Paul Craig Roberts gosta de Genocídio?

Dmitry Orlov* — 22 de abril de 2022 — [Traduzido e publicado com a permissão do autor]

*Dmitry Orlov publica seus artigos regularmente em https://boosty.to/cluborlov

Ou talvez ele, como Bundeskanzler Olaf Scholz, neto de Fritz von Scholz, tenente-general da SS que supervisionou o massacre de judeus na Polônia e na Ucrânia, pense que o genocídio é uma piada? Exploraremos…

Um leitor me pediu para comentar um post recente de Roberts intitulado “O Kremlin perdeu a oportunidade de acabar com as provocações da Rússia que estão levando o mundo à guerra nuclear”. E então eu dei uma olhada no texto. A princípio, fiquei com raiva, mas apenas por um momento, porque não há possibilidade de seus rabiscos produzirem dano real: seu conselho não solicitado ao “Kremlin” passará despercebido, e, portanto, será ignorado. Logo, isso me deixou triste. Eu costumava pensar muito bem em Roberts, mas agora ele é apenas mais um velho confuso que, como nosso amigo Brendan, perdeu uma oportunidade perfeita de desligar e desaparecer. Veja bem, estou tentando ser gentil e educado aqui.

Roberts achou por bem escrever que “se a Rússia tivesse atingido a Ucrânia com um devastador ataque convencional, com tudo incluído, a guerra teria terminado antes de começar” e, depois de algumas reflexões adicionais, que “o fracasso da Rússia em impressionar o Ocidente com um exercício esmagador de força militar na Ucrânia significa que outro passo foi dado em direção ao armageddon nuclear”. E então ele divaga que “a incapacidade do Kremlin de ser proativo e a falta de vontade de limpar a quinta-coluna de Washington dos círculos dominantes da Rússia serão as marcas da derrota russa”.

Sério? Não, na verdade, não.

Não posso fazer suposições sobre o que você ou Roberts sabem, ou não, sobre a Ucrânia ou “o Kremlin”, então vou simplesmente afirmar o óbvio.

Não há diferença facilmente discernível entre russos e ucranianos: mesma cultura, idioma, religião e história. Como estado, a República Socialista Soviética da Ucrânia é um estado falido; como território, faz parte da Rússia. Portanto, um ataque total à Ucrânia seria essencialmente um ataque à própria Rússia. Aparentemente, Roberts acha que os russos deveriam matar milhões de outros russos para impressionar o Ocidente. Isso é muito fofo, você sabe, de uma forma genocida e maníaca, mas completamente impossível.

A complexidade da Operação Especial Russa na Ucrânia tinha a ver com a triagem da população civil (que precisava ser evacuada) e dos militares ucranianos regulares (que precisavam ter a chance de se render pacificamente) dos batalhões nazistas (que precisavam serem mortos em batalha ou capturados, condenados por um tribunal e fuzilados). Isso não é algo que pode ser feito rapidamente.

Existem outras razões menos importantes, mas ainda muito significativas, para ir devagar:

1. Há um grupo bastante grande de ucranianos que queriam que a Ucrânia fosse parte da Europa, não parte da Rússia. Estes estão agora partindo do território ucraniano, principalmente para a Polônia, e isso, do ponto de vista russo, é uma coisa maravilhosa porque a Ucrânia não é a Europa, é a Rússia, e aqueles que acreditam que é a Europa ou querem que seja a Europa deveriam ter a chance de ir para a Europa dos seus sonhos e ficar lá para sempre, ajudando a terrível situação demográfica geral da Europa e a escassez específica de pessoas brancas. Por esta razão, tem sido importante manter a fronteira ocidental da Ucrânia aberta à saída de migrantes, mesmo que isso permita a entrada de armas e mercenários (para serem explodidos pelos russos).

2. A disposição dos europeus para absorver milhões de migrantes ucranianos, enquanto eles se recusam a aceitar números semelhantes de migrantes do Oriente Médio ou do Norte da África, exemplifica seu racismo essencial. Do jeito que está, dois terços do mundo são neutros ou apoiam a Rússia em seu esforço para reabilitar a Ucrânia; à medida que a mensagem de que a UE e a OTAN são essencialmente organizações de supremacia branca se espalha pelo mundo, mais e mais países passarão de neutros a solidários sem que a Rússia tenha que levantar um dedo para convencê-los. Deste ponto de vista, é realmente útil que muitos ucranianos gostem de desenhar suásticas em monumentos e gritar slogans nazistas como “Slava Ukraini” (da safra de colaboradores nazistas da Segunda Guerra Mundial) e “Ukraina ponad use” (a versão ucraniana de “Ucrânia über alles”.

