita, prefiro olhar * para cima *!
Também me reconheço na noção de “Esquerda do trabalho, direita de valores” (Gauche du travail, droite des valeurs) de Alain Soral. Os meus conceitos de economia são: o capitalismo laissez-faire a nível da pequena empresa familiar, o socialismo a nível empresarial e o comunismo para os sectores estratégicos, a nível da economia nacional.
Os meus autores favoritos são: Alexander Solzhenitsyn e Sergei Lukiianenko.
Toco guitarra acústica de jazz e os meus guitarristas favoritos são Philip Catherine, John McLaughlin, Vicente Amigo e Angelo Debarre. Os meus compositores favoritos são J.S. Bach, Astor Piazzolla e Roger Waters.
Tenho mais de 40 anos de experiência de mergulho livre (que começou muito antes de o filme Big Blue que tornou esse estilo de vida popular), mas agora, aos 52 anos, pratico sobretudo remo em caiaque e faço caminhadas no deserto da Florida.
Agora que escrevi tudo que está mencionado acima, ainda penso que a maior parte é irrelevante. Julguem-me não pelo o que digo sobre mim, mas pelo meu blog, ou melhor, pelo meu livro. Tudo o que foi mencionado acima é verdade, mas estas são as minhas * circunstâncias externas da vida * e não dizem muito sobre quem realmente * sou *. Os meus escritos, sim. Estudem-nos (se estiverem propensos a fazê-lo) e saberão quem sou.
The Saker
(Picture of the book)
The Essential Saker: from the trenches of the emerging multipolar world
$27.95
Tradução de Maria Luísa de Vasconcellos
Email: luisavasconcellos2012@gmail.com
I take this opportunity to pay my tribute to The Saker,
“pouring out a little bit of the Portuguese soul to him” through music.
I am sure he will appreciate and understand it fully.
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