3. A Rússia tem um grande e próspero futuro como país rico, bem-educado, civilizado, vasto e rico em recursos, mas esse futuro não tem nada a ver com a Europa ou o resto do Ocidente, que vão entrar em colapso. O fato de que a Rússia está fortemente integrada ao Ocidente desde que Pedro, o Grande mudou a capital para São Petersburgo, complicou sua transição para longe do Ocidente e sua virada para o leste. Sanções ocidentais, russofobia desenfreada e a aplicação da cultura do cancelamento à cultura russa tornaram essa transição inevitável aos olhos da maioria dos russos, mas o processo leva tempo. Não seria útil se as tensões com o Ocidente diminuíssem prematuramente ou se as sanções anti-russas fossem removidas antes de se tornarem completamente irrelevantes. Além disso, a relutância do Ocidente em comprar energia, metais, fertilizantes e outros itens essenciais russos, acelera seu cronograma de colapso e isso, para a Rússia, também é positivo.

4. Imediatamente após a Rússia iniciar sua Operação Especial na Ucrânia, muitos dos restantes quinta-colunistas da Rússia partiram para outras terras. Eles já não tinham impacto na política russa, mas ainda exerciam alguma influência na cultura e na educação, e sua partida foi muito bem-vinda. Dado o apoio público absolutamente esmagador à Operação Especial na Rússia, os liberais que se manifestaram contra ela se eximiram da vida pública russa, abrindo espaço para novos talentos e sangue novo. Este também é um processo que precisa seguir seu curso e não deve ser apressado.

5. A Operação Especial permitiu à Rússia demonstrar a esmagadora superioridade de suas forças armadas em relação à OTAN. Todas as armas que o Ocidente conseguiu infiltrar na Ucrânia estão sendo destruídas por ataques de foguetes, ou sendo acumuladas em estoques, após serem abandonadas por tropas ucranianas em retirada ou rendição. Nenhum dos obsoletos Stingers, Javelins ou outro lixo militar fez muita diferença. Há muito pouco que o Ocidente possa fazer para prejudicar o progresso cuidadoso e comedido da Rússia na Ucrânia. Mais uma vez, o tempo está do lado da Rússia: levará mais alguns meses para que ela mostre ao Ocidente que todos aqueles bilhões gastos em ajuda à Ucrânia caíram em um buraco negro sem nada para mostrar.

6. Finalmente, a Rússia, além de cuidar da situação na (antiga) Ucrânia, ainda precisa completar a tarefa de desmantelar a OTAN. Isso exigirá algum tipo de pequeno projeto de demonstração: assumir o controle de um pequeno e insignificante membro da OTAN e assistir todos os outros membros da OTAN fugirem em vez de entrar em guerra contra a Rússia por causa disso. O mito da OTAN como uma organização defensiva (em oposição a uma ofensiva) seria dissipado e a OTAN deixaria de existir. O país da demonstração poderia ser a Lituânia, por exemplo: Pedro, o Grande, comprou os países bálticos da Suécia por 1.000 moedas de prata no Tratado de Nystad em 10 de setembro de 1721, então é território russo. Ao contrário da Ucrânia, que é enorme, a Lituânia é pequena e toda a campanha terminaria em cerca de uma semana. Mas se a Finlândia ou a Suécia quiserem se voluntariar para o papel de vítima exemplar ao tentar ingressar na OTAN, tudo bem também. A segurança da Finlândia é garantida por seu compromisso com a neutralidade, com base no qual a Rússia (desde a época URSS) removeu sua base militar do solo finlandês. Se a Finlândia se mover para renegar esse tratado, perderá sua segurança.

Roberts parece acreditar que a recusa da Rússia em destruir a Ucrânia com força esmagadora torna a guerra nuclear mais provável porque “dá a Washington o controle da explicação”. A posição superior da Rússia em relação a qualquer provocação nuclear potencial é assunto para outro artigo, mas garanto que não tem absolutamente nada a ver com “o controle de Washington da explicação” porque como diabos Washington explicaria seu desejo de cometer suicídio nacional  por causa da Ucrânia? A tese de que “o fracasso da Rússia em destruir rapidamente a Ucrânia aumenta a probabilidade de uma guerra nuclear” é… estou esperando uma palavra aqui… estúpida.

Traduzido por Quantum Bird.

Fonte: https://boosty.to/cluborlov/posts/be4fbc8a-51ba-47ac-8cb5-c964fa80d7d3?share=post_link

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